Ele só precisa de uma nova chance de vida. Ela só precisa de alguém que a ame. Quando Alex é destinado a se tornar professor em um abrigo, encontra Jenifer, uma pequena menina desprezada e abandonada. Por mais que ele quer a adotar, há um passado em ambos que impede que isso aconteça. Uma surpreendente e emocionante história. O amor na mais pura forma.
Ler mais– Mas... Doutor, você tem ideia do que está me pedindo? Logo para mim?
Um homem alto, magro, com óculos e vestido com jaleco branco, sentado de frente para ele respondeu bem seguro:
– Essa é a única opção que consegui para você. Depois de tudo o que aconteceu, não acho que você tenha muitas escolhas, meu amigo.
– Mas... depois de tudo... É muito difícil.
– Eu sei, Alex. Entretanto, você sabe qual é a outra opção.
Alex coçou a cabeça. Estava vestindo uma calça preta, camisa azul e um casaco cinza. Era quase final da tarde e o frio insistia em chegar.
– Não sei se seria tão ruim assim.
– Alex, não quero entrar de novo nessa questão. Você sabe que seria ruim sim.
– É o que me resta...
– Restava. Consegui uma alternativa, como lhe prometi.
Mesmo sendo um homem alto, sentia-se pequenininho naquele momento. Sabia que o doutor tinha razão. Aquela era a chance de sua vida. Se a perdesse, não teria um destino muito agradável o esperando.
Por outro lado, não sabia se queria uma chance. As memórias recentes o atormentavam.
Em sua mente, percorreram lembranças de quando era garoto e idealizava chegar exatamente na vaga que estavam lhe concedendo. Era um sonho antigo. Porém, agora, depois de todos os acontecimentos recentes em sua vida, não se sentia mais capacitado para aquele fim. Não era questão de formação. Era questão de quem ele se tornara e tudo que fizera recentemente.
– Doutor, eu...
– Pense bem nisso tudo. Olhe como um todo. É a chance de voltar a fazer a coisa certa.
Olhou para um espelho que ficava na parede da direita. Viu aquele rosto abatido, envelhecido pela vida.
“Quem é esse que me tornei? Onde foi que me perdi?”
Não se sentia incapacitado. Sabia que poderia realizar tudo com muita segurança. Aliás, era uma de suas especialidades. Sentia apenas que assumir a sagrada profissão de educador naquele exato momento da sua vida não era certo. E o doutor sabia disso também.
– Alex, você sabe que de todos que tenho, é o único que posso confiar em realizar um trabalho certo e confiável. Além disso, com a seriedade de todas as coisas, essa pode ser mais do que uma chance para você. Tem ideia do que pode lhe acontecer?
– Não é esse somente o problema.
– Então qual é?
Alex tentou mais uma vez:
– Doutor, o que será se eles descobrirem tudo que aconteceu?
O doutor levantou e respirou fundo:
– Alex, estou fazendo o possível para que essa história continue em sigilo. Pretendo que seja assim até que eu consiga convencê-los de que você está bem e não precisa ser monitorado mais. Por mais que uma parte foi descoberta, nem tudo eles sabem. Os principais detalhes estão entre nós dois. Mais do que isso. Essa é a chance de provar que eles estão errados.
– E se eles estiverem certos?
O doutor respirou, levantou os óculos e coçou os olhos que ardiam. Estava há dias sem dormir, analisando se aquela era realmente a melhor opção.
– Confie em mim, Alex. Sei o que estou falando.
Alex levantou. Olhou para o doutor, aquele que era o único a quem confiara todos os seus segredos, manias, erros e acertos. Era, durante todo esse tempo, o único amigo.
Por mais que não achasse correto, sabia que não poderia ignorar tudo que seu amigo fizera. Não era sua obrigação, mas tomara difíceis para que Alex pudesse rever a vida e seguir em frente.
Sim, deveria aceitar por todo tempo investido, por tudo que lhe foi dado, pela confiança em meio ao caos.
