Já não havia mais o choque inicial; Karina foi lentamente se acalmando. Ela não respondeu de imediato, mas sorriu e perguntou ao Ademir: — Por que está me perguntando isso? Vendo a reação de Karina, Ademir já estava praticamente convencido de que ela realmente havia sido injustiçada. Depois de terem sido casados, Ademir ainda a entendia, pelo menos um pouco. Só não sabia se deveria ficar aliviado ou triste. Ademir a observava com atenção: — Eu só quero saber a verdade. O quê? Karina sentia um sorriso querendo escapar, e logo não conseguiu mais segurar. Ela riu, uma risada leve, mas cheia de significado. — Karina. — Ademir franziu a testa, tentando controlar o desconforto. — Desculpe. — Karina fez um esforço visível para controlar a risada e, com um tom incisivo, mudou de assunto. — A situação já está bem clara, Sr. Ademir. O que exatamente você quer fazer? Quer saber a verdade? Mas você já tem a resposta, não tem? — Eu sei. — Ademir franziu ainda mais o cenho,
Mas, sob os pés de Ademir, parecia haver um peso imenso, tornando seus passos difíceis e lentos. Karina não gostava de Ademir, e havia pensado em diversas maneiras de se afastar dele. No entanto, tentar retê-la à força era algo sem sentido. Um homem responsável deveria ser capaz de lidar com essa relação de forma tranquila e madura. Se, ao se afastar de Ademir, Karina fosse mais feliz, então ele deveria permitir que ela fosse feliz! Neste mundo, quem não poderia viver sem o outro?...Dois dias se passaram e a vida seguiu seu curso normal. Karina realmente acreditava que, naquele dia, Ademir só havia ido pedir desculpas, sem outras intenções. Ela foi gradualmente se tranquilizando. Naquela tarde, Karina estava carregando vários prontuários médicos que havia corrigido e estava prestes a entregá-los ao setor de prontuários. Quando o elevador parou no andar, as portas se abriram, e Karina congelou por um momento. Havia alguém dentro. Não eram outros, mas Ademir e Vitória, com Vit
Às cinco horas, a chuva começou a cair.Ademir saiu do elevador, com o semblante sério e tenso. Hoje, Vitória havia feito exames, e os resultados não eram bons...Chegando à entrada do prédio, ele avistou Karina sob o beiral da casa. Parecia que ela não havia trazido guarda-chuva e estava se protegendo da chuva.Depois de hesitar por um momento, Ademir se aproximou e se posicionou ao lado de Karina:— Não trouxe guarda-chuva? Ao ouvir a voz, Karina olhou para cima e sorriu, assentindo levemente. — Pois é. — Você vai para a Rua de Francisco Antônio? — Sim. — A chuva está forte, eu te levo. O carro de Ademir estava estacionado no estacionamento subterrâneo, e se fosse com ele até lá, ela não se molharia.— Não precisa! — Karina recusou, rapidamente. O semblante de Ademir, normalmente tão calmo, se fechou um pouco, e ele demonstrou certo desagrado. — Por que não? Só porque ainda não sou seu ex-marido, você vai recusar até uma carona? — Não é isso... — Karina parecia um
Isso explicava o conceito que Catarino tinha sobre o pai dele, que era extremamente frágil. Naquele momento, Karina assentiu com a cabeça:— Isso mesmo, o papai do Catarino... O Catarino tem um papai. Todo mundo tem seus próprios pais.Catarino ficou em silêncio, visivelmente confuso.Karina não pressionou o garoto, esperando pacientemente até que ele começasse a entender.Depois de um longo tempo, finalmente, Catarino falou.— O Papai e a mamãe morreram?Ao ouvir isso, Karina ficou paralisada. Um nó apertou em seu peito.— Catarino, por que você pensa assim? A sobrancelha de Catarino se franziu ainda mais.— Porque eles não vêm ver o Catarino...O coração de Karina ficou ainda mais apertado, seus olhos imediatamente se umedeceram.Karina se arrependeu! Ela não deveria ter perguntado aquilo!Lucas não encontrou um doador de fígado, mas aquilo era apenas o destino dele! Lucas ignorou seu próprio filho, e foi isso que fez o pequeno Catarino acreditar que o pai já havia morrido!Karin
