5. Um encontro inesperado.

O som do despertador ecoou pelo apartamento silencioso, mas Dominic já estava acordado. A noite tinha sido um verdadeiro inferno. O bebê acordava de hora em hora, chorando por motivos que ele não conseguia decifrar. Era fome? Gases? Vontade de colo? Não importava. Dominic sentia como se tivesse atravessado um furacão em miniatura, e agora, com olheiras profundas sob os olhos e uma paciência extremamente curta, encarava o berço improvisado na sala.

Noah, ao contrário, dormia feito um anjinho.

— Claro que agora você está dormindo — murmurou Dominic, passando a mão pelos cabelos escuros e desgrenhados. — Onde estava essa paz toda às três da manhã?

O apartamento estava uma bagunça. Mamadeiras sujas na pia, toalhinhas espalhadas pelo sofá, uma fralda suja esquecida em cima da mesinha de centro — coisa que ele prometeu mentalmente nunca mais fazer. Mas o que mais o incomodava não era a desordem ao redor, e sim o caos interno que o pequeno bebê havia despertado dentro dele.

Ainda não sabia exatamente o que faria com Noah. Era para ser temporário, ele repetia a si mesmo. Só até resolver as coisas. Só até entender o que realmente estava acontecendo. Mas cada vez que olhava para aquele rostinho inocente, seu coração endurecido vacilava.

Ele precisava sair. Trabalhar, ver números, lidar com reuniões... Era nisso que ele era bom. E, por mais insano que parecesse, agora precisava conciliar isso com fraldas e mamadeiras.

Dominic deixou Noah dormindo e foi tomar um banho gelado, tentando afastar a exaustão. Quando saiu, encontrou o bebê acordado, chutando animadamente o cobertor e balbuciando sons desconexos.

— Pelo menos alguém aqui tem energia, né?

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Enquanto isso, do outro lado da cidade, Leslie se olhava no espelho pela terceira vez. Respirou fundo, endireitou os ombros e forçou um sorriso.

— Você consegue. Vai dar tudo certo — disse para si mesma.

Conseguir aquela entrevista de última hora na empresa D&S Corporation tinha sido um verdadeiro milagre. Ela havia enviado dezenas de currículos sem respostas, e agora, finalmente, tinha uma chance. Vestia um blazer azul-marinho sobre uma blusa branca, calça social e um sapato discreto, mas elegante. Os cabelos estavam presos num coque baixo, maquiagem leve. O visual profissional escondia o turbilhão de ansiedade que pulsava sob sua pele.

Saiu de casa cedo, disposta a chegar com antecedência. O prédio da D&S Corporation era imponente, espelhado, refletindo a luz da manhã como um farol de ambição. 

O lobby da D&S Corporation estava mais movimentado do que Leslie imaginava para uma manhã de quarta-feira. Homens engravatados andavam de um lado para o outro, falando em celulares ou carregando pastas importantes. Quando entrou no hall luxuoso, sentiu o estômago se revirar. Mas estava ali, firme, determinada. Precisava daquela entrevista, precisava daquele emprego. 

A vaga havia surgido de última hora. Uma agência de empregos a havia contatado na noite anterior sobre uma oportunidade temporária como babá. Não era sua área, mas Leslie não hesitou. Apesar de nunca ter trabalhado formalmente com isso, havia passado boa parte da adolescência cuidando dos irmãos menores. Tinha jeito com crianças. E no momento, o que ela mais precisava era de um salário.

Leslie caminhava até o elevador quando ouviu um som agudo. Um choro estridente de um bebê...

Ela olhou ao redor e viu, no canto do hall, um homem alto tentando, visivelmente sem sucesso, equilibrar uma bolsa de bebê no ombro enquanto segurava um menino de colo que berrava com toda a força dos pulmões. O bebê estava vermelho de tanto chorar, e o homem — embora vestido com um terno impecável — parecia desesperado. Bom, ele parecia prestes a perder o controle.

Ela hesitou por um instante. Talvez fosse melhor não se envolver. Mas seu instinto falou mais alto.

