Luto - entre o amor e a dor

Os dias foram passando-se depressa. Faltava apenas uma semana pra o grande dia, o dia do casamento. O que aumentara ainda mais a angústia de Matilda:

- Euvira, me sinto mal.

- O que sente sinhazinha?

- Ânsia, mal estar...

- Oia sinhá, isso só acontece, quando...Não, isso não pode ser.

Matilda, que não contara a ninguém o acontecido, confessou tudo a Euvira:

- Euvira, eu me entreguei ao Doutor César.

- Meu Deus sinhá! Mas me diga, a suas regras já vieram?

- Não, e fazem muitos dias.

- Ai sinhá, acho milhor, nois conversa com a sinhá Margarida, sua mãe. Ela há de saber o que fazer.

Já na alcova de Dona Margarida:

- Mãe, estou muito aflita...

- É sinhá nois tamu em desespero!

- Eu sei... Matilda, vós esperas em seu ventre uma criança. Um bebê filho do Doutor César.

- Mas como à senhora sabe?

- Ora minha filha, eu percebi as mudanças em sua postura. Além disso, já reparei a muito tempo seus olhares para o doutor, e os deles para ti.

- Mamãe, como eu o amo!

- Filha, o amor é dom mais precioso que existe!

- Mais e agora, o que farei? Espero um filho de meu amado, e estou quase as vésperas de me casar com outro.

- O que nois faz sinhã? O coroner a de obriga-la a se casar com o sinhozinho Joaquim.

- Calma meninas resolveremos tudo. O que não podemos permitir, é que ti se cases com Joaquim, que é um crápula. Seu pai não pode obriga-la a casar-se. Não pode fazer o mesmo que seu avô, meu pai, fez comigo obrigando-me a me casar com Germano. Mas o mesmo, não acontecerá contigo minha menina, não enquanto eu for viva. Vós ficareis com seu amor, nem que para isso vós tenhais de fugir.

Matilda, decidiu contar tudo ao Doutor . Mas como César estava viajando, (seus serviços foram solicitados em uma cidade vizinha, em caráter imediato, um grande fazendeiro adoecera gravemente, diante disso seria impossível a recusa do rapaz) ela com ajuda de Euvira, mandou que o mensageiro o chamasse depressa à fazenda.

Dona Margarida, vendo a angústia de sua filha decidiu intervir com seu marido, a fim de impedir o casamento:

- Germano, eu não admito que vós caseis nossa filha com esse crápula! Enfrentou seu marido.

- Não se meta, mulher! Este assunto não é de sua alçada!

- Vós sempre me maltratastes, sempre a mandar-me calar a boca. Vós jamais me respeitastes, me traia com aquelas negrinhas. E tudo isso, por conta de um casamento arranjado. Não quero esse sofrimento para minha filha.

- Nosso casamento, foi um excelente negocio para nossos pais, assim como será o de nossa filha.

Dona Margarida, passou a sentir-se mau.

: - Germano...

- O que foi, minha querida?

- Sinto-me mau. Eu vou morrer...

- Não! Por favor, não diga isso.

- Chame nossa filha, rápido, por favor.

O Coronel, desesperado, chamou Matilda.

- Mamãe, a senhora não pode morrer. Falou ela aos prantos.

- Escute minha filha...Quero dizer que a amo muito, sinto tê-la desapontado, e não ter conseguido dar fim a esse casamento absurdo...

- Eu a amo, minha mãe.

- Deixe-me falar...Quero que seja feliz, jamais se case com Joaquim. Fuja com o Doutor, para seu bem e o bem de seu filho.

As duas se abraçaram, depois Matilda retirou-se inconsolável. Logo após o Coronel Germano, entrou na alcova, tomou fôlego e disse:

- Minha querida, a única coisa que posso pedir é que me perdoe por todo mal que lhe causei.

- Com tudo germano, eu cheguei a sentir muito carinho por ti, mas jamais consegui ama-lo.

- Eu sei querida, eu mereço isso. Pode parecer-lhe que não, mais eu a amo muito, desde o primeiro momento em que a vi. Mas minhas atitudes, foram as piores possíveis, e isso não deixou transparecer o meu amor por ti.

- Como eu queria acreditar, no seu amor, mais não sei se os brutos também amam.

Ele a beijou, como nunca, a tinha beijado antes. Como se quisesse apagar tudo e recomeçar.

:- Eu te amo, querida.

Ela o beijou no rosto, e morreu. Ele chorou debruçado nela, como nunca antes haviam o visto chorar, por isso todos ficaram admirados.

Foi um dia muito triste, na fazenda do Coronel Germano. Matilda chorava inconsolavelmente. Diante da situação, o Coronel Sebastião se manifestou:

-Coronel, sei que não é hora de falarmos nisso, mais é necessário. Faltam poucos dias para o casamento de nossos filhos. Não seria melhor adiarmos, devido a essa grande tragédia?

O Coronel, já desconfiado, de sua filha e o Doutor respondeu:

- De maneira nenhuma, Coronel. Esse casamento tem de acontecer o mais rápido possível.

Ouvindo isso Matilda e Euvira, subiram para a alcova indignadas.

:- É coronel Germano, mesmo tristonha, a minha florzinha, não perde esse gênio.

- Com o casamento, ti dominaras minha filha, fique certo disto.

- Eu espero por isso, senhor meu sogro.

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