Ao voltar para a Rua de Francisco Antônio, Karina correu até seu quarto, abriu uma caixa e retirou um grande fichário. Toda a documentação referente à sua dissertação estava ali, cuidadosamente organizada, cada papel arrumado com precisão. Era o fruto de seu esforço, de noites em claro e pesquisas intermináveis. Karina jamais seria capaz de jogá-los fora ou deixá-los desorganizados.Com esses documentos em mãos, ela tinha provas suficientes para defender sua inocência.Mas, ainda assim, uma sensação de desconforto não a deixava em paz...Na manhã seguinte, Karina entregou todos os documentos a Felipe.— Dr. Felipe, está tudo aqui. — Ela disse, tentando disfarçar sua apreensão.— Ótimo. — Felipe olhou cuidadosamente para os papéis, com um semblante aliviado. — Com isso, vamos ver o que aquela Sílvia vai dizer agora! Denunciar é fácil, mas precisa ter fundamento, não dá para espalhar palavras ao vento sem provas, não é?— É... — Karina respondeu, mas a ansiedade não a abandonava.Agora
— Ainda não chegamos a esse ponto, ainda há os professores. Eu vou dar um jeito nisso para você. — Obrigada, Dr. Felipe. Mas Karina sabia que, sem apresentar novas provas, nem mesmo a posição de Felipe seria suficiente para sustentá-la por muito tempo. E, de fato, no dia seguinte, Karina recebeu a notificação de suspensão de suas funções. — Karina... — Felipe já não sabia o que fazer. Só podia dizer. — As coisas ainda não chegaram a um ponto sem esperança. Vamos pensar em algo juntos. — Eu sei, Dr. Felipe. — Karina respondeu com um tom de resignação, mas, no fundo, que outra saída poderia haver? Karina se forçou a manter a compostura, sorrindo com esforço: — Dr. Felipe, sinto muito por te causar tanto trabalho. — Não diga isso... — Felipe franziu as sobrancelhas e fez um gesto, desconfortável. Olhou para sua pupila e, finalmente, não conseguiu se segurar. — Você já contou para o Sr. Ademir sobre isso? Karina ficou surpresa, balançando a cabeça, sem entender. Claro q
Karina não entendia, será que ela tinha feito algo para irritar Ademir? Ao lado, o vendedor ambulante que empurrava seu carrinho gritou: — Eu disse, com essa barriga enorme, você não vai prestar atenção por onde anda? Eu te chamei, e você nem me ouviu! Agora tudo fazia sentido. Compreendendo a situação, Karina se desculpou, um pouco sem graça: — Desculpa. — Sem problemas, mas você precisa ficar mais atenta! Karina levantou os olhos e finalmente entendeu o motivo da expressão fechada de Ademir. Mas será que ele já poderia largá-la? — Obrigada, eu estou bem. Ademir olhou para Karina, com um sorriso irônico, mas o que sentia mesmo era raiva: — Você realmente não se importa com o seu corpo, é? Não olha para onde anda? O que estava pensando? — Não estava pensando em nada. — Karina abaixou a cabeça, ajeitando os fios de cabelo. — Você está tão cedo aqui, veio ver o avô? Ela desviou o assunto. — Sim. — Ademir ainda parecia estar sem palavras. — Vim fazer companhia
Como alguém teria coragem de suspender o trabalho de Karina? — É o seguinte, a Karina foi denunciada! — Do outro lado da linha, Helena explicou tudo, desde o início. Ademir permaneceu em silêncio, ouvindo atentamente até o fim. — Entendi. — Ele estava prestes a desligar quando, de repente, disse. — Por que você não me contou isso mais cedo? Helena tinha sido incumbida por Ademir de cuidar de Karina, mas mesmo com algo tão grave acontecendo, ela não lhe disse nada. — Eu... — Helena hesitou antes de responder. — Eu achei que, como vocês se veem todos os dias, ela mesma iria te contar. Ademir ouviu a resposta, mas não disse mais nada: — Obrigado. Vou desligar. Do outro lado da linha, Helena manteve o celular em mãos, mordendo o lábio inferior, com o coração batendo mais rápido. Ela estava certa de que algo estava errado entre Karina e Ademir! Como ele não sabia que Karina foi suspensa? Será que eles tinham se separado? Enquanto isso, Ademir ainda segurava o celular, se