Não éramos seres monogâmicos, mas eu e Catarine nos tornamos parceiros. Anos se tornavam como dias para nós. No entanto, por mais que eu estivesse imerso naquele novo mundo, nunca me esqueci da promessa que fiz a mim mesmo.
Cada lição, cada descoberta, cada momento de prazer e poder me levava de volta ao mesmo lugar — o motivo pelo qual me tornaram um ser da noite.
Eu não havia pedido por isso, mas o destino me transformou e eu usaria essa maldição a meu favor. A vingança sempre esteve ali, uma chama constante, queimando dentro de mim, esperando o momento certo para se libertar. E finalmente, a oportunidade chegou.
Com a força e a confiança que agora dominavam cada fibra do meu ser, voltei à mansão que um dia chamei de lar — o mesmo lugar onde tudo começou. Não entrei como um homem fraco e vulnerável que um dia fui. Não. Agora, eu era algo muito mais perigoso. Mais frio. Mais implacável.
Hipnotizei e dispensei todos os funcionários. Usei o poder que havia aprendido a controlar para manipular suas mentes. Eles saíram sem questionar, como marionetes cujos fios estavam em minhas mãos. Eu não precisava de testemunhas. Naquela noite, a única pessoa que eu desejava naquela casa era ele. Meu pai.
Encontrei-o no mesmo escritório em que tantas vezes o vi se trancar. No mesmo lugar onde ele passava horas me ignorando e muitas vezes o vi agredindo minha mãe. Ele estava mais velho, mais frágil, mas a arrogância ainda brilhava nos seus olhos… até o momento em que percebeu quem estava ali.
O medo inundou seu rosto. Foi instantâneo. Ele tentou manter a postura, mas eu podia sentir o desespero em cada batida acelerada do seu coração.
— Quem… quem é você? — Ele perguntou, a voz temerosa.
— Você não se lembra de mim? — Eu me aproximei lentamente, deixando cada palavra pesar no ar. — Mas eu nunca me esqueci de você, pai.
A compreensão atingiu-o como um golpe, e então veio o pânico. Ele se levantou, tropeçando para trás, tentando se afastar. Gritou por ajuda, mas ninguém veio. Seus pedidos ecoaram pelas paredes da casa, agora vazia, e o som dos seus gritos foi como música para mim.
— Por favor… não me faça mal… me perdoe! — Ele caiu de joelhos, lágrimas escorrendo por seu rosto. — Eu estava errado… por favor, tenha piedade!
Piedade. A mesma piedade que ele nunca teve por mim.
— Você pede clemência? — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro, mas carregada de ódio. — Onde estava a sua clemência quando me ofereceu para aquele lorde como pagamento? Onde estava sua compaixão, sabendo exatamente o que ele era?
Eu o fiz sentir tudo que eu senti naquela noite em que ele me entregou. Ele estava à minha mercê agora, tão pequeno, tão patético. Cada segundo daquele momento era como um gosto doce em minha língua.
O poder estava em minhas mãos, e, pela primeira vez, eu era o juiz, o júri e a sentença. A pergunta agora era — até onde eu iria?
Por mais que uma parte de mim ainda lutasse para não me tornar o monstro que um dia temi ser, o desfecho daquele encontro já estava decidido. Não havia espaço para misericórdia, não depois de tudo o que ele me fez.
Eu o observei por um momento, vendo o pânico e a desesperança em seus olhos, antes de tomar minha decisão. Lentamente, me aproximei e cravei meus dentes em seu pescoço. O sangue fluiu quente e intenso, cada gota me preenchendo com uma sensação de poder absoluto.
Eu não parei até a última gota. Não até ele estar completamente inerte no chão daquele escritório, onde um dia ostentou todo o seu poder e controle. Agora, ele não era nada além de uma sombra do homem que um dia foi.
Minutos depois, Catarine apareceu. Ela se encostou na porta, cruzando os braços, os olhos percorrendo o corpo sem vida no chão.
— Você se sente satisfeito? — Ela perguntou, o tom calmo, mas com uma ponta de desafio. Ela havia me avisado sobre a culpa, sobre como ela poderia me consumir depois de tudo.
Mas culpa era a última coisa que eu sentia naquele momento. Não havia arrependimento, apenas um vazio preenchido temporariamente pela vingança, mas ainda assim um vazio.
— Não… ainda não. — Olhei diretamente para ela, minha voz firme. — Ainda tenho contas a acertar com o lorde que me transformou nisso.
