Capítulo 91
Ezequiel Costa Júnior
O dia mal começava a clarear quando Mauro se aproximou. Estava suado, com os braços cruzados, e um ar de cansaço que combinava com o meu.
— Já era. — disse apenas.
Olhei pra ele, depois para o chão manchado do pátio. O vestido vermelho estava jogado como um trapo qualquer, uma das alças rasgada, o salto quebrado ao lado. Nem precisei perguntar o nome.
— Queimem tudo. Corpo, roupa, sapatos. Quero o cheiro dessa desgraça longe da minha casa — ordenei.
Mauro assentiu com um leve aceno de cabeça e sumiu com dois homens.
Sentei no sofá da varanda, exausto. O sol nascia devagar, tingindo as flores do jardim de um dourado suave, como se zombasse do que houve aqui horas atrás. Acendi outro charuto, mas o gosto já não era o mesmo. Meus olhos ardiam — de cansaço ou raiva, nem sei mais.
Apoiei a cabeça no encosto. Só queria ir para o apartamento, ver Mariana. Sentir o cheiro dela, ouvir a voz... Mas o sono me agarrou de repente.
E então,