Parte 134...CamilaAlguns dias depois...— O que acha da gente sair e comer fora hoje? - me virei de lado na cama — Eu estou querendo sair de casa um pouco.— Só se você não reclamar mais da companhia da enfermeira - Alejandro ergueu a sobrancelha — Ela me disse que você fica reclamando e sabe que ela só está fazendo o trabalho para o qual eu a pago.— Ah... - suspirei — Tudo bem, eu vou parar de reclamar, mas acho que já posso sair de casa - sentei — Eu já estou tempo demais aqui dentro, Alejandro... Só saio para ver o médico.— Então vamos comer fora - ele se inclinou e passou a mão em minha barriga — É impressão minha ou está maior?— Sim, estou maior - olhei para minha barriga, um pouco mais saliente mesmo. Já sinto até uma leve pressão — Acho que seu filho ou filha começou a se animar aqui dentro.— E eu fico feliz com isso... E preocupado também. Por isso que aumentei a segurança e quero que você pare de mandar a enfermeira sair.— Ok, eu prometo. - fiz uma careta — E agora, se
Parte 135...CamilaEu sei que Alejandro anda desconfiado de tudo e todos, mas dessa vez, eu realmente acho que foi só um caso de confusão. O pobre homem saiu apressado com o rosto vermelho, depois do susto com os dois seguranças.E agora sei que estão atrás do coitado. Só espero que não façam nenhuma bobagem. Andei rápido, segurando a mão dele e desviando das meses. Alejandro seguia de cara fechada.Ainda olhei para trás e vi Malena falando com Gabriel. Parecia que ela tambem estava tentando explicar algo para ele.— Entra! - ele abriu a porta do carro para mim — Coloca o cinto!— Para de mandar em mim, Alejandro! - me chateei. — Eu sou sua esposa!— Eu sei disso! - ele bateu a porta e deu a volta no carro — Vamos para casa. Eu sabia que não deveria ter saído.— Que bobagem, Alejandro - coloquei a mão em sua perna e ele tirou. Decidi ficar quieta.Ele acelerou o carro e o tempo todo estava calado, de cara feia. Com certeza estava se controlando. Ainda em pra mim.Quando chegamos em c
Parte 136...CamilaTrajano se espantou quando passamos por ele no corredor e andou apressado na frente, para abrir a porta, enquanto Alejandro corria comigo até o carro. As mãos dele tremiam quando abriu a porta e me acomodou no banco, colocando o cinto de segurança com uma delicadeza desesperada.— Aguenta, Camila... - repetia quase como uma oração, enquanto Zeus pulava para o banco de trás, sem ser mandado. — Trajano, avise aos outros. Estamos indo para o hospital.— Mas é claro que aviso, senhor.Vi quando os seguranças correram para o carro também, para nos seguir. O carro arrancou com um ronco forte, os pneus cantando na brita e saímos pelo portão já aberto.A cada solavanco, eu gemia baixinho, e via, pelo canto do olho, Alejandro apertar o volante com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos.— Fala comigo - pediu, rouco. — Qualquer coisa, Camila. Não dorme. Fala comigo.— Estou... Tentando... - sussurrei. — Mas não vou dormir com essa dor...Meu corpo parecia cada ve
Parte 137...CamilaAlguns meses depois...O sol se punha lentamente atrás dos muros altos da propriedade, tingindo o céu de laranja e dourado. A casa parecia mais viva do que nunca, com empregados correndo de um lado para o outro, flores sendo entregues, músicos testando seus instrumentos e a cozinha exalando aromas que deixavam até Zeus, deitado na varanda, com a língua de fora de tanta expectativa.A tão sonhada cerimônia que Celeste havia planejado com tanto fervor, finalmente aconteceria hoje à tarde, mesmo que contra a vontade dela, fosse uma celebração íntima em casa.Pra mim estava ótimo assim. Com o peso da minha barriga, eu nem queria ficar andando muito. Alejandro nem precisava mais ficar reclamando para que eu ficasse calma no quarto, em repouso. Eu mesmo já queria isso.Quando fomos fazer a ultrasonografia, descobrimos que não era apenas um, mas dois bebês que eu tinha comigo, o que me causou uma grande surpresa e mais ainda para Alejandro.Mas o médico já tinha me alerta
