Parte 24...
Domenico
— Que porra você tem hoje, Domenico? É a terceira vez que eu faço a mesma pergunta.
Eu levantei o olhar do notebook, para Carlo, de pé e me encarando com a testa franzida, esperando minha resposta.
— Eu não tenho nada demais - gesticulei — Você que está agitado demais.
— Eu não, estou no meu normal, mas não posso dizer o mesmo sobre você. Parece
Parte 25...DomenicoSaí do prédio sem me importar com os olhares dos funcionários, que provavelmente notaram minha expressão carregada de frustração. O calor de Palermo me atingiu assim que pus os pés na rua, mas nada se comparava ao incêndio dentro de mim.Eu precisava sair dali.Precisa de ar.Peguei o carro e dirigi sem pensar, as mãos apertadas no volante, os nós dos dedos quase bran
Parte 26... Aurora Eu não estava me sentindo bem emocionalmente, mas precisava ser forte para colocar meu plano em ação. Queria sair de casa, mas até isso estou sem ânimo. Achei melhor passar a maior parte do tempo em meu quarto, até que finalmente o sono chegou pra mim.Já de manhã, acordei sufocada. A casa parecia menor. O ar, pesado. Meu nome estava sendo negociado de novo e dessa vez, com data marcada. Sem meu consentimento.Eu realmente já não tinha mais como continuar morando com meus pais. O motivo maior sempre foi minha mãe, mas tenho que aceitar. Ela não vai ficar contra meu pai. De modo algum.Pensei em Diana. Peguei o telefone com os dedos trêmulos. Diana atendeu cansada, com o som abafado do bebê ao fundo.— Aurora? - a voz dela vinha baixa, quase um sussurro. — O que houve pra você me ligar tão cedo assim?— Não consegui dormir muito bem - suspirei — Está tudo bem com o Giancarlo?— Está sim, é ainda a questão dos dentes. Mas e você? Está tudo bem? Por que não dormiu?
Parte 27...Aurora Desci devagar as escadas de mármore frio, sentindo cada batida do meu coração. Fui direto para a sala de refeições e ele estava lá, como sempre. Minha mão como peça decorativa ao lado dele.— Pai. Mãe. Preciso falar com vocês.Ele não levantou os olhos.— Se for para reclamar de novo do casamento, pode voltar para seu quarto... Já está tudo acertado. O rapaz vem em quatro dias. Vai assinar os papéis e te levar como deve ser. - deu um pequeno sorriso — Finalmente você pode sair de casa - sacudiu o jornal ao virar a página — Até hoje eu não entendi porque ficou. Com certeza não tem amor próprio.“Segura a língua, não deixe que ele estrague seu plano”.— Não é reclamação... Ao contrário... Eu vou sair por uns dias. - respondi firme. — Sozinha. Quero um tempo pra mim. Um retiro. Preciso pensar. Limpar a cabeça... - aí ele ergueu os olhos para mim.— Pensar no quê? Em como continuar se fazendo de vítima depois de ser largada? Eu tenho um acordo, você não vai me desobede
Parte 28...AuroraTive uma conversa com minha mãe, tentando não ser emotiva para não dar na cara. Acho que meu estoque de desculpas para ela continuar casada já se esgotou. Tanto faz se eu ficar aqui ou não, ela não vai mudar. Não por mim.Separei as roupas para levar, mas não muita coisa para não dar na cara que eu não vou voltar. Até já imagino a explosão que vai ser, quando meu pai entender que não cumprir o acordo que ele fez. E nem ligo pra isso. Ele que se ferre e dê o jeito que quiser para consertar.
Parte 29...DomenicoDirigir sempre foi uma boa desculpa pra me afastar do mundo. Mas hoje, era só uma armadilha. Nem isso estava me aliviando. Porque quanto mais o carro andava, mais eu lembrava dela. E quanto mais eu lembrava, mais tudo doía.A porra do banco do passageiro parecia vazio demais. Aurora costumava se enroscar ali de um jeito que parecia que o carro era dela. Puxava os cadarços dos meus tênis quando eu parava no sinal pra me encher o saco, usava meu porta - luvas pa
Parte 30...AuroraEle soltou um som que parecia meio riso, meio suspiro. Desceu da escada.— Por acaso a sen... Você, brigou com seus pais?— Mais ou menos - franzi o nariz — Eu briguei com meu pai e saí de casa. Agora vou morar aqui em definitivo.Ele ergueu as sobrancelhas, curioso.— Mas a reforma não seria para passar férias ou um tempo de feriado?— Não - eu sorri — Minha ideia sempre foi a de vir morar aqui, Samuel.— Desculpe, entendi que seria apenas por um tempo.— Não tem problema. - suspirei — Eu iria esperar até a reforma acabar, mas infelizmente aconteceram coisas que me fizeram correr... Bem, está tudo quase pronto, falta pouca coisa, então não vai ser difícil de morar aqui.— Alma está preparando café. Quer comer agora?— Quero sim, mas eu vou até lá. Obrigada.Caminhei até a cozinha. Alma estava com o avental amassado, mexendo numa panela e resmungando sozinha.— Bom dia! - falei, entrando.— Bom dia nada, menina. Você vai me dar trabalho. Essa casa não está pronta pr
Parte 31...Teodoro— Como assim, ela não apareceu no retiro? - questionei o meu capanga — Já se passaram os quatro dias e Aurora não voltou - respirei fundo sentindo minha irritação me tomar.— Mas foi isso o que informaram no endereço que ela deixou, senhor. A sua filha nunca esteve no retiro - ele fez uma cara de dúvida — Ela nem mesmo estava inscrita.— Aquela cadela - bati a mão com força na mesa — Ela mentiu para me enganar e se aproveitou disso... Ela fugiu! - me virei de cara fechada para Marlene — Você sabia disso?— N-não... De modo algum Teodoro - ela se encolheu na cadeira — Eu pensava que ela tinha aceitado o que disse... Estava triste por ter terminado com Domenico... - gesticulou nervosa — Eu até fiquei feliz por ela finalmente aceitar o que você queria.— Cachorra! Puta! - derrubei todos os papéis que estavam em cima da mesa e peguei o peso, jogando contra a parede. O vidro se partiu em vários pequenos pedaços — Aquela vadia me enganou... Vini e Arturo já estão aqui. O
Parte 32...DomenicoO telefone vibrou no meu bolso. Número conhecido. Desgraçadamente conhecido. Respirei fundo antes de atender.— Domenico Barone - anunciei, já prevendo o inferno vindo do outro lado. Espero que não seja nada sobre Aurora e sim de trabalho.— Finalmente atendeu. Me diga que você sabia o que a peste da Aurora iria fazer e que sabe onde ela foi parar... Melhor... Me diga que essa vadia está com você - a voz de Teodoro veio carregada de veneno, cuspida com ódio.
Último capítulo