O Avistamento

─ Não! Aqui não! Venho de outra cidade e já estou na estrada há algum tempo; já passei por duas cidades e três pequenos povoados; e, a cada um desses lugares por onde passei, encontrei um mistério parecido. Todos estão ligados, por isso que fiquei interessado em conhecer e, se possível, desvendar! Mas o mais importante deles é o primeiro: onde eu encontrei uma moça na estrada, eu a levei ao hospital mais próximo e a deixei lá, mas, quando retornei mais tarde, não estava mais lá. Tinha ido embora sem que eu soubesse quem realmente ela era. Desde então eu não consigo esquecê-la!

─ Ela não era da cidade onde você a encontrou?

─ Não sei dizer! Parece que ninguém a conhecia lá. O que me falaram foi que ela pegou carona e saiu da cidade, por isso estou indo atrás de encontrá-la. Estou seguindo as pistas dela, pelos lugares por onde ela passou. Sei que ela passou, porque me informaram que ela está indo para a cidade de Americana, que é para onde estamos indo agora!

A conversa fluía muito bem entre os dois viajantes. Já era noite; a lua iluminava o céu cheio de estrelas, quando no minuto seguinte Josué olha para o alto e vê um objeto que se aproxima pelo ar:

─ Olha aquilo ali! São eles! Estão aqui de novo! Nossa! Será que viram a gente?

John para o carro rapidamente em baixo de uma árvore para mantê-lo escondido. Eles descem do carro e ficam escondidos tentando ver onde a nave iria pousar! Logo outras naves surgiram do nada e pousaram na margem de um lago que fica bem próximo da estrada, e os dois ficam deitados no mato olhando o movimento dos seres estranhos.

─ São esses aí que estiveram na vila onde você morava? Pergunta-lhe John sussurrando no ouvido de Josué, para não fazer barulho que pudesse ser ouvido pelos seres estranhos que ali estavam.

─ Não! Não são esses que eu vi. Esses são muito baixinhos; os seres que eu vi por lá eram grandes e fortes; esses são baixos e magros, responde Josué.

 ─ Mas o que eles estão fazendo? Pergunta John. Não dá para ver, mas parece que estão tirando alguma coisa da água. Espera aí! Vou tentar chegar mais perto, disse John.

─ Eu ficarei aqui vigiando enquanto você vai. Qualquer coisa eu te aviso! diz Josué.

Então John aproxima-se arrastando-se sobre a grama, tentando fazer o mínimo de barulho possível, enquanto Josué dá cobertura para sua aproximação. John já está bem perto quando, de repente, todos os seres se viram na direção de onde John. Josué fica em pânico e tenta avisá-lo, gesticulando para John, que não consegue entender em nada o que Josué está tentando lhe dizer, então os seres esquisitos assustam-se por algum motivo, entram em suas naves e saem rapidamente do local, deixando John ainda mais curioso: “O que será que eles queriam aqui? E o que estavam retirando deste rio?”. John sabe que algo muito estranho está acontecendo nesse lugar. Quem seriam aqueles seres e de onde vieram?  O que eles estão vindo buscar nesse lugar? A maioria dos seres humanos sempre se faz a mesma pergunta: “Será que estamos sozinhos neste universo”. “Existem seres em outros planetas?”. Parece que essa pergunta foi respondida. Será que o governo sabe disso e mantém isso em segredo? Mantém a todos no planeta sem saber que estamos sendo visitados e até sequestrados por esses seres extraterrestres? John e Josué observam o lugar onde os visitantes do espaço estavam; agora procuram algum vestígio do que aqueles seres estavam procurando ali, mas nada é encontrado por eles, nada que os faça entender ou ajudar a solucionar esse mistério, então os dois voltam para o carro e se põem novamente na estrada.

 ─ O que você acha que eles estavam retirando do rio?, indagou Josué.

─ Eu não faço a menor ideia, mas pode ser que estivessem procurando algum tipo de minério! Pescando, com certeza não era! Esses caras com certeza não vieram de tão longe só para pescar aqui!, disse John rindo bastante.

