Capítulo 5

(Ponto de Vista de Sarah)

O vovô e a vovó haviam chegado aos Estados Unidos na noite anterior e, já naquela manhã, me lançaram num choque que apertou um nó em meu peito:

Disseram que eu precisaria me casar por causa da fusão e que, caso recusasse, perderia quarenta por cento das ações do Grupo Amario.

Antes mesmo que pudessem concluir a frase, bati com força as mãos sobre o colo e me levantei de súbito, tomada por um impulso.

— Vovô, eu não posso aceitar isso. Acabei de me formar. Neste momento da minha vida, quero descobrir o mundo, e não me casar.

— Querida, não estamos te forçando, mas desejamos que tenha alguém forte para cuidar de você. Seu avô e eu estamos envelhecendo, meu bem, e não estaremos aqui para sempre. Por isso, queremos que você esteja segura e feliz. — Disse a vovó, fazendo-me sentar novamente enquanto segurava minhas mãos.

Naquele instante, refleti sobre tudo o que estava acontecendo. Afinal, quando se tratava de casamento, amor, respeito e confiança sempre foram os pilares da verdadeira felicidade.

Desde sempre, eu me sentira insegura quando o assunto era relacionamento, com medo de rejeição e de não ser amada, sendo a verdade que temia ser aquela que lutaria sozinha para manter o vínculo, enquanto o outro apenas se afastaria, indiferente.

— Sarah, o que mais desejamos é o seu bem-estar. No entanto, é essencial que compreenda: recusar esta proposta significaria a ruína da empresa. Este empreendimento foi o sonho de sua mãe, Sophia, que investiu sua vida inteira para fazê-lo prosperar. Ainda assim, nunca seria nossa intenção que você se sentisse pressionada... — Comentou o vovô, com a voz baixa, numa tentativa de me consolar.

Ao lembrar dela, perguntei a mim mesma o que minha mãe faria se estivesse no meu lugar. “Será que aceitaria esse casamento, sacrificando-se para salvar a empresa?” Ela havia se entregado por completo àquele sonho, até que a doença a confinou a uma cama.

— Vovô, preciso refletir sobre isso. Vou te avisar assim que tomar minha decisão. — Respondi com um sorriso fraco e, logo depois, me afastei.

Assim, dirigi-me ao meu quarto, fechei a porta com firmeza e deitei na cama, repetindo mentalmente a conversa com o vovô e a vovó.

Jamais imaginei que me casaria tão cedo, muito menos por causa da empresa. Contudo, bem no fundo, eu sabia que aquela companhia guardava as memórias da minha mãe, além de todo o seu esforço e seu sonho de tornar o Grupo Amario uma das maiores do mundo.

Sempre pensei que, quando me casasse, seria por amor, e não por causa de um contrato comercial.

Durante o ensino médio, nunca tive tempo para namorar, já que vivia ocupada com os estudos e um emprego de meio período. E, sempre que algum garoto tentava se aproximar, Chloe e Jessica faziam questão de me afastar.

Nesse ínterim, lembrei-me claramente da noite da formatura, quando houve uma festa em nossa casa:

-

(Flashback)

Naquele momento, eu estava no meu quarto, conferindo os e-mails das candidaturas que havia enviado para várias universidades, enquanto a música alta do andar de baixo invadia o ambiente sem cerimônia.

Chloe havia convidado todos para a festa. Inclusive, fizera questão de me chamar, mas recusei com educação, pois conhecia bem o tipo de plano que ela e Jessica adoravam arquitetar para me constranger.

Foi então que ouvi batidas na porta, o que me fez fechar o notebook apressadamente antes de ir atender.

Ao abrir, encontrei Justin parado ali, com duas latas de cerveja nas mãos.

— Ei, Sarah! — Disse ele, entrando no quarto e sentando-se na minha cama enquanto observava tudo ao redor.

— Oi, Justin! O que te traz aqui? — Perguntei, aproximando-me.

Justin era do mesmo ano que eu e Chloe, sendo um dos garotos populares da escola e embora não fôssemos exatamente amigos, já havíamos feito alguns trabalhos em grupo. Ele parecia um cara genuíno…

— Por que está aqui sozinha? Por que não desceu para se juntar à festa? — Indagou.

