Mais uma noite em casa sem saber o que fazer.
Sentou-se diante da TV e trocou de canal incontáveis vezes. Ligou o computador, checou os e-mails, trocou algumas palavras com os poucos amigos online e, no fim, decidiu que mergulharia na leitura. Puxou um livro da estante, acomodou-se no sofá e abriu-o na página que aguardava sua atenção havia meses. Precisou voltar algumas páginas para se situar na história, mas logo algo prendeu seu interesse. De repente, aquele sábado tedioso parecia menos pesado, quase agradável.
A campainha tocou.
— Daniel... — murmurou, abrindo.
Ela riu.
Daniel entrou, lançando um olhar rápido ao redor da sala organizada.
Ela se deu conta, corando levemente, e percebeu o olhar dele demorando-se em sua pele exposta.
Daniel sempre fora indiscreto. Desde que se conheceram, vivia comentando sobre sua sensualidade, mas sempre com aquele jeito leve, meio brincalhão. Nunca o levara a sério. Naquela noite, no entanto, havia algo diferente: o olhar dele estava mais intenso, inquieto.
— Espere só um minuto. — Melissa foi ao quarto, vestiu um robe e voltou.
Ela balançou a cabeça, ignorando a provocação, e desviou o assunto:
Melissa o encarou.
Conhecera Daniel seis meses antes, na construtora onde trabalhava como gerente administrativa. Ele fora discutir um orçamento, e, a princípio, Melissa não lhe deu muita importância. Logo, porém, descobriu que ele era um administrador influente, dono de uma posição respeitada em uma grande empresa de publicidade.
Desde o primeiro encontro, notara seu interesse. Mas deixara claro que não buscava envolvimento com ninguém, muito menos com um homem que, ao que parecia, só queria diversão. Daniel, então, mudara de estratégia: insistiu na amizade. E, de repente, estava sempre por perto, iluminando seus dias.
Eles saíam com frequência, riam de tudo, divertiam-se juntos. Entre uma conversa e outra, Daniel sempre a pedia em casamento em tom de brincadeira, e Melissa nunca levava a sério.
Naquela noite, decidiram conhecer um bar recém-inaugurado, aconchegante, com música ao vivo e uma atmosfera acolhedora.
— Você parece cansado. Como foi o dia? — perguntou Melissa, quando já estavam acomodados em um canto reservado.
Melissa riu. Sempre a mesma resposta.
Melissa apenas sorriu, negando com a cabeça.
Ela o fitou, buscando no olhar dele o tom zombeteiro de sempre, mas não encontrou.
A noite correu leve, com conversas amenas. Já passava da uma da manhã quando Daniel a deixou em casa.
Melissa não sabia se fazia a coisa certa. Mas sentia que precisava de alguém com quem compartilhar algo mais sério. E não conseguia imaginar outra pessoa além de seu melhor amigo.
Daniel era um homem bonito. Muito bonito. Alto, mais de um metro e oitenta. Corpo definido, sem exageros. Cabelos louro-escuros, sempre bem aparados. Olhos cinzentos, enigmáticos. Bem-sucedido, financeiramente confortável — como ela deduzia pelas poucas pistas que deixava escapar. Um homem completo, talvez até perfeito... e estava ali, diante dela.