Capitulo 6

Ariel Smith

— O quê? - Noah questiona. 

— Mas por quê? - Gio pergunta. 

— Sei que a intenção de me querer aqui é boa, mas não posso aproveitar da situação e morar na sua casa. 

— Mas você pode morar aqui ruivinha, eu quero que você fique aqui. - Gio insiste. 

 

Nesse momento, Noah me olhou com ternura e pousou a sua mão encima da minha, perguntou:

 

— É isso que quer? 

— Sim. 

— Mas.. Valente. - Gio tenta intervir. 

— Está na hora de ter a minha primeira experiência de morar sozinha, de ser independente mais do que já sou, eu preciso disso. 

 

Algumas lágrimas inundam meus olhos,porém seguro para que não caiam em meu rosto, Noah olha para Gio e a convence de entender minha decisão. 

 

— É uma escolha sua, e respeitamos isso, não é Giovana? 

— Sim, ruivinha. - ela confirma com um pequeno sorriso. 

— Obrigada, não sei o que seria de mim sem vocês. 

— Eu também não sei. - Noah diz todo convincente. 

— Deixe tudo comigo, eu mesma irei procurar um apê perfeito para você. 

— Vai com calma Gio, meu orçamento é razoável. 

— Nada disso! O apartamento será por minha conta! 

— Mas é rica mesmo. - Noah olha para ela com um olhar soberbo. 

— Milionária com meu próprio trabalho e herdeira de empresas. - corrige. 

— Não é querendo dar o golpe, mas quer casar comigo? 

 

Giovana e eu sorrimos pela proposta de Noah, ele também sorri por suas palavras e logo voltamos a comer. 

 

(....) 

 

Já no caminho do trabalho, lembro da conversa que tive com Giovana e Noah, as tentativas falhas de Gio para mudar minha decisão, eles queriam me manter no apartamento. Mas por fim entenderam minha vontade e aceitaram. Sempre pensei em morar sozinha, bem antes do que me aconteceu na noite passada, agora que deixei o lar qual não me fazia bem, não irei desperdiçar essa oportunidade. 

 

Preciso me conhecer melhor, quero desfrutar de uma boa noite de sono e apenas com uma companhia, a minha. Me mantive presa por anos na presença daquele crápula que não media esforços para tornar meu dia mais difícil e exaustivo, e agora livre dele, é uma benção e paz que precisava. 

 

O dia foi exaustivo e tenso na ala de queimados. Havia acontecido um incêndio em uma fábrica, as chamas atingiram uma boa parte dos funcionários, umas eram de segunda e quarto grau. Ver a dor estampada nos rosto de homens e mulheres mexiam comigo. As duas enfermeiras que trabalhavam comigo percebiam isso, e para elas era o divertimento em ver que estava sentimentalista com aflição dos pacientes. 

 

Saí da sala de atendimento indo para o banheiro, me aproximo de uma pia e ligo a torneira, enche minha mão de água e jogo em meu rosto, faço isso diversas vezes até que escuto a porta do banheiro ser aberta. As duas enfermeiras entram e se olham entre si com sorrisos nos lábios. 

 

- Se não aguenta cheirinho de carne assada nem deveria ter se tornado médica. 

- É uma molenga de cabelo falsificado. Odeio ela. 

- É uma sonsa, sabe que não pode sentir laços íntimos com os pacientes, ela deveria ser expulsa desse hospital. 

- Concordo! Ela é patética. 

 

Aperto a barra da pia com força e solto uma imensa gargalhada por suas palavras, um imenso sorriso irônico desenha e ecoa pelo banheiro, viro-me para elas e começo falando poucas e boas verdades. 

 

— Sou médica, mas também humana. Não sou insensível ao ponto de brincar com a dor dos outros. 

— Olha escuta aqui.. — corto-a imediatamente. 

— Estão erradas, não tem argumentos e ponto final. Me envergonharia se tivesse um caráter idêntico ao de vocês.  

 

Elas ficam em silêncio com uma expressão séria, sei que eles desejam falar, desejam soltar todo o veneno que habitam em seus corpos. 

 

— Peçam desculpas. 

— O quê? - perguntam com desdém. 