Ela suspirou, aproximando-se de mim, o olhar analisando cada detalhe da minha expressão.
— Por que você não deixa isso para lá, Mathias? Se contente com isso. Você já teve sua vingança. — Eu balancei a cabeça, determinado.
— Eu não posso. Não depois de tudo. Eu não desejei essa vida para mim. Fui jogado nisso, transformado contra a minha vontade, e deixado para morrer como se eu não fosse nada. — Minha voz endureceu. — Isso… eu nunca vou esquecer.
Ela ficou em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando minhas palavras. Talvez soubesse que nada do que dissesse me faria mudar de ideia. Talvez ela também entendesse, mais do que queria admitir, o peso de carregar uma existência que não escolhemos.
— Então vá, Mathias. Mas lembre-se… a vingança é uma estrada longa e solitária. Uma vez nela, é difícil voltar.
Eu já sabia disso. Mas voltar atrás nunca foi uma opção. Meu caminho estava traçado, e eu não pararia até encontrar o lorde que destruiu minha vida.
Anos se passaram e, no dia em que o encontrei, nada saiu como planejado. Não que eu tivesse planejado algo em primeiro lugar, mas o caos daquela noite foi além de qualquer previsão.
O encontro aconteceu de forma abrupta, como se o destino tivesse decidido que era hora de tudo colapsar. Nunca havia visto um grupo tão grande de vampiros reunido como naquele momento, todos aliados do lorde que eu perseguia.
Catarine havia me alertado sobre os riscos. “Escolha suas batalhas, Mathias. Não se atire contra uma parede de lâminas sem saber como sair vivo”. Eu deveria ter ouvido. Mas a vingança já havia se tornado o sangue que corria em minhas veias. Não havia mais como voltar atrás.
Consegui um momento a sós com o lorde sem que ninguém nos visse. Com uma precisão que Catarine havia me ensinado, eu consegui o imobilizar. Existiam partes de nosso corpo que, mesmo não sendo mais humanos, ao serem atingidas, nos paralisavam completamente.
Como vampiros, não tínhamos as mesmas sequelas dos seres humanos, mas aqueles minutos antes da recuperação total eram tudo que eu precisava para alcançar meu objetivo e eu consegui o que queria.
Com o lorde Richard paralisado, arranquei membro por membro dele e, por último, separei sua cabeça do resto de seu corpo, queimando tudo em uma lareira diante de mim. Ele teve sua vida ceifada por minhas mãos.
Eu senti a satisfação momentânea de tê-lo derrubado, de arrancar finalmente a existência daquele que havia me condenado a essa vida. Mas o preço após tudo isso… o preço foi alto demais.
Não sei como conseguiram me localizar, mas o fato era que conseguiram, e por eu não estar lá, Catarine pagou o preço. Eu tentei alcançá-la, protegê-la, mas fui rápido demais para tudo, exceto para salvá-la.
Os vampiros que faziam parte daquele grupo a pegaram, e quando eu consegui localizá-los, era tarde demais. Catarine estava caída, seu corpo mutilado e queimado, a força de sua vida escapando a cada segundo.
Ajoelhei-me ao seu lado, desesperado, segurando seu rosto entre minhas mãos. Seus olhos, antes tão cheios de força e determinação, agora estavam suaves, quase serenos.
— Eles eram burros demais, não conseguiram acertar meu coração. — Ela disse com um sorriso frágil no rosto. — Você precisa… continuar. — Sussurrou, a voz fraca, mas firme. — Mantenha-se vivo, Mathias. Honre tudo que te ensinei… não se perca. Você é muito mais… do que o desejo de sangue e vingança.
Seus olhos se fecharam lentamente, e com um último suspiro daquela vampira, o mundo à minha volta pareceu desmoronar. Ela se foi. A única pessoa que havia se tornado importante para mim, a única que me mostrou que eu ainda podia ser mais do que uma criatura movida por instinto e fome.
Eu segurei seu corpo por um longo tempo, tentando absorver suas últimas palavras. Eu havia vencido a batalha, mas ao custo de tudo que realmente importava.
Naquele momento, a vingança perdeu o gosto doce que um dia teve. Ela se tornou amarga, como um fardo pesado que eu precisaria carregar pelo resto da eternidade.
Mas, por ela… eu prometi que não me perderia. Eu me manteria vivo. Não por mim, mas por tudo que Catarine acreditou que eu poderia ser. Mesmo que, naquele momento, eu não soubesse se isso ainda era possível.