─ Pois é! Também acho! E cada vez fico mais curioso com tudo isso. Temos que investigar mais e chegar ao fundo dessa história. Não podemos deixar esses caras virem de outro lugar, chegarem aqui, roubarem nossas famílias e pensarem que está tudo bem. Vamos pegá-los!, disse Josué.

─ Com certeza, irmão, vamos pegá-los e resgatar a sua família! Ainda vamos pô-los para correr daqui. O que esses ETs estão pensando? Que podem vir aqui e fazer o que quiserem, e nada acontece com eles? Vamos mostrar a eles que isso não pode! Disse John mostrando-se enfurecido com tudo isso que está acontecendo.

Depois de alguns quilômetros na estrada, já se pode ver as luzes da cidade de Americana, o destino de John, onde ele espera encontrar sua inesquecível Elizabeth. Já faz algum tempo desde quando John a viu pela última vez. Ele se lembra bem de seu rosto, mas John também sabe que ela não terá lembranças dele, afinal, na ocasião em que ele a encontrou, ela estava sem sentidos, estava completamente desmaiada.

Mas ele nunca desistiu nem por um dia de tentar encontrá-la novamente, por isso viajou tantos dias e noites até esse destino, que agora se aproxima, e enfim John e Josué chegam à cidade de Americana, que, se for comparada com as outras localidades por onde John passou, é sem dúvida uma cidade grande, com alguns prédios de cinco a dez andares, ruas cheias de carros e muitas pessoas andando pelas ruas sob o dia de sol, um fato que é normal em uma grande cidade como essa. Às vezes faz um pouco de frio e até chega a cair um pouco de neve, sobretudo quando o inverno é rigoroso. John sabe que não será tão fácil encontrar alguém nessa cidade, em meio a tanta gente que circula por aí, para John que já viajou por tantos lugares e por tanto tempo até encontrar esse lugar, que sem dúvida foi um dos melhores por onde passou. Agora, estando ele ali, sequer pensa em desistir de encontrá-la, de buscar incansavelmente seu amor. Josué, por sua vez, é um rapaz nascido e criado no interior. De onde ele vem, não existem prédios, muito menos carros como os que ele vê agora; nunca havia saído de lá; nunca saiu da vila onde nasceu; morou naquele lugar por toda a sua vida, por isso se sente impressionado com tudo que vê. John já é acostumado com as viagens e passa por muitas, então não se admira tanto com tudo que presencia. Vive viajando de cidade em cidade por muito tempo desde que ele ficou viúvo. É um negociante, por isso viaja tanto. John já esteve nessa cidade outras vezes; e, quando chega, costuma se hospedar sempre no mesmo lugar, o hotel “Gran Vista Vitória”, o melhor da cidade e o mais luxuoso de todos. A recepcionista já até o conhece e sabe bem os seus gostos. Ele é um rapaz muito simples e não liga muito para luxo, mas gosta sempre de ficar nesse hotel, e em especial na suíte 1004, que fica no décimo andar, pois esse quarto tem certo valor sentimental para ele, já que lhe traz recordações inesquecíveis, por isso, sempre que John vai a essa cidade, é nessa suíte que ele costuma ficar, então eles entram no hotel, se dirigem à recepção e são recebidos pela recepcionista do hotel, a bela Paola.

─ Olá! Como vai o senhor? Já faz tempo que o senhor não aparece aqui no Hotel!, disse Paola.

─ Sim! Faz! Estive fora por um tempo, responde John.

─ Muita satisfação em vê-lo de novo! Seja bem-vindo ao nosso Hotel.

─ Muito obrigado, responde John.

─ O senhor deseja um apartamento? Pergunta-lhe a recepcionista.

─ Sim, por favor.

─ O senhor gostaria de ficar na suíte de sempre?                  

 ─ Sim, obrigado! Preciso de um bom quarto para dormir. Foi uma longa viagem; estou quebrado!

