Camila se perguntava se algum dia conheceria de fato a amiga. Quase três anos de convivência e Alex ainda era um baú trancado a sete chaves — e naquela manhã só reforçava essa impressão. Bastou vê-la com a mãe para sentir o desconforto escorrer pela pele da ruiva.
Sempre imaginara Ângela como uma senhora simples, reservada, vivendo escondida numa fazenda. Mas a figura que surgira diante dela não se encaixava nesse retrato. Cabelos ruivos bem cuidados em um corte chique de socialite, sobretudo caramelo com pele de carneiro virado para dentro, pulsos pesados de pulseiras douradas, pescoço carregado de correntes, brincos circulares do tamanho de moedas antigas. Uma penteadeira de viúva ambulante. E, para completar, óculos escuros empoleirados no topo da cabeça, embora o dia estivesse nublado. Uma vilã de novela das oito.
Camila entendeu de imediato a mensagem que Alex lhe passara no olhar: “conversamos depois”. Contra a própria vontade, acatou.
Minutos mais tarde, viu a amiga sair do ele