— Bem, eu não gosto de música alta, nem dessas festas no geral. Além disso, precisava resolver algumas coisas importantes. — Respondi.

— Ah, tudo bem. Cada um tem seu estilo. — Comentou ele, oferecendo uma das latas de cerveja. No entanto, recusei educadamente.

— Vamos lá, relaxa um pouco, Sarah. Uma cerveja não vai te fazer mal. — Brincou ele, rindo.

Apesar da hesitação, acabei aceitando a bebida e tomei um gole.

“Uma cerveja não iria me fazer mal…”

— E quais são seus planos para depois da escola? — Perguntou, tomando um gole.

— Pretendo estudar arquitetura, mas ainda não decidi qual universidade escolher.

Contudo, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, uma tontura repentina me atingiu. Ainda ouvia Justin falando, mas suas palavras já soavam soltas, desconectadas da realidade e logo depois, as vozes de Chloe e Jessica ecoaram vagamente pelo quarto. Elas pareciam conversar entre si, embora eu não conseguisse captar uma única frase com clareza.

Por fim, a voz de Jessica se aproximou do meu ouvido direito, enquanto sussurrava:

— Vamos nos divertir, Sarah. — Disse ela, rindo de forma cruel.

Tentei me levantar, mas Chloe me empurrou de volta na cama antes que minha camiseta fosse arrancada com brutalidade, e minha calça jeans puxada. Tentei gritar por ajuda, mas nenhum som saía da minha boca e tudo que ouvia eram as risadas dos três.

Fiquei ali, deitada apenas de roupa íntima até que alguém me puxou mais para perto, e foi quando escutei Justin sussurrar algo no meu ouvido. Entretanto, a única coisa que consegui entender foi que estavam tramando algo terrível, enquanto ele segurava minha cintura e começava a chupar meu pescoço.

— Por favor... Não. — Implorei.

Mas só pararam minutos depois, quando ouvi Jessica dizer que já tinham conseguido o que queriam e que aquilo já era o suficiente.

Nessa hora, suspirei aliviada, porém, a sensação durou pouco, pois, de repente, meu cabelo foi puxado com violência, e antes que eu pudesse reagir, começaram a cortá-lo. Lutei com as últimas forças que tinha, mas um chute brutal nas costelas me fez perder a consciência.

(Fim do Flashback)

-

Quando recobrei a consciência, já era manhã do dia seguinte e eu permanecia na cama, com a roupa íntima rasgada. Ao me encarar no espelho, percebi os hematomas espalhados pelas costelas e pelo abdômen. Meu cabelo, que antes era longo, agora caía em tufos, e eu mal conseguia me reconhecer. Além disso, Jessica, Justin e Chloe acabaram gravando um vídeo meu e de Justin na cama, no qual apenas meu rosto estava nítido, enquanto as costas dele apareciam desfocadas, o que tornava impossível sua identificação. O vídeo foi postado em todas as redes sociais e, em poucas horas, a escola inteira acreditou que eu mesma o havia feito, como se estivesse buscando popularidade.

Mais tarde, contei ao meu pai, que não apenas me culpou por não ter sido cuidadosa, como escolheu acreditar nos outros, convencido de que tudo aquilo fora uma encenação da minha parte. Em razão disso, uma lágrima escorreu pela minha bochecha, mas rapidamente a enxuguei e por causa daquela noite, deixei de confiar em qualquer homem.

Apesar de ter conseguido superar parte desse trauma ao me mudar para Boston e me tornar mais sociável, ainda enfrentava dificuldades, chegando a sair com alguns rapazes, mas nunca consegui ir além, pois continuava desconfortável com intimidade e com a ideia de confiar em alguém.

E ao me deter na proposta de casamento, percebi que sequer sabia quem era o homem com quem deveria me unir. Tudo o que o vovô dissera até então era que era um jovem CEO, à frente de uma empresa de construção em plena ascensão.

Com a mente agitada, passei a noite inteira me revirando na cama, refletindo sobre o casamento e sobre a fusão das empresas.

Quando o relógio marcava cerca de quatro da manhã, após uma madrugada densa e silenciosa, finalmente senti que estava pronta para tomar minha decisão.
Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App