─ Pode ser a suíte de sempre então, senhor? Está desocupada no momento, disse Paola.

─ Sim! Pode ser. É um ótimo quarto esse!

 ─ O senhor deseja mais alguma coisa, senhor? Onde está a sua bagagem? Pergunta Paola, que tem como principal preocupação cuidar muito bem de seus hóspedes.

─ Eu trouxe pouca coisa nessa viagem! Não se preocupe, querida. Nós mesmos levamos! Obrigado, responde John dirigindo-se ao elevador do hotel, cuja suíte fica no décimo andar do edifício, que tem doze andares ao todo e fica situado bem no centro da cidade de Americana. Josué nunca esteve em um lugar como esse, logo não sabe nada sobre como subir de elevador e pergunta a John:

─ Nossa! Nós vamos subir tudo isso pela escada, é? Vamos ficar mais cansados do que se nós andássemos a viagem toda até aqui! Pergunta Josué, e John esboça um sorriso e responde:

─ Não, rapaz! Tem o elevador para nos levar até lá em cima; é só entrar aqui nesta caixa de metal! Entrar e esperar a porta abrir novamente no andar que queremos. E os dois entram no elevador, John aperta o botão do andar correspondente, a porta se fecha, e o elevador começa a subir. John olha para Josué, que está ficando pálido e suando muito.

─ Você ´tá se sentindo mal, rapaz? Pergunta John.

─ Não! ´Tá tudo bem! Só que, quando esse negócio começou a subir, parece até que o meu sangue desceu todo para o meu pé!, respondeu Josué, que é de cor morena, mas já estava ficando com a pele branca de tanto medo do elevador, então a porta se abre, e ele pula rapidamente para fora.

─ Calma, rapaz! disse John.

─ Esse negócio é muito ruim de andar nele. É melhor subir pelas escadas da próxima vez!, disse Josué. John abre a porta da suíte, entra e põe a sua mala no tapete da sala junto à parede.

─ Você fica naquele quarto! Disse John, apontando a direção, indicando o quarto em que Josué irá ficar. Eu fico nesse; é o meu preferido! Sempre que venho aqui, fico neste mesmo quarto. Isso já há muitos anos. Foi aqui que eu a conheci!

─ Quem? A moça que você ajudou na estrada?, pergunta Josué.

─ Sim! Ah! Quero dizer: Não. A minha esposa que morreu! Responde John, enquanto olha pela janela do quarto em direção ao horizonte lá fora. Nessa hora, Josué pode notar uma grande tristeza em seu olhar, e sai do quarto deixando John só com seus pensamentos. Josué carrega consigo um problema semelhante ao de John, e talvez até mais terrível, afinal ele não presenciou a morte de sua família, mas sim viu coisa ainda pior: sua família ser raptada bem na sua frente, e ele não pôde fazer nada para evitar. Sabe muito bem o que o seu amigo está sentindo nesse momento. John limpa rapidamente pequenas gotas de lágrima que se formaram em seus olhos, pega a toalha e vai ao banheiro tomar banho. Logo terá que sair, fazer o reconhecimento da cidade, afinal ainda há muita coisa a fazer. Ele precisa achar pistas que possam levá-lo a encontrar Elizabeth nessa cidade em meio a uma multidão de pessoas desconhecidas que vagueiam pelas ruas, de um lado a outro, sem sequer tomar conhecimento das necessidades ou dores das outras pessoas que passam ao seu redor. Josué também aproveita para tomar um banho naquele banheiro que, para ele, parece tão grande quanto a casa onde ele morava. São tantas louças de diferentes formas, e nunca tinha visto duas pias em granito preto no centro, com uma cuba dourada; um vaso com tampa de vidro e com detalhes também em dourado; um bidê tão grande que mais parece um trono destinado à realeza; uma enorme banheira no formato triangular com painel de controle ao lado para funções de uso; dois registros dourados com as funções água quente e fria à escolha do cliente, mas Josué prefere usar mesmo é o velho e bom chuveiro com que ele tem mais afinidade.