– Doutor, se você confia em mim, acho que devo fazer isso. Afinal, você é o único em quem confio.
O doutor não escondeu um sorriso:
– Alex, vamos acertar tudo. Primeiro, veja como uma oportunidade de recomeçar. Você vai deixar tudo e começar uma nova vida. Além disso, duas vezes na semana no mínimo preciso de um encontro pela internet com você para que me passe um relatório de tudo que está acontecendo em sua vida naquele lugar. Mais do que isso, preciso que você observe o funcionamento daquele abrigo e a conduta de todos que ali trabalham. Recebi recentes denúncias de problemas internos, e quero que descubra tudo o que puder para mim. Lembre-se. Você vai atuar como professor. Só que entre nós, mais do que isso. Vai descobrir o que acontece lá.
Os dois se abraçaram. Alex sabia que demoraria a se encontrar com seu amigo pessoalmente de novo.
Era o momento da virada. Deixaria para trás sua vida, seus problemas e recomeçaria tudo. Na verdade, era o que precisava naquele momento. Sabia que o doutor tinha razão. Ali, estava se destruindo.
Uma semana se passou desde aquele encontro. Alex entrou em um ônibus de viagem. Passaria cinco horas e meia ali para chegar a uma cidade no interior, onde assumiria a vaga como professor de informática em um abrigo de crianças órfãs.
Sabia que realizar aquele trabalho social poderia trazer nova vida a ele. Esperava assim. Não aguentaria mais problemas como o que recentemente enfrentou.
Por outro lado, sabia que fora enviado para este cargo por algum motivo especial. “Algo está acontecendo lá e quero que você descubra”. As palavras do doutor ecoavam em sua mente. Se por um lado iria recomeçar, por outro, temia o que poderia encontrar.
Olhou para trás pela última vez e disse baixinho:
– Adeus, para tudo que vivi aqui. Não levo comigo nem mesmo as recordações.
O ônibus percorria um caminho por meio a árvores e matas. Alex escutava uma música relaxante que dizia:
“Que uma estrela do anoitecer
Brilhe sobre você
Que quando a escuridão cair
Seu coração seja verdadeiro.”
Uma lágrima solitária percorreu seu rosto e, pela primeira vez em um ano, deixou um sorriso tímido brotar em seus lábios.
Adormeceu, com a certeza que seu novo destino estava traçado.
Antes de ir embora para a cidade onde ficava o abrigo, Alex resolveu ficar uns dias e solucionar umas pendências.Primeiro, foi na sua antiga casa com Jenifer. Lá estava ela, a casa com um quintal. Lágrimas desciam mesmo antes de entrar.– Foi aqui, Jenifer, que eu, minha esposa e minha filha fomos muito felizes. Ela brincava no quintal e nós trabalhávamos dentro de casa.Entraram. Uma mistura de nostalgia com tristeza invadiu Alex. Olhou cada canto da casa, lembrando do que passara ali. Foi a uma escrivaninha, pegou uma pasta com um monte de papéis e saiu com a menina.Encontraram com o doutor, que estava ali perto.Alex dirigiu até o cemitério com flores no carro. Deixou Jenifer e o doutor dentro e seguiu sozinho, com as flores nas mãos. Caminhou, lentamente, até chegar na lápide onde sua esposa e sua filha foram enterradas.Chorou. Lágri
Estela e João foram levados para a delegacia mais próxima. Lá, foram colocados em celas separadas. Seriam ouvidos assim que o Capitão Silva chegasse, pois ele fazia questão de escutar os dois.A chegada do capitão se deu no final da tarde devido a tudo que resolvera na cidade na parte da manhã.O primeiro a ser ouvido foi João. O policial fez uma única pergunta:– Qual é o esquema, João?João olhou seriamente para o policial e respondeu de maneira fria:– O esquema é ganhar dinheiro. Ou você acha que a gente pega essas crianças para cuidar? Sabe o trabalho que é até entregarmos para o meu chefe?O policial foi incisivo:– Quem é o seu chefe?João riu, debochando do policial:– Desculpe, capitão. Eu não vou lhe entregar o homem que me ajudou a vida inteir
