"As razões de nossos atos são obscuras e os impulsos que nos impedem para a ação ficam profundamente ocultos."
Charlotte Sanchéz.
Na manhã seguinte, havia acordado um pouco mais cedo, para acompanhar a Francinny até o pátio. Levantei ainda tristonha e me aproximei de Francinny.
— Então é hoje... — sorri desanimada.
— Eu sei que está triste agora, mas você terá uma surpresa que te animará.
— Como assim? Que surpresa?
— Não seria surpresa se eu contasse.
— Tudo bem, mesmo assim, sentirei sua falta.
— Eu também sentirei muito a sua.
Francinny se aproximou um pouco mais e me deu um abraço apertado.
Ao terminarmos de nos trocar, descemos as escadas e seguimos até o pátio do colégio. Assim que já estávamos no exterior do internato, os pais da Francinny já estavam a esperando. Novamente a abracei e me despedi.
Assim que Francinny partiu, entrei no colégio e segui em direção ao refeitório, mas assim que virei o corredor, avistei Polo, meu primo e meu melhor amigo. Polo e eu sempre nos demos muito bem e desde crianças, nós fazíamos muitas coisas juntos, mas depois que Francinny e sua família contou que iriam se mudar para Paris, um mês depois, Polo e sua família também decidiu ir embora para o país e desde então, nós tivemos dificuldades em nos comunicar.
Rapidamente me aproximei de Polo e lhe dei um abraço apertado, com um sorriso entusiasmado.
— Polo! Não acredito que seja você.
— Surpresa — sorriu animado.
— Então era essa a surpresa que a Francinny estava falando? Porque se for, eu amei!
— Que bom que gostou, porque eu amei saber que você também estaria aqui.
— Você veio estudar aqui?
— É claro e agora nós podemos fazer muitas coisas juntos outra vez.
— Eu não acredito, isso é ótimo!
— Então, você me ajuda a conhecer o colégio?
— É claro, mas que tal passarmos no refeitório primeiro? Porque estou com muita fome.
— Eu super concordo, até porque eu também estou.
Ao chegarmos no refeitório, entramos e pegamos uma bandeja com um pequeno pote com salada de frutas e um bolinho. Sentamos à uma mesa e começamos a comer, enquanto conversávamos.
Leon Fleury.
Assim que desci para tomar café e entrei no refeitório, avistei Charlotte conversando com um garoto, ambos riam, então deduzi que eles já se conheciam a algum tempo. Eu nunca havia visto esse tal garoto, talvez ele pudesse ser novo no colégio.
Ver ambos conversando na maior intimidade, me fez ter muitas dúvidas sobre a relação dos dois, deixando-me muito intrigado. Fiquei os observando sutilmente, tentando não manter a minha fisionomia emburrada, mas eu estava muito aborrecido e chateado por dentro.
Charlotte Sanchéz.
Assim que Polo e eu terminamos de comer, nos levantamos e o conduzi até a sala de jogos. Ao chegarmos, uma garota nos parou, comunicando que hoje à noite, ela e mais duas de suas amigas, fariam uma pequena "festa" no salão, sem muito barulho para não acordar a diretora e muito menos chamar atenção dos coordenadores. Assim que a garota se afastou, voltamos a caminhar, observando alguns jogos.
— Esse colégio é o máximo! Eu amei a sala de jogos, principalmente os alunos com as festas escondidas.
— Se continuarem assim, acabarão sendo suspensos, ou até expulsos.
— Deixe de ser tão "certinha" e vamos nos divertir.
— Infelizmente a Francinny se foi, mas em compensação, eu ganhei sua presença e foi um dos meus melhores dias.
— Eu também te amo.
Algum tempo depois, seguimos para a aula. Ao chegarmos na classe, entramos e nos sentamos à uma carteira, na última fileira.
Assim que o professor entrou na classe, o mesmo olhou para o Polo, pedindo para que ele se apresentasse para a turma. Polo se levantou e prosseguiu:
— Me chamo Polo, tenho dezessete anos e sou espanhol.
— Isso é muito legal, seja bem vindo e aproveite o colégio. Obrigado pela a apresentação — agradeceu o professor.
Polo sorriu levemente e voltou a se sentar.
Conforme o tempo foi passando, pude ver sutilmente o Leon me olhar, ele não parecia muito feliz, Leon parecia frustrado com algo e como ele estava olhando para mim, acabei achando que o seu aborrecimento poderia ser comigo.
Ao terminar a aula, saímos da classe e seguimos em direção ao meu quarto. Entramos e nos sentamos na minha cama.
— Então é aqui seu dormitório. — indagou Polo olhando ao redor.
— Sim, é muito diferente do seu?
— Na verdade não, é igual, acho que todos são iguais.
— Então, animado por estar aqui?
— Sim, melhor do que ficar somente em casa. Eu nunca fazia nada, era da escola para casa e de casa para a escola, depois eu não fazia mais nada, então aqui terá um pouco mais de diversão, eu acho.
