Murilo sorriu com um olhar cheio de ternura. Ele fixou os olhos nos lábios vermelhos de Agatha e, sem conseguir resistir, segurou delicadamente o queixo dela e a beijou. O beijo foi se intensificando até que os dois entraram no carro. Logo, o veículo começou a se mover com um ritmo constante.
Lorena, escondida atrás de uma coluna, estava com o rosto pálido como papel. Ela cobriu a boca com as mãos, lutando para não emitir nenhum som, enquanto lágrimas enormes desciam sem parar pelo rosto.
Murilo havia permitido que Agatha engravidasse! E, pior, ele dizia que ainda amava Lorena acima de tudo, mas estava disposto a dar para outra mulher todas as memórias que deveriam ter sido apenas deles.
Naquele momento, o desejo de Lorena era correr até eles e gritar, mas suas pernas fraquejaram, e ela apenas virou as costas, derrotada.
Lorena não sabia como conseguiu sair dali. Ela não voltou ao hospital. Em vez disso, começou a vagar sem rumo pelas ruas.
Não muito longe, avistou a sede do Grupo Azevedo. Na fachada do prédio, em uma enorme tela eletrônica, passava repetidamente um vídeo de dois anos atrás: o registro de um casamento que havia feito todas as mulheres de Cidade Klamba suspirarem de inveja.
Um castelo romântico, daminhas de honra adoráveis, e o Murilo emocionado, com os olhos brilhando de lágrimas, ao lado de Lorena. Tudo parecia tão recente, como se tivesse acontecido ontem.
Lorena ficou olhando para a tela, e as lágrimas começaram a cair novamente. Nesse momento, seu celular vibrou. Era uma mensagem de Murilo:
[Lorena, surgiu uma reunião de última hora na empresa. Hoje à noite não vou voltar para casa. Amanhã conversamos com calma, está bem?]
As lágrimas caíram na tela do celular, e Lorena soltou um sorriso amargo. "Amanhã?" Ela pensou. Mas o tempo dela estava acabando. Antes de descobrir as traições de Murilo, ela frequentemente recebia mensagens como essa, dizendo que ele tinha reuniões de última hora. Talvez, em cada uma dessas ocasiões, as tais "reuniões" fossem momentos que ele passava com Agatha.
Ela respondeu com uma mensagem curta:
[Reunião com a Agatha?]
Murilo começou a digitar imediatamente, mas demorou a enviar uma resposta. Quando finalmente o fez, sua justificativa foi evasiva:
[Você está exagerando. Se não acredita em mim, pode ligar para meu assistente.]
Lorena não respondeu mais.
No instante seguinte, uma nova mensagem chegou. Dessa vez, era de Agatha:
[Lorena, você ouviu tudo o que conversamos no estacionamento, não é? Então vou ser direta: é só uma questão de tempo até eu tomar o seu lugar. Metade do coração do Murilo já é meu. Afinal, eu sou mais jovem e sei cuidar dele melhor do que você. Se não quer ser a esposa rejeitada de um milionário, peça o divórcio antes que ele mesmo te abandone.]
A mensagem vinha acompanhada de algumas fotos: meia-calça rasgada e embalagens abertas de preservativos.
Ao ver aquilo, as mãos de Lorena começaram a tremer.
Embora seu único desejo após a morte fosse se divorciar de Murilo, ela não podia suportar tamanha humilhação.
Um estrondo repentino ecoou no céu, seguido por um relâmpago. Começou a chover torrencialmente. A água escorria pelo rosto pálido de Lorena, misturando-se com suas lágrimas.
Então, ela digitou uma última mensagem para Murilo:
[Murilo, vamos nos divorciar.]
Quando chegou em casa, já era noite. Lorena se jogou no sofá, sentindo o corpo todo enfraquecido. Sua testa queimava, como se estivesse com febre. Ela riu de si mesma.
"Eu já estou morta, só restou minha alma... e ainda assim, parece que posso adoecer."
Depois de alguns minutos, ela reuniu forças, levantou-se e subiu em uma cadeira para retirar o quadro de casamento da parede. Com os dedos finos, acariciou delicadamente a moldura pela última vez. Então, pegou uma tesoura e rasgou a foto sem hesitar.
Após destruir o quadro, Lorena começou a vasculhar a casa. Pegou todos os álbuns de fotos e porta-retratos que encontrou. Cada imagem que mostrava ela e Murilo juntos foi meticulosamente cortada em pedaços.
Em seguida, ela reuniu os presentes que Murilo havia lhe dado. Os itens valiosos foram colocados à venda na Amazon por preços baixos. Já os presentes feitos à mão foram destruídos e jogados no lixo.
Finalmente, Lorena chegou ao cômodo da casa onde ficavam as peças mais preciosas: a sala de exposição.
Atrás de um vidro, estava o vestido de noiva que ela havia usado no casamento deles. Lorena olhou para ele pela última vez. Depois, com a mesma tesoura, cortou cada pedaço do tecido.
Ela segurou o anel de noivado, um enorme diamante rosa em forma de ovo de pombo, desenhado por Murilo. Só a pedra valia milhões. Lorena ficou observando o anel por vários minutos antes de jogá-lo no vaso sanitário.
Ela e Murilo já haviam se amado de verdade. Todas aquelas lembranças eram preciosas para ela. Mas, para evitar que fossem manchadas, ela mesma decidiu destruí-las.
Depois de terminar, Lorena deixou o corpo cair no chão, exausta. Foi então que, de repente, a porta da casa se abriu com força. Murilo entrou correndo.