MAITÊ
Eu ainda estava com o sangue fervendo. A discussão com Valentina rodava na minha cabeça como uma agulha riscando o mesmo trecho de um vinil velho. A raiva não passava. Mas não era só isso. Era exaustão. Era o peso de ser mãe, amante, inimiga e escudo. Tudo ao mesmo tempo.
Benício dormia, sereno, no bercinho improvisado no meu quarto. O sol da tarde entrava pela janela, dourando os móveis baratos, e por um instante eu quis acreditar que o mundo lá fora não existia.
A campainha tocou depois de uma ligação rápida da portaria. O porteiro avisou que Graciela estava lá embaixo, querendo subir. Não era algo comum, e por isso meu coração acelerou com um misto de curiosidade e cautela. Autorizei a entrada. Quando ela finalmente entrou no apartamento, o sorriso que estampava no rosto não combinava com o brilho curioso dos olhos. Ela parecia feliz por me ver, mas havia algo em sua postura que me soava ensaiado, preparado. Seu sorriso era daquele jeito meio sem graça que só ela conseguia fa