O aroma do café recém-passado se espalhava pela cozinha ampla do apartamento de Natan. Ele se serviu com calma, ajeitando a xícara no pires com o mesmo cuidado de sempre.
O som do rádio, ao fundo, trazia notícias triviais da manhã da cidade: trânsito, economia, política. Nenhuma menção a ele, nenhum escândalo.
Natan sorriu de canto. O dinheiro tinha feito seu trabalho. O silêncio comprado da mídia era, para ele, a prova de que ainda estava no controle.
Agora, poderia voltar a andar pelas ruas como o empresário respeitado, o exemplo de sucesso que sempre acreditara ser.
Enquanto descia do carro em frente ao prédio da empresa, ajeitou o paletó, respirando fundo. Os sapatos ecoaram firmes no mármore da recepção, e por um instante, ele quase acreditou que a tormenta dos últimos dias havia passado.
Mas bastou atravessar os corredores para sentir algo estranho.
Os olhares que antes o seguiam com admiração agora se desviavam apressados. Telefonemas cessavam de repente, sussurros surgiam em c