O vestido ainda estava ali.
Sobre a mesa, dobrado com uma precisão quase perturbadora, parecia ter vida própria. Não era apenas um pedaço de tecido — era um fragmento arrancado do passado e trazido para o presente como uma arma. A cor clara, antes símbolo de inocência, agora me feria como lâmina. O bordado delicado, feito à mão, que um dia minha mãe acariciou com orgulho, gritava lembranças que eu tentei enterrar tão fundo que esperava nunca mais encontrar.
Mas ali estava ele. Imaculado, intacto, como se o tempo tivesse respeitado sua missão: lembrar-me de quem eu fui… e de quem me fez sentir posse.
Ao lado, repousava o bilhete. Papel espesso, caligrafia elegante e inclinada, de um tipo que se escreve