Logo após o banho, os dois saem pelas ruas da cidade em busca de um bom restaurante para o almoço merecido. Durante o caminho, John observa as pessoas passando e tenta encontrar um rosto conhecido em meio à multidão. São muitos os rostos, muitas as pessoas que passam por ele, em diferentes direções; pessoas com tipos e estilos diferentes. Mulheres morenas, claras, negras, de cabelos curtos, longos, loiros, negros etc. John sabe que em seu coração existe um sentimento que tem endereço certo e não tem como se enganar, e mantém a esperança de que logo terá seu sonho realizado; ele pode sentir isso em seu coração.

Enquanto caminha, John vê na esquina da rua um lugar conhecido por ele, onde ele já esteve outra vez quando foi a essa cidade. É um bom lugar para começar a buscar pistas de como encontrar Elizabeth. Restaurantes são lugares públicos, frequentados por muitas pessoas, de muitos locais diferentes da cidade, logo, por ser um local muito visitado, pode-se tornar fácil saber se alguém a viu. John e seu amigo Josué entram no restaurante, escolhem uma mesa e ficam aguardando o garçom. Depois de alguns poucos minutos, seu Ismael vem atendê-los. O garçom chega e lhes entrega o cardápio, enquanto junta os copos e os pratos que estavam sobre a mesa, pertencentes aos clientes que estiveram almoçando minutos antes àquela mesa. John faz seu pedido: bife com batata frita e sugere o mesmo a Josué, que, por falta de oportunidade no local de onde viera, não teve acesso à escola, razão por que não sabe ler, e os dois almoçam calados. Nenhuma palavra, e se concentram apenas na refeição. De repente, Ismael – o garçom – quebra o silêncio e pergunta:

─ Os senhores desejam mais alguma coisa? John olha para ele e diz:

─ Sim, senhor. Eu lhe seria muito grato se você pudesse me ajudar com uma informação! Tirou uma pequena foto de seu bolso, cuja impressão foi obtida do arquivo de vigilância do hospital onde ele havia deixado Elizabeth. De posse dessa foto, passa para seu Ismael, que a olha atentamente.

─ O senhor já viu essa moça por aqui? Pergunta-lhe John na esperança de obter uma boa resposta do garçom. Ismael olha atentamente aquela foto por alguns minutos, depois se dirige ao balcão do restaurante e fala com o balconista, mostrando-lhe a imagem daquela linda jovem. John o observa de longe enquanto o balconista gesticula enquanto responde à pergunta do garçom. Gesticula e balança a cabeça dando sinal de positivo, dando a entender que sim, e esse gesto deixa John profundamente feliz, afinal de contas essa é a primeira vez que ele perguntou sobre Elizabeth, e tudo leva a crer que terá sucesso em sua busca. Logo o garçom retorna à mesa de John, trazendo a resposta para sua pergunta tão preciosa; e, junto com essa resposta, a esperança de que irá encontrar aquela a quem tanto procura. O garçom traz no rosto um sorriso aparentemente feliz, passos curtos, olhar firme e fixo, ao mesmo tempo atento a tudo o que acontece a seu redor. Ele se sente feliz por poder ajudar um cliente. Chegando à mesa, seu Ismael entrega a foto a John e diz:

 ─ Quando o senhor me passou a foto, pude logo ver que essa moça não me era estranha; já tinha visto esse rosto bonito por aqui, por isso fui confirmar com o rapaz que fica no balcão. Ela realmente esteve aqui sim!

 ─ Quando?, pergunta John enquanto se levanta da cadeira.

 ─ Já faz umas duas semanas que ela veio junto no carro com o rapaz que traz as verduras e as frutas para nós. Ele disse que a encontrou na estrada e deu uma carona para ela até aqui; ela ficou aqui com ele enquanto descarregava o pedido. Depois que ele terminou de fazer a entrega, foram embora juntos!

