Afundou no sofá, segurando Noah com cautela.
— É só isso que você queria? Você só quer que alguém te segure?
Noah o olhou com aqueles olhos grandes e curiosos, sem entender nada, mas com uma expressão que falava mais do que mil palavras. Um olhar que implorava por um lar. Por segurança. Por alguém.
E pela primeira vez em muitos anos, Dominic De Santis se sentiu vulnerável.
Completamente exposto. Ele, que era conhecido por ser implacável, frio e calculista, agora estava sentado em seu sofá, com um bebê nos braços... e um nó na garganta.
Mas antes que pudesse sequer compreender a profundidade daquele instante, um som desagradável o arrancou de seus pensamentos.
Um estalo molhado. Aquele som inconfundível.
— Oh, Deus. Por favor, não… — sussurrou.
O cheiro veio logo depois.
Ele fez uma careta de nojo e afastou Noah do corpo.
— Sério isso? Você fez isso agora?
Dominic colocou o bebê no sofá, deitou-o com todo cuidado e desabotoou a roupinha. Abriu a fralda com hesitação. Ao ver o conteúdo, imediatamente a fechou de volta com expressão de pânico.
— Puta merda! Como isso é possível, garoto? — Resmungou, tentando afastar o cheiro com a mão.
Noah, como se zombasse da sua situação, abriu um sorriso inocente. Dominic estreitou os olhos.
— Você só pode estar brincando comigo...
Olhou em volta procurando uma fralda limpa. Nada. Nina havia dito que tinha a lista. Ele deveria ter passado para comprar as coisas. Mas não passou.
— Ótimo. Claro que eu ia esquecer da porra das fraldas.
Bufando, Dominic fez o que podia. Pegou uma toalha pequena da cozinha, limpou o bebê como pôde, fechou a roupinha de volta e o enrolou num cobertor leve. Colocou-o de volta na cadeirinha e se levantou, decidido.
— Parece que vamos ter que sair agora, campeão.
Desceu com a cadeirinha até o estacionamento e a colocou no banco de trás. Revirou os olhos ao lembrar do que Lucca dissera: “Sempre prenda bem a cadeirinha.”
Com paciência forçada, Dominic prendeu o assento como havia aprendido. Depois entrou no carro e ligou o GPS.
— Onde eu encontro uma loja de bebê aberta a essa hora? — Murmurou, digitando a busca.
Para sua sorte — ou azar — encontrou uma a vinte minutos de distância. Colocou o endereço e dirigiu, com Noah quieto no banco de trás. O carro cheirava vagamente a talco e desespero.
Ao chegar, estacionou em frente à loja, que parecia brilhante demais para aquela hora da noite. Pegou um carrinho de compras e colocou a cadeirinha com Noah dentro. Empurrou pelo corredor até encontrar as placas que indicavam produtos infantis.
O setor era um universo à parte. Fraldas de todos os tamanhos e marcas, lenços umedecidos, mamadeiras, roupas, brinquedos... tudo com cores suaves e personagens fofinhos. Um pesadelo para alguém como Dominic.
Ficou parado olhando as prateleiras, completamente perdido. “Fraldas RN, P, PP... absorção noturna, toque seco, hipoalergênicas... que merda é isso tudo?”
Seu celular tocou. Tirou do bolso e atendeu, afastando-se um pouco do carrinho.
— Fala. — disse de forma ríspida.
Enquanto falava, não percebeu a movimentação perto do carrinho. Uma mulher, jovem, morena, com um bebê no colo, sorriu ao ver Noah. Tocou na cadeirinha e o bebê, como se reconhecesse a simpatia, abriu um sorriso.
Dominic ainda discutia algo ao telefone, impaciente.
— Sim, sim, eu vou resolver isso amanhã. Não, não quero saber da reunião das oito. Cancelem. Eu estou ocupado. — Ele desligou e virou-se de volta para o carrinho... e parou por um segundo.
A mulher ainda estava ali, sorrindo para Noah.
— Que bebê mais lindo — comentou ela, sem notar o olhar fulminante de Dominic.
— Obrigado — respondeu seco.
— Ele é seu?
Dominic hesitou. Quis responder "não", quis dizer que era só uma situação temporária. Mas as palavras morreram na garganta.
— É. — disse por fim, sem encará-la.
A mulher assentiu com um sorriso compreensivo e se afastou.
Dominic soltou um suspiro, pegou três pacotes de fraldas aleatórias, alguns lenços umedecidos e mamadeiras. Passou tudo no caixa e saiu rapidamente da loja, como se estivesse fugindo de um pesadelo.
De volta ao carro, olhou para Noah, que dormia serenamente na cadeirinha.
— Sabe, garotão... você está acabando com minha reputação. E com minha paciência. — resmungou, mas com um meio sorriso no canto dos lábios.
Ligou o carro e seguiu de volta para casa, sem saber que aquela noite havia marcado o início de algo muito maior do que poderia imaginar.
Algo que ele não podia mais fugir.