—  Quero pedido de desculpas, afinal trabalham comigo, uma queixa para o diretor e estarão em maus lençóis. 

 

Elas olham entre si e engolem em seco, abrem a boca e pedem. 

 

— Desculpe, doutora! 

— Agora vão embora, não trabalharão mais comigo. 

— Mas.. 

— Sem mas, só vão. 

 

Ao sair, suspirei soltando o ar de meus pulmões, respiro profundamente e volto a fazer o meu trabalho. Um senhor que estava ferido pelas chamas da fábrica, chamava sua esposa que ainda não havia chegado, aquilo era de partir o coração. 

 

— Clara, Clara. Cadê a minha mulher? 

— Calma senhor, sua esposa está a caminho. 

— Eu não posso morrer sem ver a minha esposa. 

— Você não vai morrer, se acalme! 

 

Suspiro controlando a vontade de chorar. Em minutos uma senhora entrou na sala e se aproximou do meu paciente, tratei de terminar o quanto antes para deixá-los a sós. 

 

Já estava perto do almoço e optei em almoçar mesmo no trabalho, meu dia havia sido muito cansativo e estava indisposta para sair. Ligo para Giovana já na minha sala ansiosa para saber se ela havia encontrado algum apê pequeno perto do meu trabalho. 

 

— Já ia ligar pra você. 

— E então.. Encontrou alguma coisa?

— É claro! O apartamento era divino, perfeito para você. - diz entusiasmada. 

— O que eu faria sem você? 

— Absolutamente nada! Eu sou a fada madrinha. 

— E onde fica esse apartamento? 

— Próximo do seu trabalho, o preço foi muito razoável, ele veio pronto com mobília. 

— Com mobília? Que estranho.. 

— Não entendo direito o vendedor não me explicou muita coisa,  não me parecia muito com um vendedor. 

— Quanto custou? 

— Ah, baratinho.. 

— Quanto baratinho? 

— Uns 90 mil. - arregalei os olhos. 

— Nesse apartamento contém ouro? 

— Não por quê? 

— Olha o preço desse apartamento, eu não ganhei na loteria. 

— O dinheiro está saindo do meu bolso, não do seu. 

— Não posso aceitar! 

— Você vai, ele já está em seu nome, não me faça essa desfeita. 

 

Suspiro na ligação e falei aborrecida:

 

— Eu te odeio. 

— E eu te amo ruivinha. 

— O apê é bonito? - perguntei risonha. 

— Vai ficar chocada com a beleza do apartamento, tem duas suítes, cozinha com uma bancada imensa. 

— Me manda a localização. 

— Acabei de enviar. 

—  Logo mais passo na sua casa para pegar minhas malas. 

— Não precisa, já está tudo aqui. 

— Você é impossível! 

— Eu sei que você me ama, nosso amor é pra sempre. 

— Ele sempre foi. 

— E sempre vai ser! - completamos juntas. 

 

A tarde transcorreu normalmente, não havia pacientes para serem atendidos, fiquei a maior parte do tempo na ala da maternidade. Ver os bebês fazendo seus barulhinhos ou até mesmo dormindo me trazia paz pro meu coração. Embora não seja mãe sempre tive o dom de lidar com crianças, tenho vontade de formar uma família futuramente, mas ainda não achei o homem ideal tenha despertado o amor em mim. 

 

Já eram 6h da noite, estava próximo de encerrar o expediente, porém houve um acidente no meio do trânsito. Ao entrar no pronto socorro, vejo uma boa quantidade de homens vestidos formalmente, alguns estavam baleados, o que me faz questionar se realmente foi um acidente. 

 

Alguns médicos e enfermeiros os  agilizam para atender os feridos, eu faço o mesmo, antes que pudesse fazer alguma coisa, o chefe senhor Vladmir me guiou para uma maca. 

 

— Os outros pacientes já estão atendendo os demais, atenda o homem no leito 6. 

 

Peguei a prancheta de suas mãos e ando em passos largos na direção do meu paciente. Vejo uma dúzia de seguranças rodeando meu paciente, parei por alguns segundos e suspirei algumas vezes, me aproximo rapidamente. 

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