─ Você sabe me dizer para onde esse rapaz foi? Ou onde ele mora? Eu gostaria muito de saber!

─ Sim, claro! Sei onde ele mora. É um grande amigo meu, mas o senhor não vai fazer nenhum mal a ele, vai? Essa mulher é por acaso sua esposa? Ela que fugiu de casa? Se for isso, prefiro não dar o endereço dele!

─ Não! De forma alguma eu faria mal a ele! Ela é realmente da família, mas não há nenhum problema sério afetivo; a não ser pelo fato de que ela está com problemas de memória, por isso ela saiu de casa sem avisar a ninguém da família, e todos estão muito preocupados com ela.

─ Se é assim, tudo bem. Vou pegar o endereço dele, respondeu seu Ismael, e John dá essa explicação falsa, pois de outra forma não obteria o endereço das mãos de seu Ismael; não seria fácil para ele ter que explicar toda a história assim de repente; talvez ficasse ainda pior para resolver, sendo seu Ismael um homem das antigas, porém ele acreditou na história de John e saiu para buscar o tão esperado endereço. Nesse momento é possível ver a felicidade no rosto de John por estar próximo de encontrar todas as respostas que já vem há algum tempo procurando, e tudo indica que se aproxima o momento que tanto espera: encontrar Elizabeth de novo. Seu Ismael retorna lentamente entre as mesas. Ele já é um homem velho, com seus sessenta e dois anos de idade. Ainda trabalha mesmo após se aposentar, pois não gosta de ficar parado, embora seus movimentos já não sejam mais como antes. Além de tudo, ele tem que ajudar sua filha, Adriana, a cuidar de sua neta, Patrícia, que acabou de completar seu primeiro aninho de vida, por isso não pode deixar de trabalhar e curtir sua tão sonhada aposentadoria. Já de volta, traz consigo um pedaço de papel nas mãos. Ainda está um pouco desconfiado da história de John, por isso volta a perguntar:

 ─ O senhor realmente não vai fazer nada de ruim com aquele rapaz, meu senhor, certo?

─ Sim! Acredite, meu bom homem. Não vou fazer nenhum mal a ele. O senhor pode confiar em mim! Minhas razões são muito boas em relação a ele. Só tenho que agradecer por ele tê-la trazido em segurança até aqui!, responde John, agora de posse do endereço onde poderá encontrar Elizabeth, então ele paga a despesa do restaurante e sai em busca de encontrar o local descrito naquele pedaço de papel. A seu lado, seu fiel escudeiro e amigo Josué, que agora anseia muito pela felicidade do amigo John, que o encontrou na estrada há pouco tempo passando um momento triste de sua vida e o trouxe com ele nessa viagem. John sabe que Josué estará junto com ele nessa jornada, já que está sempre na esperança de poder reencontrar a sua própria família, que foi levada por seres que ele não sabe dizer a origem, mas que acredita poder encontrar com a ajuda de seu novo amigo John.

Eles já estão de volta à rua, param para pegar um táxi para chegar até o local escrito no papel, já que John saiu do hotel a pé deixando seu carro estacionado na garagem do edifício e não quer perder tempo indo até lá buscá-lo, mas sim quer chegar logo ao tal endereço descrito naquele pedaço de papel. Não há mais tempo a perder, faz sinal de parada e logo um táxi para a sua frente:

─ Aonde o senhor deseja ir, por favor? Pergunta-lhe o taxista. E John mostra a ele o papel com o endereço escrito.

─ Esse lugar é um pouco longe, senhor. Fica do outro lado da cidade!