Parte 138...AlejandroSubi as escadas a passos firmes, ajeitando a camisa e pensando no paletó que parecia mais sufocante a cada segundo. Pela hora, talvez eu só use durante a cerimônia e depois me livro.As flores já estavam no lugar, o altar improvisado no jardim, comidas e tudo mais pronto. Só faltava minha mulher descer.Sorri de lado só de pensar. Minha mulher. Pela segunda vez iríamos nos casar. Passei a mão pelos cabelos, já imaginando como Camila ia ficar linda, mesmo bufando de irritação por causa da cerimônia que ela queria menor, mas minha mãe não abriu mão. Eu já a conhecia bem: ela ia reclamar, resmungar, ameaçar me matar e ainda assim, estaria mais bonita do que qualquer noiva de igreja de novela. Mesmo com o barrigão. Me aproximei do corredor que levava ao quarto e ouvi passos apressados.— Alejandro! - ouvi Malena gritar.Virei a cabeça e vi as duas descendo a escada quase correndo, segurando os vestidos.— Que porra é essa? - franzi a testa.— É a Camila! - Clara ar
Parte 139...CamilaMeu Deus, nunca senti tanta dor assim. Agora estou morrendo de medo. Não sei se isso é normal ou se é porque eu tive meu problema com o quadril.As contrações estavam vindo mais fortes e em um intervalo menor. Me sinto muito ansiosa. Quero logo que isso passe. Tanto porque quero ver os meus filhos ao meu lado e também porque quero que essas dores acabem.Finalmente o médico veio me ver. Com Alejandro ao meu lado, ele fez o exame e disse que eu já estava com oito centímetros de dilatação. Logo eu poderia fazer o parto.— Já vamos preparar a sala de parto para receber você, Camila. Quando ele saiu, Alejandro se inclinou e alisou minha testa suada.— Está doendo muito?— Está sim - soprei o ar e engoli em seco — Estou com medo, Alejandro - senti lágrimas na bochecha.— Não fique, vai dar tudo certo - ele mexia em meu cabelo.Senti outra contração e apertei a mão dele, mordendo o lábio.— Ai... Merda, Alejandro... A culpa é sua.— Minha? - apertei mais sua mão — Ok...
Parte 1...CamilaEu tinha acabado de chegar de uma consulta na clínica de sempre, mas era só uma rotina. Como minha perna estava me incomodado um pouco, eu achei melhor falar com o médico.Eu ainda sentia o eco das palavras do médico na consulta, enquanto o carro percorria as ruas que levavam de volta à nossa casa. A dor na perna era incômoda, mas suportável. O doutor, como sempre, reforçava que eu precisava manter os exercícios de fisioterapia. Às vezes, eu me perguntava se ele achava que eu era menos teimosa do que realmente sou.Eu só parei com a terapia, tempos atrás, porque não estava me incomodando. Acho que esses dias eu exagerei na natação.Assim que entrei na sala de estar, minha mãe estava sentada no sofá, bordando alguma peça de roupa como fazia quando queria distrair a mente. Ela ergueu os olhos e sorriu com ternura, mas não parou o bordado.— Como foi no médico, querida? - ela perguntou, sem desviar as mãos do trabalho.— Nada demais. Ele só reclamou da minha falta de p
Parte 2...CamilaEu estava saindo da cozinha e ao passar em frente do escritório de meu pai, parei ao ouvir a voz de minha mãe.— Eu sei da importância desse acordo, meu marido... Mas você não acha que ela deveria poder escolher?— Escolher o quê, Valéria? - a voz de meu pai era seca — Nossa filha é aleijada.— Pelo amor de Deus, homem, não fale assim dela - encostei o ouvido na porta ao ouvir minha mãe retrucar — Camila não é aleijada.— E ela manca porque motivo, então? - ouvi um som forte, como uma cadeira sendo arrastada — É um charme dela?Ouvir aquilo me deixou triste. Meu pai nunca aceitou meu problema, que nem mesmo foi criado por mim. Aliás, se existe um culpado disso dentro dessa família, ele é quem deve se sentir assim. Eu fui uma vítima.— Por que você tem que ser frio dessa forma, Hector? Ela é sua filha. Sua única filha!O silêncio que se seguiu foi tão cortante quanto as palavras do meu pai. Encostei a mão na maçaneta, hesitando entre entrar e enfrentar aquela discussã