Fernando ficou parado por longos minutos depois que Natália saiu. A chuva fina já havia cessado e o sol tentava romper entre as nuvens, mas ele não via nada disso. O olhar fixo no horizonte escondia o turbilhão que se formava por dentro.
“Mentiras. Sempre mentiras.”
Desde que Natália surgiu em sua vida, nada mais parecia estável. Cada palavra dela parecia ter dois sentidos, cada gesto, uma intenção oculta. E, ainda assim, algo nele insistia em prestar atenção demais nos silêncios, no modo como ela o enfrentava, nas poucas vezes em que parecia frágil de verdade.
Ele respirou fundo, apertando o queixo com a mão.
“Ela é boa nisso”, pensou. “Sabe se fazer de vítima. Consegue até parecer sincera.”
Mas aquela lembrança dela encharcada, tremendo de frio quando ele a encontrou na chuva insistia em voltar, insistente, viva demais para ser esquecida.
Por um instante, ele chegou a achar que a perderia ali. E odiava o que sentiu naquele momento.
Bateu o punho sobre a mesa, irritado consigo mesmo