─ Não tem problema! Podemos ir, responde John. Ele sabe que o taxista poderá levá-los com maior precisão ou diretamente ao endereço escrito no papel; se fosse ele, ainda teria que procurar o lugar; e, por não conhecer bem essa parte da cidade, iria demorar muito tempo até encontrar o local certo. Assim, com alguém acostumado a andar por esses lugares, ganharia tempo, então a viagem começa. O motorista do taxi é muito habilidoso e conhece muito bem as ruas da cidade. Ele procura sempre andar pelas ruas com bem poucos movimentos. Há muito tempo ele trabalha no ofício de motorista de táxi, e não é sempre que ele consegue pegar uma boa corrida assim como essa, na qual tem o dever de cruzar a cidade com um passageiro que nem ao menos tentou fazer uma barganha ou um acerto de preço antes. Pelo trajeto longo que vão percorrer, tentar uma barganha seria normal nesse caso, mas o taxista sabe que essa corrida lhe renderá um bom dinheiro e que até poderá comprar aquele presente especial que já há algum tempo espera para presentear seu filho, que acabara de completar cinco anos de idade. Ao seu lado, no banco do passageiro, John só pensa no momento em que encontrar Elizabeth e no que ele irá dizer a ela, porque ela pode não ter lembranças dele. Na verdade, ela não fugiu dele naquele momento, mas sim simplesmente acordou naquele hospital e saiu por aí. Talvez nem soubesse como foi parar naquele lugar, pois, quando John a encontrou, estava inconsciente. Por outro lado, pretende descobrir quem ela é, pois se parece tanto com sua falecida esposa. Seria ela uma irmã de Elizabeth? Alguém que ele não chegou a conhecer? Pois sua esposa nunca mencionou em nenhum momento ter uma irmã. Nada que ele lembre agora, pelo menos até aquele momento, e a vida de sua esposa Elizabeth sempre foi um verdadeiro mistério para ele.

John lembra que, no dia do enterro de sua esposa Elizabeth, somente ele e alguns amigos do casal estiveram no cemitério para o enterro.  Nenhum parente dela compareceu ao funeral. Na verdade, ele nunca conheceu nenhum irmão ou irmã de Elizabeth – isso se ela realmente tinha algum parente. O fato é que ela nunca falou de sua família para ele enquanto estiveram juntos, e agora, lembrando isso, John pensa que é de fato muito estranho para ele. Isso traz de volta a seus pensamentos velhas lembranças, como no dia em que ele a conheceu, durante uma viagem de férias. John havia embarcado em um navio que cruzaria o mar, mas que faria algumas paradas em cidades próximas ou que ficassem pelo percurso que a nau faria, no entanto seu primeiro contato com Elizabeth foi em Noronha, uma ilha onde o navio ancorou por uns dias. Lá ele a conheceu, durante uma festa que foi oferecida pelo capitão do navio aos passageiros. Nessa noite ele havia bebido um pouco demais e, para tentar fazer passar o efeito da bebida, resolveu sair do navio e caminhar um pouco pela praia. No começo estava tudo muito bem, mas, no decorrer do tempo em que ele caminhava, foi-se sentindo um pouco diferente, ficando um tanto cansado. Depois de algum tempo caminhando pela praia, seu mal-estar não passava. De repente, sentiu sua cabeça rodar, resolveu parar e sentou-se na areia. Ficou ali por um tempo descansando, deitou-se um pouco na areia fria da praia e aproveitou para olhar para o céu, que nesta noite estava repleto de estrelas. Ele lembra que em algum momento, durante seu descanso, gritou aos céus, mesmo deitado, levantando os braços e dizendo:

