Quando deu a hora, respirei fundo, peguei minha bolsa e desci.
Ao chegar na calçada, vi Alessandro de pé, ao lado do seu carro, também vestido formalmente. Seu terno escuro o deixava ainda mais bonito, o que só irritou meu orgulho.
Ele não disse nada de imediato, apenas ficou observando enquanto me aproximava. Senti seus olhos me percorrendo lentamente, de cima a baixo.
— Onde você pensa que vai com essa roupa? — ele soltou, com aquele tom possessivo e irritante.
— Para o aniversário da Tereza. Algum problema? — rebati, erguendo o queixo, mesmo com o coração acelerado. Eu sabia o efeito daquele vestido, e saber que ele tinha notado só me dava mais forças.
Ele correu até Chiara, ajoelhando ao lado dela, cheio de preocupação. Senti as lágrimas se acumularem nos meus olhos, mas segurei com força.— O que VOCÊS fizeram com ela?! — ele berrou pra mim e Diogo.— Ela veio até mim e jogou vinho na minha cabeça! — gritei, com a voz embargada. — O Diogo tentou impedir, e agora ela tá aí… fingindo essa palhaçada!— Eu… eu só esbarrei nela sem querer... ela me xingou, me ameaçou! — choramingou Chiara, agarrando o braço de Alessandro como uma atriz de novela.Ele se levantou com os olhos em chamas, vindo direto na minha direção. Por um momento, juro que pensei que ele fo
Arregalei os olhos e encarei Diogo, observando a sua reação.— Eu ouvi. — Ele disse baixo, cruzando os braços, com o semblante sério.Suspirei, passei a mão no rosto e o encarei com sinceridade.— Por favor, não conte ao Alessandro.Diogo pareceu curioso, como se lutasse entre me proteger ou proteger o irmão.— Não vou me meter na sua vida. Mas… acho que ele deveria saber.— Eu sei... eu sei. — abaixei o olhar, mordendo o lábio. — Mas eu tenho medo.— Medo de quê?Hesitei, minha garganta apertando.— De ele tirar meu bebê
(Alessandro)Sentei na varanda dos fundos, apoiando o cotovelo no braço da cadeira e observando a taça de vinho que mal tinha tocado. O silêncio da noite era quase terapêutico, se não fosse o turbilhão de pensamentos que vinha junto.Chiara apareceu com uma manta nos ombros e um olhar distante. Me sentei mais reto e bati ao lado da cadeira.— Vem, senta aqui comigo. — falei baixo.Ela hesitou por um segundo, mas acabou sentando. Ficamos em silêncio por um tempo. O vento bagunçava um pouco o cabelo dela e a luz do jardim fazia as sombras do rosto dela parecerem mais profundas.— Chiara... — comecei, encarando as luzes da cidade. —
Acordei com a luz fraca entrando pelas frestas da cortina. Pisquei devagar, sentindo o peso da noite mal dormida nos meus olhos. Me sentei na cama e respirei fundo, levando a mão até minha barriga ainda discreta.Sorri de leve, com aquele carinho bobo que só uma mãe consegue ter mesmo sem ver ainda o rostinho do filho.— Bom dia, meu amor... — murmurei baixinho, quase num sussurro. — Tá com fome, hein?Me espreguicei devagar e me levantei, indo direto pro banho. A água morna escorria pelas costas e, por alguns minutos, me permiti esquecer o caos. Só eu, meu bebê e o som da água. Vesti um vestido leve, largo, que não apertava a barriga, porque qualquer coisinha já me deixava enjoada.
Desci do carro e entrei na casa do meu pai, sentindo o cheiro familiar de café com pão torrado.— Dona Elza? — chamei, por hábito. — Matheuzinho?Silêncio.Mais um suspiro. Dessa vez de alívio.Andei até o corredor e, logo na curva da cozinha, dei de cara com Guilherme vindo com uma bandeja nas mãos. Suco, dois pães, um potinho de fruta picada... o carinho nos pequenos detalhes.Ele me viu e arregalou um pouco os olhos.— Larissa?Sorri leve.— Oi, Guilherme. Tudo bem? Cheguei em casa com o corpo cansado e a mente girando em mil direções. Assim que empurrei a porta da sala, dei de cara com Alessandro jogado no sofá. Estava de camiseta preta, calça de moletom e com um ar... abatido. Ele apoiava a cabeça na mão e tinha os olhos meio fechados, como se estivesse tentando manter o foco em alguma coisa na TV, mas sem sucesso.Ele levantou o olhar por um segundo quando ouviu a porta. Nossos olhos se cruzaram, mas eu não disse nada. Só continuei andando, direta rumo às escadas.— Larissa — ele murmurou, mas sua voz estava rouca e fraca demais.Fingi que não ouvi. Segui meu caminho, pé ante pé, até que, no meio da escada, escutei ele começar a tossir. Forte. Daquele jeito que eu já conhecia.Parei no segundo degrau antes do topo e fechei os olhos."Não é problema meu. Não mais", pensei, tentando convencer meu coração.Mas era estranho… Alessandro raramente ficava doente. Quando ficava, no entanto, era sempre daquele jeito: forte, intenso, teimoso demais pra Capítulo 35 - Larissa
(Alessandro)Eu já estava a caminho do restaurante, mas ainda com a cena presa na cabeça: Rafael ajoelhado do lado de Larissa, segurando ela com aquele olhar preocupado como se fosse o homem certo na hora certa. Eu respirei fundo e desviei o olhar antes de fazer uma besteira. Queria ir até ela. Queria ter sido eu ali. Mas não podia. Não hoje.Hoje era dia de encarar outra verdade — ou pelo menos tentar descobrir uma.O restaurante era afastado, discreto, com pouca gente nas mesas. Cauã já estava lá, sentado num canto com a mesma jaqueta surrada de sempre e aquele jeito de quem observa o mundo mais do que fala com ele. Me aproximei e ele levantou o queixo em cumprimento.— Alessandro.— Cauã. — Sentei. — Pediu alguma coisa?— Ainda não. Queria esperar você.Chamamos o garçom, pedimos dois cafés e algo leve pra comer.— Tá, fala. O que é tão importante?Ele tirou uma pasta fina da bolsa lateral e colocou sobre a mesa três fotos reveladas. Peguei uma delas. Era Chiara. Entre dois homens.
(Alessandro)Meia hora depois, Diogo entrou na sala. Vestia aquele terno cinza escuro que ele usava em reuniões importantes, o cabelo penteado para trás como sempre. Mas o olhar... não era o mesmo. Frio. Contido. Diferente do Diogo de sempre.— Sempre pontual — comentei, tentando soar casual.— Sempre. Alguém tem que levar isso a sério, né? — respondeu, sem sequer esboçar um sorriso. Sentou de frente pra mim, sem tirar o casaco, como se quisesse deixar claro que não pretendia ficar mais do que o necessário.— O que a ZetaCorp fez agora?Mostrei os documentos e expliquei o que Camila me contou. A cláusula dava brecha pra que qualquer das partes rescindisse unilateralmente se houvesse indício de má administração ou conflito societário. E uma denúncia anônima estava circulando entre acionistas.— Se isso vai adiante, nosso projeto com eles vai por água abaixo — concluí.Ele folheou os papéis, em silêncio. Mas o jeito como virava cada página — firme demais, sem pressa, mas com tensão nos