O celular vibrou sobre o criado-mudo, arrancando Natan de um sono leve. Ele estendeu a mão, ainda de olhos semicerrados, e deslizou o dedo pela tela.
"O dossiê sobre Francine está pronto. Que horas podemos nos encontrar?" — a mensagem do investigador piscava na tela, seca, sem cumprimentos.
Natan passou a mão pelo rosto, afastando o torpor da madrugada. Sentou-se na cama, já sentindo o leve aperto no estômago que aquela frase carregava. Pegou o celular novamente e respondeu:
"Café Le Jardin, às 9h. É perto do meu escritório."
Encostou-se na cabeceira, encarando a tela por alguns segundos, como se ela pudesse antecipar o que viria a seguir.
O banho foi rápido, mas não suficiente para lavar a inquietação que já se instalara nele.
Cada movimento era mecânico: vestir a camisa, abotoar, ajustar o relógio no pulso, enquanto a mente rodava como um projetor descontrolado, criando e descartando hipóteses sobre o conteúdo daquele dossiê.
No caminho para o trabalho, o trânsito parecia mais lento