 ─ Tem alguém aí em cima no céu que me ouve? Deus, por favor, mande alguém para mim! Alguém que seja especial, o meu amor, eu estou muito sozinho aqui! E, depois de algum tempo, após ele gritar aos céus, levantou-se e entrou na água fria do mar noturno, deu alguns mergulhos tomando banho; e, quando voltou à areia da praia, encontrou uma jovem que se dizia perdida naquele lugar, que estava tendo certo problema para retornar ao navio de onde veio. Ela lhe disse naquele momento que havia saído do navio com algumas amigas para passear e acabou se perdendo delas, então lhe perguntou se ela poderia ficar ali com ele um pouco. John responde que sim, que não teria nenhum problema em ela ficar ali com ele, afinal de contas uma companhia era tudo que ele queria naquele momento, e os dois ficaram muito amigos depois daquele encontro. Dali, para os dois se apaixonarem um pelo outro, foi uma questão de horas de convivência durante a viagem, e logo eles pareciam um casal bem apaixonado; não se largavam nunca durante a viagem. Estavam sempre juntos, e a coisa foi ficando cada vez mais séria, até chegar ao ponto de que eles acharam que não poderiam mais viver um sem o outro. Resolveram então se casar ali mesmo no navio. Isso foi tão rápido que eles pediram ao comandante do navio que os casasse, sem demora. Foi uma cerimônia muito linda dos dois casando-se em alto-mar tendo como ilustres convidados baleias, golfinhos e aves aquáticas que voam por cima e pelos lados do navio. Golfinhos saltitam nas águas alegremente enquanto o comandante realiza a cerimônia, e os animais pareciam até comemorar aquela união. Tudo transcorreu perfeitamente e foi muito bonito. Horas antes, quando o capitão do navio soube que iria celebrar um casamento a bordo do navio, tratou de comunicar a todos os passageiros esse evento e que todos estavam sendo convidados para a cerimônia que aconteceria em frente à piscina do navio. Na hora do casório, todos os passageiros do navio compareceram, afinal esse é um acontecimento inesperado. Depois de os dois trocarem alianças, houve um coquetel oferecido pelo comandante em homenagem ao jovem casal, e a festa tomou conta da noite indo acabar somente com os primeiros raios de sol da manhã do dia seguinte. A lua de mel do jovem casal foi tão somente toda a viagem de volta a bordo do magnífico navio chamado “A Joia do Ocidente”. E, no maior clima de romantismo, toda a volta para casa foi sem dúvida muito superior à vinda, quando os dois ainda eram quase desconhecidos um para o outro; e, agora juntos, eles estão tão felizes, o que era visível a todos e de certa forma contagiante. Todos que os veem caminhando juntos pelo navio, sempre abraçados, se contagiam e se sentem envolvidos por todo aquele clima de felicidade por poderem presenciar esse estado que se refletia do rosto do jovem casal.

Com o fim da viagem, dias depois, de volta à cidade, desembarcaram, pegaram um táxi e foram ao encontro da felicidade. Foram morar em uma das casas que John mantém na cidade onde mora, uma casa simples, mas aconchegante para um simples casal apaixonado. Nela passaram dez longos anos, juntos e felizes, até o dia fatídico em que sua amada Elizabeth morreu inesperadamente, sem explicação – se é que se pode dar uma explicação para a morte! E agora, depois de tanto tempo, John está prestes a reencontrar alguém que pode dar uma explicação a toda essa história. Ele sabe que, desde aquele momento em que viu aquela moça na estrada, a quem deu carinhosamente o nome de Elizabeth, que era o nome de sua amada esposa já falecida, isso aconteceu só porque ela se parece muito com sua Elizabeth, de forma que não resistiu e deu esse nome a essa que se parece tanto com ela. Na verdade, tem esperança de que seja ela, e desde esse dia ele não consegue deixar de pensar naquela linda mulher, nem mais por um minuto sequer de seus dias. Ficar atraído, pensando assim em alguém, já não acontecia com ele há muito tempo, mas agora começa a aflorar um sentimento que até então estava adormecido em seu coração, que queima como o fogo de um vulcão prestes a explodir. John viaja em seus pensamentos enquanto se dirige ao encontro com o destino que o aguarda. Nisso, o então motorista do táxi interrompe seus pensamentos trazendo-lhe de volta a sua realidade. Afirma que já estão chegando ao local combinado, mas que, por haver um pequeno problema na ponte de acesso, não poderá continuar com o carro e que todos deverão sair e continuar o resto do caminho a pé. O acesso à estrada que leva à casa que eles estão querendo chegar é feito em parte por uma ponte, daí, para chegar lá, há um pequeno ramal, mas a ponte de acesso está interditada.

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