Capítulo 4: Última postagem

Bianca

— Não pode ser! — soltei, os olhos arregalando conforme reconheci a vítima. 

Alto, bonito, de olhos e cabelos escuros.  Alguém que não deveria estar ali: O homem da noite passada.

— Não pode ser! — repeti quando nossos olhos se encontraram e ele sorriu.

— Bom dia para você também, Bianca — ele disse, a voz tão rouca quanto eu lembrava. 

Meu cérebro parou de funcionar.  Ele sabe meu nome? Como? Onde? Por quê?

Ele olhou para a mancha de café, depois para mim. Seus lábios curvados em um sorriso bonito e perigoso. Minhas pernas viraram gelatina e, bem, entre elas o calor foi inevitável.

E então Arthur Hart, fundador da empresa, entrou atrás dele, com sua postura imponente e um olhar que alternava entre confusão e divertimento. 

— Bianca, vim te apresentar meu neto: Lucky — ele informou, antes de virar-se para o homem ao seu lado. — Lucky, esta é Bianca Malocchio, assistente executiva da presidência.

O chão pareceu desaparecer sob meus pés.

— Não pode ser! — murmurei catatônica quando as sinapses foram finalizadas e o entendimento me alcançou.

LUCKY HART. 

O meio-irmão de Aidan.

O novo CEO. 

Lucky e o homem que eu tinha usado como instrumento de vingança na noite passada são a mesma pessoa...

— Sei quem ela é — Lucky interrompeu, os olhos nunca deixando os meus.

MERDA! 

— Vocês dois se conhecem? — Aidan perguntou, a voz carregada de uma desconfiança que fez meus dedos se contraírem involuntariamente.

Meu coração martelou contra as costelas como se quisesse escapar. Lucky vai me entregar? Vai contar para todos que ele tinha me devorado na noite anterior? Me abanei. E pelos motivos errados.

Lucky finalmente quebrou o contato visual comigo para olhar para o irmão.

— De certa maneira — respondeu ambíguo, enquanto passava os dedos pela mancha de café na camisa. — Embora preferisse ter sido apresentado formalmente de outra maneira, reconheci Bianca pela foto dos funcionários da empresa — explicou ajustando a gravata, que escapou do ataque de café. — E porque acompanho as redes sociais da Hart. Como qualquer bom CEO faz.

O alívio que senti foi tão intenso que quase perdi o equilíbrio.

Arthur olhou entre nós, os olhos azuis carregados de compreensão. Graças aos céus, não a correta.

— Temos muito o que discutir, e o melhor é fazê-lo na sala da presidência — indicou fazendo um gesto para saírem. — Mas primeiro, Bianca, peça algo para limpar a mancha e chame a copeira para nos servir.

— Claro, senhor Arthur — respondi, a voz mais firme que consegui.

Estava quase saindo da copa quando Aidan soltou a bomba.

— Viram a última postagem da Bianca nas redes sociais? — perguntou. — Parece que alguém se divertiu bastante depois do incidente de ontem.

Meu sangue gelou.

Meu plano genial de vingança se voltava contra mim. Uma coisa é provocar Aidan, outra, totalmente diferente, é me expor para o fundador da empresa e para o novo CEO. Não que Lucky não saiba o que fiz... Fizemos...

Arthur franziu a testa. Era óbvio que não via relevância, nem mesmo acessava redes sociais. Motivo que me deu confiança em postar. Meu problema era com outra pessoa. O que levou minha atenção toda a Lucky.

— Meu celular descarregou durante o voo. Ainda não acessei nada depois dos vídeos da sacristia — ele explicou dando de ombros.

A resposta foi tão seca que até Aidan pareceu surpreso.

Arthur aceitou a explicação com um aceno de cabeça, mas Aidan não desistiu.

— Pois se visse não me condenariam — retrucou, os olhos azuis passando de mim para Lucky. — Ela não é tão santa como acham.

Senti meus dedos frios na maçaneta.

— Não sou de condenar — Lucky indicou seco —, mas nada mudará o que fez, irmão.

Evitando o olhar de todos, especialmente o de Lucky, escapei da copa antes que minha máscara de profissionalismo perfeito rachasse.

Corri para o banheiro da presidência, tranquei a porta e encostei-me à pia, respirando fundo, tentando recuperar o fôlego.

Tenho trabalho para fazer. Mesmo que meu novo chefe seja o homem cujas mãos eu ainda sentia na minha pele.

Encarei meu reflexo no espelho.

Céus, que bagunça!

Meu cabelo cacheado estava rebelde, os olhos marcados por olheiras que o corretivo não conseguiu esconder completamente atrás das lentes dos óculos. Os lábios, cobertos com batom nude, pareciam pálidos comparados ao vinho intenso que eu usei na noite anterior.

Noite anterior...

Um calafrio percorreu minha espinha quando as memórias invadiram minha mente sem pedir licença. As mãos grandes de Lucky prendendo meus pulsos. A barba dele arranhando minha pele enquanto seus lábios desciam pelo meu pescoço. A voz rouca sussurrando coisas que fizeram meu corpo pegar fogo...

— Merda! — murmurei pela enésima vez, lavando o rosto com água gelada.

A água escorreu pela minha pele enquanto eu tentava me convencer: ele não me reconheceu. Como poderia? Naquela noite, eu estava irreconhecível. Cabelo liso, maquiagem impecável, lentes de contato no lugar dos meus óculos quadrados. Todas as fotos que ele viu nas redes e nos arquivos do trabalho eram da minha original, não dá mulher ardente que me tornei na noite anterior.

O alívio foi quase físico. Agradeci mentalmente à equipe de beleza que me preparou para o casamento.  Além do mais, estava escuro. Nada levaria ele até mim...

A foto...

Aquela que postei para irritar Aidan. Que há poucos instantes meu ex usou contra mim. E que Lucky ainda não tinha visto...

Meu estômago deu um salto mortal quando saquei o celular do bolso da saia. Abri o aplicativo da rede social onde postei aquela foto maldita — a única em que Lucky e eu aparecíamos juntos, mesmo que só o braço dele estivesse visível. Lá estava: O braço em volta da minha cintura, o rosto oculto. Eu, bem visível, sorrindo.

Que diabos eu estava pensando?

Apaguei a foto sem hesitar. Não podia correr o risco dele ver aquilo. Não quando Lucky é meu futuro chefe. Não quando um simples deslize pode custar meu emprego, o alto salário, o pouco que me resta depois do fiasco com Aidan.

Como pude ser tão impulsiva? Tão estúpida? Propor que passasse a noite comigo já tinha sido absurdo. Mas concretizar o feito e ainda tirar uma foto foi arriscado demais, mesmo naquela noite de caos. Especialmente porque era Lucky Hart. O homem que agora controlava meu salário, meu futuro, minha carreira.

Respirei fundo, tentando me acalmar. Tudo bem. Estava tudo sob controle. Eu apaguei a foto. Lucky não me reconheceu. Fingiria que nada aconteceu e seguiria em frente.

Mas eu quero fingir?

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