O movimento foi fluido e preciso. A fumaça branca subiu no ar, formando uma névoa que parecia envolver Sílvio por completo.
Lúcia sentiu que já não conseguia enxergá-lo claramente. Mas ela precisava vê-lo, captar cada detalhe daquele rosto. Então, deu um passo adiante, depois outro, caminhando em direção a ele com determinação. Quando chegou perto da borda da mesa, ouviu a voz fria e cortante de Sílvio, enquanto ele franzia a testa:
— Fique aí e fale daí.
Os passos de Lúcia pararam de imediato. Ela ficou imóvel, olhando para ele, para seu rosto forte e marcante, agora envolvido pela fumaça. Mesmo assim, por mais frio que ele parecesse, ela não podia evitar: seu coração ainda batia mais forte por ele, ainda doía.
"Depois de tudo que passamos juntos", pensou. "Depois de tantas vezes que enfrentamos a morte lado a lado. Depois de eu ter perdido a memória e ele ter ficado tão devastado que até os cabelos ficaram brancos por causa da tristeza. Eu não lembrava de ninguém, mas lembrava dele.