Isabela
Apesar de tudo, eu gosto do morro, mas quem manda lá, deixa o lugar desagradável, aquele maldito homem. Eu luto todos os dias da minha vida com o sonho de sair desse inferno e desse maldito lugar. Daria minha própria vida para ter a minha liberdade e libertar os meus familiares do inferno que está aprisionada e ter que ver aquele homem e aceitar tudo que ele faz com essa comunidade de pessoas carentes que precisam de ajuda e não é vista pela sociedade.
Em determinado momento, ele mencionou sobre relacionamentos e amor, e eu compartilhei algo que o surpreendeu: nunca me apaixonei. Armandinho parou por um instante, olhando para mim com uma expressão de surpresa e curiosidade. Era evidente que aquela revelação não era o que ele esperava ouvir.
— Nunca? — ele perguntou, com um tom de surpresa na voz.
Balancei a cabeça, com um leve sorriso no rosto.
— Compreendo, Isabela. Às vezes, as circunstâncias da vida nos afastam de certas experiências. Mas o amor pode surgir em momentos inesperados, quando menos esperamos.
Assenti… Talvez, em meio a toda a luta e às adversidades, eu ainda possa ter a chance de vivenciar um amor verdadeiro? Quem sabe, mas por enquanto ficarei nos problemas e eles são a minha prioridade agora…
— Quem sabe, Armandinho? A vida é cheia de surpresas. Talvez, um dia, eu encontre alguém que desperte esse sentimento em mim, eu espero ansiosa.
Armandinho sorriu, transmitindo um misto de esperança e encorajamento. — Nunca diga nunca. Isabela! Você é linda e bem jovem, certamente encontrará um bom rapaz que te valorize como você merece! — Que ele te proporcione todas essas sensações das quais você nunca experimentou antes. O amor tem os seus mistérios, ele pode chegar quando menos esperamos. E você merece ser amada e valorizada, com certeza essa pessoa aparecerá…
O senhor Armandinho tem toda razão. Com toda certeza conversarei com Heleno, afinal pago a escola com parte das mensalidades e a outra é porque trabalho nessa escola e tenho desconto.
Para ele estudar e ser alguém na vida e ele prefere aquelas amizades… Mesmo sendo solteira e recusando proposta de namoro, estou bem assim. Não quero ser o exemplo da minha irmã que engravidou e o marido a abandonou, ela sempre dizia que iria encontrar o amor da vida dela, ela o conheceu e eu acreditei que eram felizes.
Na verdade, não sabíamos absolutamente nada sobre ele e desde que chegou ao morro e participou de uma festa, eles se conheceram assim. Até então ele era um completo desconhecido. Bruno dizia que os pais dele não aceitavam o relacionamento dele com uma mulher pobre e favelada. Foi o termo usado por eles… Nem no dia do casamento dele com a minha irmã que estava grávida, nenhum dos parentes dele apareceu, só um amigo. Quando no aniversário de 1 ano dos gêmeos, que hoje têm seis anos, Pietro e Poliana, são os meus amores da tia.
No dia em que Bruno sumiu, ele e a minha irmã Alice discutiram feio por ciúmes, então ele foi embora e não voltou mais. Só eu sei o quanto Alice sofreu com a ausência dele e decidiu esquecê-lo e tentar saber um novo relacionamento. Falando em relacionamentos, nem depois da faculdade, tive tempo para me entregar a romances, pois minha vida era repleta de responsabilidades e desafios financeiros com dívidas no morro. Com o dinheiro da minha profissão, pois sou professora do ensino básico durante o dia, dedico a minha vida transmitir conhecimento e esperança às crianças que cruzavam meu caminho. No entanto, trabalho a noite, eu me transformava em outra personagem. Sob as luzes coloridas e música pulsante, eu me tornava a destemida Isabela, a stripper que buscava uma forma de sustento para minha família e paga a dívida de jogo e de empréstimo do meu, de meu pai ao líder do Morro. Carrego nas costas a responsabilidade de sustentar a casa e arcar com as despesas médicas da minha mãe. No caso do meu pai, ele trabalhava como escravo no bar dele e nem com isso conseguia ter dinheiro para dentro de casa. Meu irmão mais novo. Heleno, muitas vezes se perdia no labirinto perigoso das ruas e já me trouxe muitos problemas.
Alice, minha irmã, é cuidadora de idosos e sobrevive com o salário que ganha e ajuda nas despesas e para sustentar os gêmeos, Poliana e Pietro, de seis anos. O Morro do Corcovado, embora belo em sua natureza exuberante, abrigava um lado sombrio e perigoso que eu sempre odiava. As ruas eram marcadas pela presença constante dos traficantes, impondo sua lei e dominando a vida dos moradores. Os tiroteios eram uma triste melodia noturna, ecoando entre as vielas estreitas.
Odeio viver aqui, mas estamos proibidos de deixar o morro, devido ao líder, por termos a dívida, ele que coleciona várias famas, e uma delas é a de viúvo negro, por matar a esposa com uma surra. Após ter visto ela com outro e ele estava embriagado e agora vive dizendo que morre de paixão por mim. Dizem que me pareço com a falecida esposa dele.
Tudo por me ver dançando numa maldita noite, ele sempre vem a boate e eu dou um jeito de ir logo embora sem ser vista, tenho horror desse homem. Infelizmente não posso abandonar o morro, não podemos sair daqui pelas dívidas do meu pai com os traficantes e o líder da facção, Mário. Falando em problemas, o meu irmão caçula Heleno sempre me mete em cada problema, mas sei que ele precisa de mim. Por isso, trabalho ao dia e à noite e como uma condenada para pagar as dívidas de jogo do meu pai. Graças ao vício dele, estamos presos no morro! Embora eu não acredite muito nisso, ele também se sentiu culpado pelo que aconteceu e era para ele se sentir assim mesmo, amo meu pai e mesmo por culpa dos malditos vício estamos nessa condição, não tenho ódio dele, apesar de que ele se afastou de mim. Aquela maldita noite em que ele não efetuou o pagamento e eles entraram na nossa casa iriam matá-lo.