Raila Salim
Eu ainda estava me sentindo desconfortável com a forma como fugi da conversa com o Marcio no dia anterior. Ele tinha me perguntado algo tão simples, mas a resposta era complexa demais para caber em palavras naquele momento. Hoje, porém, decidi que não poderia continuar me escondendo. Se ele tinha mostrado interesse em entender minha dor, eu precisava pelo menos tentar explicar.
O encontrei no curral, onde ele estava examinando novamente a branquinha, a vaca que havia mostrado sinais de algum problema dias atrás e retornado recentemente. O cheiro de terra misturado ao do gado era forte, mas já fazia parte do cotidiano. Marcio estava agachado, concentrado, com a mão firme no flanco do animal. Quando me viu, levantou o olhar e abriu um sorriso discreto.
— Bom dia, Raila.
— Bom dia, Marcio. — minha voz saiu baixa, quase hesitante. — Podemos conversar?
Ele pareceu surpreso, mas assentiu de imediato, levantando-se e limpando as mãos na calça jeans. Ele indicou um banquinho de m