— Desculpa… está tudo bem? — Ela perguntou, com a voz suave.

Dominic virou o rosto na direção dela, claramente irritado com a interrupção. Seus olhos eram de um azul tão profundo que por um momento Leslie esqueceu o motivo de ter se aproximado.

Ele suspirou, pesado.

— Obrigado pela preocupação, mas por que não estaria? — Respondeu seco.

— Hum... talvez porque a criança está gritando. Chorando muito — disse, franzindo levemente a testa.

— Ele... ele não para de chorar — confessou o homem, a exaustão visível em seu rosto.

— Ele talvez esteja com fome, cólica... ou talvez seja a fralda. — Ela o olhou, analisando tanto o bebê quanto o homem, que agora parecia ainda mais irritado.

— Inferno! — Ele praguejou, passando a mão pelos cabelos.

Leslie estreitou os olhos, não se intimidando.

— Cadê a mãe dessa criança?

— Por que você quer saber? — Ele rebateu, com impaciência.

— Você sequestrou essa criança? — Perguntou, séria.

Ele arregalou os olhos.

— Você está falando sério? Eu pareço um homem que sequestraria uma criança?

— Hoje em dia, nunca se pode ter tanta certeza — retrucou, sem abaixar o olhar.

Ele bufou.

— Que infernos... Se você quer saber a verdade, ele foi entregue a mim ontem, no meu escritório. A mãe dele alega que eu a engravidei. Eu não sabia da existência dele até ontem.

— Então... ele é seu filho?

— Não estou reivindicando isso agora. Ele pode ser filho de qualquer um. Mas, por enquanto, ele está sob meus cuidados.

Leslie o observou por um instante. Ele parecia dizer a verdade — ou pelo menos acreditava no que dizia.

— Tudo bem, vou acreditar em você — disse ela por fim.

Dominic revirou os olhos, claramente desacreditado na ousadia da garota à sua frente.

Mas antes que ele pudesse responder, Leslie sorriu com doçura e estendeu os braços, pedindo permissão.

— Posso?

Dominic hesitou. Era uma completa estranha. Mas o choro de Noah estava lhe destruindo os tímpanos e, por mais que relutasse, ele não tinha a menor ideia do que fazer.

Com um gesto breve, entregou o bebê.

E, como num passe de mágica, o choro cessou. Noah se aconchegou no colo de Leslie, soltou um suspiro e encostou a cabeça no ombro dela, como se tivesse encontrado seu lugar no mundo.

Dominic arregalou os olhos, incrédulo.

— Isso foi... bruxaria?

Ela riu. Um riso leve e musical, que por algum motivo, desarmou completamente o CEO.

— É só jeito. Eu cuidei dos meus dois irmãos mais novos. Bebês costumam gostar do meu colo. — Ela olhou para o bebê, acariciando levemente as costas dele. — Ele é lindo.

— É. Mas é um furacão com fralda — ele respondeu, tentando parecer indiferente, mas ainda surpreso com o efeito daquela mulher em Noah.

Leslie o olhou com mais atenção. Já o tinha visto antes? Talvez em alguma revista ou site de negócios. O rosto era marcante. Mandíbula firme, cabelo impecável, mesmo com os sinais óbvios de uma noite em claro. E apesar da postura arrogante, havia algo de vulnerável ali. Algo que ele parecia lutar para esconder.

Ela desviou o olhar discretamente para o relógio.

— Eu estou indo para o 60º andar. Tenho uma entrevista. — Fez uma pausa, devolvendo Noah com delicadeza. — Boa sorte com ele.

Dominic segurou o bebê com mais firmeza desta vez. Noah ainda parecia calmo, como se estivesse encantado com o perfume suave que ela havia deixado no ar.

— E boa sorte na entrevista — disse, quase sem pensar.

Virou-se e seguiu para o elevador, digitando a senha. Quando as portas se abriram, não resistiu e olhou para trás. Leslie ainda estava ali, esperando o próximo elevador. Quando viu o olhar dele, sorriu.

Foi um sorriso que ficou com ele muito depois da porta se fechar.

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