— Talvez tenha futuramente, mas agora a única coisa que fiz foi estudar, ganhar alguns novos amigos e ir para uma segunda festa.
— Espera, já teve uma outra festa?
— Sim, mas foi no segundo dia, festa de boas vindas e agora, uma festa escondida.
— Viu, isso já é diversão e garanto que terá mais.
— Você e sua mania festeira.
— Bem, voltarei para o meu quarto, antes que algum coordenador chegue... se divirta com o seu quarto apenas para você.
— Tudo bem e sobre o quarto, quem me dera se a Francinny ainda estivesse aqui para dividi-lo comigo.
Polo se levantou e se retirou.
Algum tempo mais tarde, assim que o relógio havia marcado dez da noite, ouvi duas batidas leves na porta. A abri e avistei Polo com um sorriso animador em seus lábios.
— Pronta para a festa?
— Não muito, estou cansada, mas eu vou por você e prometo me animar.
— Muito obrigado gatinha.
— Então, vamos?
— É claro.
Descemos as escadas silenciosamente e seguimos para o salão. Ao chegarmos, paramos em um canto da festa. Haviam algumas luzes, mas estavam fracas e a música estava em um volume médio.
— Tenho certeza que a primeira festa foi mais divertida.
— E foi, mas o quarto da diretora e dos coordenadores ficam afastados do salão, então garanto que se aumentasse um pouco mais o som, ninguém ouviria.
— Bem que alguém poderia avisá-los sobre isso.
— Bom, eu que não serei.
Algum tempo depois, uma garota alta, com cabelos cacheado e parda, se aproximou de mim e do Polo.
— Oi, vocês estão namorando? — indagou a moça.
— Não, nós somos apenas primos — respondeu Polo.
— Então, você se importaria se eu conversasse a sós com você?
— É claro que não, você se importa Charlotte?
— Não mesmo, pode ir.
Assim que a moça e o Polo se afastaram, Leon se aproximou.
— Boa noite, como você está?
— Bom noite, estou bem e você?
— Estou ótimo — sorriu. — Então, eu estava observando você e seu amigo hoje de manhã no refeitório e não pude deixar de reparar que vocês pareciam ter uma grande intimidade, você o conhece faz tempo?
— Sim, o Polo é meu primo, ele começou a estudar hoje no colégio.
— Ah, certo, achei que fossem namorados.
— Não mesmo! Somos somente parentes.
— Ah, sim... então a Francinny já foi, ainda está triste pela partida dela?
— Um pouco, mas o Polo está aqui, então isso me animou... sabe, é sempre bom ter uma pessoa que você conhece há muito tempo.
— Entendo e você tem razão, é sempre bom, nós nos sentimos mais confortável.
— Exatamente.
— Tem falado com o Thierry hoje?
— Não, na verdade, ele tem estado com os amigos dele e eu com o meu primo, e foi muito bom passar um tempo com o Polo, depois de tanto tempo afastados.
— Entendo, é sempre bom mesmo.
— Eu fiquei sabendo que meus pais conseguiram as vagas de emprego na empresa e agradeço mais uma vez pela sua ajuda, você irá ouvir muito isso.
— Fico feliz que seus pais tenham conseguido, eu estava torcendo muito por isso e mais uma vez, não precisa agradecer, eu te ajudarei quantas vezes você precisar.
— Obrigada Leon, de verdade e se você precisar de algo, pode me dizer, eu sentirei prazer em lhe ajudar.
— Agradeço, quando eu precisar eu te falo.
Leon Fleury.
Eu tinha ficado mais tranquilo em saber que Polo e Charlotte eram apenas primos, isso havia me deixado mais calmo.
Charlotte e eu estávamos conversando e percebi que ela estava um pouco mais confortável ao meu lado, e isso fez com que eu me alegrasse, assim eu poderia aproveitar mais esse tempo e me aproximar cada vez mais dela.
Charlotte Sanchéz.
Passar esse tempo com o Leon na festa, havia me animado e me confortado, pois o Polo ainda estava com a garoto e não seria nada agradável ficar sozinha em uma festa, então a presença de Leon me agradou muito.
Algum tempo mais tarde, a festa havia terminado, nós saímos do salão e retornamos para o colégio.
O Polo ainda estava com a garota e eu não queria atrapalha-los, então resolvi subir para o meu quarto, mas assim que eu estava subindo as escadas, Leon se aproximou e começou a me acompanhar. Ao chegarmos no meu dormitório, paramos de frente a minha porta.
— Então, agora está sozinha em um quarto, não acha isso uma grande sorte?
— Sim, mas ainda preferiria que a Francinny estivesse aqui.
— Entendo, mas pense pelo lado bom, este quarto será apenas seu até a Francinny voltar.
— Exatamente, talvez eu devesse aproveitar mesmo.
— Com certeza você deveria aproveitar essa oportunidade.
— Farei isso.
— Enfim, eu irei dormir, boa noite.
— Boa noite — sorri.
Entrei no quarto e me deitei, pegando no sono em seguida.