capítulo 3

A viagem foi tranquila. Sophie manteve-se em silêncio, folheando mentalmente as imagens que pretendia capturar, enquanto Lucas e Émilie conversavam sobre restaurantes, passeios e pontos turísticos.

Quando o avião começou a descer, ela olhou pela janela e, por entre as nuvens, viu Veneza pela primeira vez. Um mosaico de telhados alaranjados, canais cintilando sob o sol da manhã e pequenas embarcações deslizando lentamente sobre a água verde-azulada. O cenário parecia tirado de uma pintura — e, ainda assim, mais vivo do que qualquer fotografia que já tivesse visto.

O ar frio e úmido a envolveu assim que desceu do avião. O trajeto até o hotel foi feito de táxi aquático, e Sophie sentiu o balanço suave da embarcação enquanto observava fachadas antigas, janelas floridas e pontes estreitas que pareciam unir não apenas ruas, mas também histórias.

O hotel, um prédio restaurado do século XVIII, ficava de frente para um canal movimentado. No lobby, sofás de veludo e lustres de cristal compunham uma atmosfera elegante, mas acolhedora.

Enquanto Lucas resolvia algo na recepção, Sophie se afastou um pouco para fotografar a luz que entrava pelas amplas janelas. Estava ajustando a lente quando ouviu uma voz masculina, baixa e firme, falando italiano. Voltou-se, e foi então que o viu.

Matteo Bianchi.

Ele estava de pé próximo ao balcão, conversando com um funcionário do hotel. Usava camisa branca com as mangas dobradas, e havia algo nos seus gestos — calmos, seguros, quase artesanais — que chamava atenção. Sophie percebeu que o olhar dele, castanho e profundo, se cruzou brevemente com o seu antes de ele voltar à conversa.

Foi apenas um instante, mas um instante que ela guardaria.

....

Lucas acenou para ela do balcão.

— Sophie! Sua chave.

Ela se aproximou, pegou a chave da mão dele e, ao ouvir seu nome, percebeu que Matteo a olhava novamente. Um olhar calmo, atento… mas que ela desviou rapidamente, como quem não queria criar interpretações.

Seguiu em direção ao elevador, mas no último instante duas pessoas se juntaram a Lucas e Émilie, e a sobrecarga fez o painel apitar.

— Vai ter que esperar o próximo, Sophie — Lucas comentou, rindo.

Ela recuou um passo, ajeitando a alça da bolsa no ombro. O segundo elevador chegou, e assim que as portas se abriram, Matteo entrou junto, carregando duas malas de couro que pareciam ter visto muitas viagens.

O silêncio ocupou os primeiros segundos da subida, até que ele falou, a voz grave mas tranquila:

— Você não é de Veneza, certo?

Sophie ergueu o olhar, ligeiramente surpresa.

— Não… Paris. E você?

— Florença — respondeu, com um leve sorriso. — Mas estou aqui por trabalho.

Ela assentiu, curiosa mas contida.

— Também estou. Fotografia.

Os olhos de Matteo brilharam com interesse genuíno.

— Fotografia… arte de capturar o tempo. Sempre admirei quem consegue ver o que os outros passam por cima.

Sophie sentiu um calor inesperado no rosto, mas manteve o tom neutro:

— E o seu trabalho?

— Restauração de obras de arte — disse, pousando a mala no chão. — Tento devolver o tempo às coisas… mesmo que ele não volte para nós.

Por um instante, ficaram em silêncio, mas não foi desconfortável. O som suave do elevador parecia marcar uma pausa no ritmo do dia.

Quando as portas se abriram, Matteo fez um gesto com a mão.

— Depois de você.

Sophie agradeceu com um leve aceno e saiu. Não sabia explicar por quê, mas sentiu que aquela não seria a última vez que conversariam.

Matteo pegou um mapa antigo que estava sobre a escrivaninha de Sophie, desenrolhado com cuidado.

— Aqui está a Veneza que poucos conhecem — disse ele, apontando para ruas estreitas e pontos fora do circuito turístico.

Sophie se aproximou, fascinada pela precisão dos detalhes. Ele falava com paixão sobre cada esquina, cada ponte, as histórias que as paredes guardavam.

— Às vezes, a verdadeira beleza está no invisível — comentou Matteo. — No reflexo da água, no sorriso de um velho morador, na sombra de uma gôndola.

Sophie respirou fundo, sentindo a inspiração pulsar forte dentro dela.

— Então, quando começamos essa exploração?

— Agora — respondeu Matteo, estendendo a mão.

Ela a apertou sem hesitar.

---

A tarde passou rápida entre clicks da câmera e conversas que fluíam naturalmente. Eles caminharam por becos onde o tempo parecia parado, fotografaram fachadas cobertas de musgo e detalhes que poucos reparavam.

Quando o sol começou a se pôr, estavam na Ponte dei Sospiri, olhando para as águas calmas do Grande Canal.

— Obrigado por me mostrar tudo isso — disse Sophie, sentindo uma mistura de alegria e nostalgia.

— Eu que agradeço — respondeu Matteo, olhando nos olhos dela. — A arte, no fim, é feita de momentos compartilhados.

O crepúsculo tingiu o céu de tons alaranjados e roxos, e, por um instante, os dois ficaram ali, em silêncio, deixando que a magia de Veneza os envolvesse.

.....

Pouco depois, o telefone de Sophie apitou com uma mensagem da agência. Ela franziu o cenho ao ler as instruções: no dia seguinte, teria que estar no local desde a montagem da festa — o maior evento do ano em Veneza — para fotografar tudo para o jornal.

Sophie suspirou e comentou para Matteo:

— Acho que vou precisar descansar bem esta noite. Amanhã vai ser um dia longo.

Ele sorriu, compreensivo.

— Faz bem. Um bom fotógrafo precisa estar descansado para enxergar o inesperado.

Eles seguiram conversando sobre arte e fotografia enquanto caminhavam de volta para o hotel, a luz das ruas refletindo nos canais. No lobby, antes de irem para seus quartos, Matteo a surpreendeu:

— Que tal jantar juntos? Não muito longe, só uma companhia para essa noite.

Sophie aceitou, e foram ao restaurante do hotel, onde o ambiente aconchegante e as conversas fluíram entre pratos italianos e vinhos delicados.

Quando terminaram, trocaram um sorriso cúmplice e se despediram com um simples “boa noite”, cada um seguindo para seu quarto.

Sophie tomou um banho quente, deixando a água aliviar a tensão do dia. Enquanto o vapor preenchia o banheiro, ela pensava na figura carismática e gentil de Matteo, no jeito com que falava sobre o tempo e a arte.

Vestiu um pijama macio, deitou-se na enorme cama confortável e, antes de fechar os olhos, sorriu baixinho.

O sono chegou devagar, embalado pelo silêncio tranquilo de Veneza.

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