Amanheceu. Estela e João entraram no carro. Era o dia que combinaram com Marcelo para pegarem a menina. Estela carregava uma pequena caixa. Dentro dela, estava o vestido laranja e branca:– João, no dia em que jogaram fora, ainda bem que você conseguiu recuperar o vestido. Precisamos manter a tradição de entregar a menina com o vestido. É assim que eles sabem do que se trata e que abrem as portas para nós. Não quero dar explicações para aqueles seguranças, vamos levar a menina com o vestido.Tudo pronto. O carro começou a andar em direção a casa de Marcelo. Ali, pegariam a menina e levariam para seu chefe.Estela lembrava de várias coisas naquele dia. Abriu a caixa e olhou para o vestido.A mulher ganhara o vestido vinte anos antes. Foi o último presente que o seu pai lhe deu. Colocou nela e, depois, por conta
Alex sangrava muito. Segurava o pano para tentar estancar o sangue, mas parecia inútil. Capitão Silva observava o rapaz. Estava também preocupado com Marcelo. O homem se mantinha desacordado depois da surra que levara de Alex. Não que não merecesse. A questão era que Capitão Silva sabia que ele poderia ser uma testemunha importante no caso da menina que estava investigando com o doutor.Jenifer estava inconsolável. Queria fazer alguma coisa. Ela se sentia inútil. Era como se seu mundo estivesse caindo.Duas ambulâncias chegaram ao mesmo tempo. Os paramédicos de uma delas foram diretos atender Marcelo, caído e quase morto. Outros dois viram Alex. Ele ainda sangrava muito e parecia que a bala estava alojada.Alex estava um pouco zonzo. Escutava os médicos falando. Não tinha forças para acordar. Sonhou. Sonhou com sua filha falecida que mais uma vez sorria para e
Alex desmaiou. Lembranças vieram na sua mente. Lembranças de outra época.Dois anos antes dos acontecimentos com Jenifer, levava uma vida tranquila. Era casado com uma mulher morena e alta e tinha uma filha. Sua filha era o motivo de sua felicidade. Aproveitava cada momento dela e procurava estar sempre presente.Ele trabalhava em uma grande firma do ramo de informática. Era um técnico respeitado e uma pessoa de alta confiança da empresa. Todos gostavam de Alex. Sempre sorridente, mostrava fotos da filha para seus amigos todos os dias.Sua mulher trabalhava em casa, com vendas online de joias. Ela era a responsável pelas vendas, enquanto outros entregavam os produtos.Moravam em uma casa simples, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Tinham um pequeno quintal onde a menina brincava sempre. A casa ficava próximo ao centro da cidade. Era uma área considerada tranquila.
Alex voltara a ter insônia. Aquela fora a pior de suas noites desde que se mudara para a cidadezinha. A menina não estava ali com ele. Era ela que lhe trazia alegrias. Era ela que lhe dava um motivo para viver de novo.Ao ver Jenifer entrar no carro e dizer “eu te amo”, um antigo sentimento, uma lembrança dolorosa, talvez a pior de todas, voltou à sua mente. Sua filha, em seus braços, olhando para ele e dizendo: “papai, eu te amo”, e fechando os olhos, sem vida. Ver Jenifer entrar naquele carro lhe trouxe de volta aquele sentimento, aquela sensação de que não era capaz de salvar ninguém. Sentia-se um lixo, um inútil. Fora justamente este sentimento, este acontecimento, que motivara Alex a fazer tudo que fez depois.Antes de levantar do sofá, seu celular tocou, indicando que recebera uma mensagem. Pegou e abriu. Era uma mensagem de Jenifer para ele:“Estou be
Último capítulo