Interesseira

Julia Davenport

Se olhar matasse, eu estaria defunta na sala.

Dean estava pálido, e parecia ter visto uma assombração diante dos próprios olhos, mas mesmo assim, o ódio evidente não o abandonou. E o pior? Pensei que havia enterrado todos os meus sentimentos por ele, mas bastou ver o homem na minha frente para perceber que todas as minhas tentativas haviam sido bastante patéticas.

Meu coração afundou no peito, mas lutei para afastar a ideia de que teríamos uma chance. Cinco anos depois, e eu ainda estava magoada da mesma maneira que o dia em que descobri tudo. Por que eu perdi tudo, mas foi não ter o amor dele o que me matou no final.

— Que merda você quer? — Os olhos se estreitaram. — Se veio aqui pensando que eu vou te dar uma chance, Julia, você ficou louca. O que você fez comigo naquela época, porra. Aquilo... — Dean arrastou as mãos pelo rosto, e quando me encarou de novo, ele havia substituído de sem sangue para completamente vermelho. — Aquela merda me devastou, porra.

O devastou? Eu fui a traída.

Fui eu quem não tive ninguém.

Eu quem quase enlouqueci!

Foi a minha vez de ficar brava. Arranquei a porcaria dos óculos falsos que não precisava, mas que, honestamente, estava me deixando meio tonta, e soltei o cabelo.  Não queria aquela farsa em mim por mais um único segundo. — Não estou atrás do seu dinheiro, senhor grande babaca. Fui contratada pela agência para esta casa. Se não me quer, então direi a senhora Adriana que dispensou os meus serviços.

Me virei, pronta para fugir mais uma vez. Eu sei, eu sei, faço muito isso.

Admito, sou uma covarde, com orgulho!

Mas em minha defesa, queria minimizar a humilhação de ter que explicar as circunstâncias do que me levou a ser babá, e pior, desesperadamente precisar do emprego a ponto de mentir. Não queria, de toda forma, cuidar da filha dele com a mulher com quem ele estava ao mesmo tempo, em que namorou comigo e fez todas aquelas coisas... Mas mãos quentes seguraram meu cotovelo, obrigando meus passos a frearem.

— Se não veio por mim, Julia, então por que está na minha casa? Melhor ainda, como você me encontrou?

Meu coração mal tinha pedaços sem cicatrizes, e parecia ter sido ferido mais uma vez.

Quando isso vai finalmente deixar de doer?

— Apesar do seu ego imenso, eu não o procurei por cinco anos, senhor Dean Sinclair, então por que eu faria isso a essa altura das nossas vidas? Sério? Acha que eu me humilharia tanto? A troco de que faria algo assim? — Forcei um sorriso amarelo nos lábios, mas sabia que ele parecia assustador, porque eu estava mais para uma ratazana brava do que uma garota cordial.

— Seu pai faliu, Julia. Será que essa é a razão? Deixe-me pensar... Será que foi porque o imbecil perdeu toda fortuna em casas de apostas, e eu as comprei dele? Cada maldita herança pela qual você me trocou, agora pertence a mim, e a minha filha.

Sei que ele esperava que eu ficasse chocada, mas não estava. Claro, foi surpresa saber que Dean comprou tudo por rancor, mas definitivamente sabia sobre meu pai. Os hábitos dele sempre foram iguais por anos, e eu sabia que em algum momento ele perderia o controle. Voltei para Montana dois anos atrás e meu pai me contou sobre tudo. Ainda assim, ele não foi capaz de me perdoar, ao contrário, me culpou por tudo o que aconteceu. Segundo ele, sou a responsável por deixa-lo sozinho, e que as coisas teriam sido bem diferentes se eu estivesse onde deveria, e não vadiando com qualquer um... o que não entendi, por que não consegui namorar qualquer cara depois da traição. Eu simplesmente não sabia como confiar.

Abracei meu corpo na defensiva. Meu nariz começava a arder, o que eu sabia que era um clássico sinal de choro, e que em alguns minutos estariam tão vermelhos quanto os da rena do papai Noel.

— Foi por isso que veio, porra. Você não vai ter nada de volta, Julia... — Dean vociferou, com tanta raiva que nem ao menos parecia o mesmo homem por quem fui apaixonada por tanto tempo.

Entendi bem o que ele quis dizer: que não o teria de volta. Mas era ele quem deveria sentir remorso, não eu!

Caminhei dois passos para trás, na esperança de me proteger do que sentia, mas também para me certificar de que teria as mãos dele bem longe de mim. O toque do Dean queimava a minha pele de forma dolorosa. Quando isso aconteceu? Não era como eu me lembrava.

— Vou chamar o segurança para escolta-la, Julia. Não quero saber de você nunca mais, me ouviu? Nunca mais me procure, nem tente jogar comigo. Eu não sou mais o homem que você conheceu no passado.

Eu notei...

O encarei, mas mal podia vê-lo de verdade com tanta água na frente dos meus olhos. O cabelo estava uma bagunça que ele não conseguia parar de olhar, e eu sabia que era porque tentava entender como alguém que tinha o cabelo platinado naturalmente resolveu que seria boa ideia ser rosa. Mas enquanto ele estranhava meu cabelo, eu não o reconhecia por dentro.

— Pode enfiar seu dinheiro no seu rabo metido de mauricinho, seu idiota. Eu não quero trabalhar para você de qualquer forma. — Ele já estava com o celular no ouvido, provavelmente chamando a polícia. — Não quero. — O olhar dele me fuzilou. — Mas eu preciso... preciso do dinheiro... — Murmurei.

Não foi intencional desabafar assim. Não queria contar sobre minha atual condição financeira, então, diante da forma como atrai a atenção implacável do Dean, desviei o olhar e calei a minha porcaria de boca.

Dean ouviu algo no telefone, e pareceu discutir ao se virar de costas para mim, enfiando a mão livre dentro do bolso frontal da calça social. A campainha tocou, mas ele não se moveu para atender quem quer que fosse, e eu também não me movi um milímetro, ainda paralisada de choque e medo, mas principalmente desespero. Por fim, uma mulher morena entrou na casa, parecendo usar suas próprias chaves, o nariz era tão empinado que se estivesse na lua, tocaria uma estrela com seu deboche.

— Pronto querido?

Não era a mesma que engravidou dele, e isso afundou meu coração dentro do peito. As malditas borboletas não davam sossego, e a sensação era péssima. Acho que vou vomitar. E tomara que seja em cima da nariz em pé...

— Quem é essa? — Ela apontou o dedo, parecendo ameaçada por eu estar ali.

— Não se preocupe. Eu já estou indo embora.

Por que tenho orgulho e um pote de sorvete para comer enquanto choro de boca cheia.

— Não tão rápido, interesseira. Parece que você está com sorte hoje...

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