LUCY
Chego no trabalho e deixo minhas coisas no meu armário, prendo meus cabelos, coloco o boné e o avental e já posso ir para a cozinha. Quando entrei aqui, foi me oferecida uma vaga no balcão ou no caixa. Mas, fala sério! Não tenho paciência para lidar com esses homens que não têm o menor senso e ficam achando que toda mulher gosta de ser cantada o tempo todo. E não é uma cantadinha inocente não minha gente, é cada coisa sem noção que sai da boca de alguns homens... Pra evitar de voar uma mão, sem querer na cara de algum desavisado, o melhor foi ficar na cozinha mesmo. Mesmo porque, eu gosto de chegar, fazer meu trabalho e ir embora rápido para ficar com minha bebê. A noite estava tranquila, muitos lanches saindo como de costume e de repente ouço muitas vozes vindo do outro lado do balcão. Curiosa, vou dar uma olhadinha no que pode ser. E pelo amor de Deus, quanta gente! Quando me viro de volta, vejo um homem me olhando, e não é qualquer homem. É o Matt! O ator. Famoso! Por isso aquela loucura lá fora. Só que infelizmente, o susto que levei me fez reagir da pior maneira possível, e acabei dando com a frigideira na cabeça dele. Na cabeça do Matt Cortêz! Me internem, só posso estar louca. Pelo amor de Deus, que meu gerente não chegue, que meu gerente não chegue... Acho que o Matt deve achar que sou louca. Pois não para de me encarar. Olho para ele e o que vejo é um olhar assustado, com uma ponta de humor e... Espera um pouco de... ele está me paquerando. Não creio! Homens! Só por isso aviso que se vai ficar na minha cozinha, vai ter que me ajudar. E para minha surpresa ele diz que vai ficar. Logo meu gerente chega com um homem que já vi aqui algumas vezes. _ Arthur, esse senhor invadiu minha cozinha e se recusa a sair, então coloquei ele para me ajudar. _ pisco para que ele entenda que está tudo bem. _ Tudo bem aí Sr Matt? _ o homem pergunta para o ator e o mesmo sinaliza que sim. Meu gerente apenas me pergunta se está tudo bem se ele ficar um pouco e se preciso de mais ajuda. Já que o Sr. Matt se recusou a sair da minha cozinha. Como lhe disse que estava tudo bem, ele foi para o outro lado ajudar no atendimento. Mas confesso que senti um certo incômodo no olhar dele ao sair e me deixar na cozinha com o Matt. MATT CORTEZ Está cada vez mais difícil ficar nessa cozinha com ela. Ela realmente é brava. Não sei, parece que alguém a fez sofrer e por isso, não acredita mais nos homens. Fico olhando pra ela muito mais que trabalhando. Afinal, não levo mesmo o menor jeito para nada disso de cozinha. Estou aqui pensando em uma maneira de puxar assunto e convidá-la para sair. Será que ela aceitaria? Bom, o não eu já tenho. Vou tentar o sim. Ela não me parece o tipo de mulher que se encantaria com luxo ou qualquer coisa que esse meu modo de vida possa oferecer. Mas, não custa tentar. Homens, aprendam. Uma mulher sabe quando você quer algo sério e quando quer só curtir o momento. E se ela der abertura, saiba que se tentar fazer ela de boba, o bobo na verdade é você. E é pensando nisso e divagando em pensamentos, que me dou conta que ela está me olhando. _ Por que você está aqui? Digo, se escondendo na cozinha de uma lanchonete, já que pode comer nos melhores restaurantes? _ Na verdade, eu estava saindo de uma sequência de gravação pesada e cansativa. E tudo que eu não queria era encarar um restaurante e um monte de gente pedindo autógrafo. Não hoje. Só queria mesmo era sair sem ser reconhecido e comer um bom sanduíche nessa lanchonete que é perto da casa do meu amigo e segurança. Mas, como você já pode perceber, o plano não deu muito certo. Mas como pode ver, as coisas mais simples da vida podem ser as mais difíceis de se conquistar. Digo tudo olhando para ela. Querendo gravar cada reação de seu rosto, de seu olhar. Quero que ela saiba com minhas palavras e atitudes, que estou sendo completamente honesto em tudo o que estou falando. Esse tipo de mulher, mulher da vida real, sabe exatamente quando um homem faz firulas para parecer bom. _ Mas não seria mais fácil pedir delivery, já que quer tanto sossego e coisas simples? Ela me pegou. E pensando bem, seria mais fácil mesmo. Porém, se pedisse delivery, como ia conhecer essa mulher? Não sabendo o que responder, apenas dou de ombros e pergunto: _ Você acredita na obra do acaso? ... Bom, dizer que essa noite me surpreendeu é eufemismo. Depois que ela viu que sou "de confiança", se apresentou devidamente. Contou um pouco sobre sua vida. Sei que é sozinha, mora relativamente perto e que tem um carro, que segundo ela, é seu amorzinho. Mas é um pouco antigo. Imagino... Descobri também que é professora e só trabalha aqui para completar a renda. Mas o que me deixou preocupado é por que completar a renda? Será que ela está endividada? Outra coisa que percebi, é esse gerente toda hora vindo aqui na cozinha para ver se está tudo bem com a Lucy. Não gostei. Se ele pensa que vai levar minha garota... Eita, pensei isso mesmo? Minha garota? Cara, devo estar ficando louco. Mas essa sensação de lar, preenchimento que estou tendo ao lado dela, nunca pensei que seria tão boa essa sensação. Quando perguntei sobre ela acreditar em obra do acaso, ela não me respondeu. Apenas mudou de assunto e passamos a conversar sobre vários assuntos aleatórios. Agora já passa das 23:30h. E preciso perguntar... _ Lucy, sei que está tarde, mas como dizem por aí, a noite é uma criança. E não estou pronto para me despedir de você. O que acha de darmos uma volta, conversarmos mais um pouco... Apenas conversar, prometo. Levanto a mão direita em sinal de promessa, mas pelo olhar dela vejo que não vai aceitar. Será que tem alguém a esperando em casa? Depois de um longo momento vem a resposta. _ Não posso Matt. Tem alguém me esperando em casa. E por essa pessoa eu largo tudo. Jamais deixaria de estar em casa para estar em qualquer outro lugar. Desculpe. Nem preciso dizer que fiquei arrasado. Mas, espera, ela disse que não tem nenhum relacionamento. Mas antes que eu fale qualquer coisa, ela se pronuncia e diz algo que mexe comigo. Depois disso, se ela pensa que me afastou, ganha além da minha admiração. _ Já fui casada, hoje sou viúva. Meu Ben se foi com pouco tempo de casados. Um infarto o levou. Tivemos uma filha, minha princesinha, todas as noites saio daqui rápido para ir para casa ficar com minha bebê. Hoje ela tem 4 anos e é tudo de mais precioso que tenho na vida. É por ela que vivo, por ela que respiro. E eu não deixo minha princesinha por nada desse mundo. E, desculpe, nem pela companhia de um astro de TV.