“José Miguel”
Eu parei ao lado da cama da Carmem e a observei dormindo ali tranquilamente enquanto havia causado o caos no meu mundo outra vez. Era como se ela me condenasse a carregar mais uma culpa, como se ela testessa até onde eu suportaria.
Da outra vez, quando ela tentou tirar a própria vida, eu me sentei ao lado da cama dela e senti mais do que a culpa, eu senti pena, um certo desespero, uma tristeza profunda diante da dor dela em continuar viva depois de perder a filha.
Mas dessa vez eu sentia tão diferente! Eu não me sentei, eu a observei de pé e notei dessa vez algo que eu não tinha notado antes, sua expressão estava tão serena, tão calma, eu diria que havia quase um sorriso em seu rosto. E isso foi meio perturbador pra mim, porque da primeira vez a expressão dela era de dor, mas agora havia serenidade.
Mas não era só a Carmem que parecia diferente, eu me senti diferente. Era como se uma parte de mim sentisse a culpa pesando cada vez mais, a responsabilidade pela dor e dese