Naquela noite, Murilo não voltou para casa.
Lorena se afundou na banheira, esfregando a pele repetidamente, tentando apagar as marcas sujas deixadas em seu corpo. Mesmo quando a pele começou a sangrar, os eventos da noite anterior permaneciam nítidos em sua mente, como facas afiadas roçando seus ossos, provocando dor a cada lembrança.
Ela chorou até perder os sentidos. Em meio à inconsciência, sentiu um par de mãos quentes segurando seu corpo com delicadeza.
— Lorena!
Uma voz familiar chamava seu nome com insistência, sem desistir.
Lorena abriu os olhos com dificuldade e, diante de si, viu Murilo. Ele havia voltado em algum momento. Seu rosto, geralmente frio e impassível, agora estava tomado por pânico e desespero.
— Lorena, não feche os olhos! Eu vou te levar para o hospital!
Lorena o olhou, confusa, como se estivesse presa em um sonho. Por um instante, ela se lembrou do passado. Quando tinha dezessete anos, um terremoto devastou Cidade Klamba. No momento em que a viga do teto da sala de aula desabou, Murilo a protegeu com o próprio corpo, arriscando a própria vida.
Eles ficaram presos sob os escombros por cinco dias. Durante esse tempo, não beberam nem uma gota de água. Lorena começou a ter alucinações e perdeu toda vontade de viver. Foi Murilo quem a manteve acordada, chamando seu nome sempre que ela parecia prestes a adormecer e nunca mais acordar.
Depois de sobreviverem juntos à tragédia, eles começaram a namorar. Naquele tempo, Lorena acreditava que eles tinham superado a barreira entre a vida e a morte e que, não importando os desafios que enfrentassem, sempre estariam juntos. Mas ela jamais imaginou que, três anos após o casamento, Murilo a trairia.
Quando Lorena abriu os olhos novamente, já estava no hospital.
A primeira coisa que viu foi Murilo, adormecido ao lado de sua cama. Ele ainda usava as mesmas roupas do dia anterior, com olheiras profundas e uma expressão abatida.
Lorena o observou por um momento, estendeu a mão e acariciou suavemente seu rosto.
Murilo despertou de repente, parecendo assustado. Quando percebeu que Lorena estava acordada, seus olhos se encheram de alívio. Ele a abraçou com força no mesmo instante:
— Lorena, você me deixou apavorado ontem! Ainda bem que você está bem! Eu não devia ter dito aquelas coisas para você.
Naquela manhã, quando Murilo chegou em casa e encontrou Lorena desmaiada na banheira, a água estava gelada e tingida de vermelho. Por um momento, ele pensou que ela já não respirava. O medo o consumiu completamente.
As lágrimas de Murilo escorriam enquanto ele falava, mas Lorena o empurrou com suavidade, o rosto pálido exibindo um sorriso melancólico:
— Murilo, podemos conversar?
Murilo assentiu imediatamente:
— Claro! Vamos conversar. Mas, por favor, não faça mais nenhuma besteira, está bem?
— Na verdade, ontem à noite eu...
De repente, o som do celular de Murilo interrompeu a conversa. Ele olhou para a tela e, sem hesitar, rejeitou a ligação. Sua expressão ficou visivelmente desconfortável.
— Continue, Lorena.
Mas Lorena tinha visto o nome no visor: [Querida Agatha].
Em um instante, toda a força que ela tinha desapareceu. Seu olhar perdeu o brilho, e ela murmurou:
— Não importa. Pode atender. Estou cansada e quero descansar um pouco.
Ela se deitou, virando o rosto para o lado.
Murilo hesitou, mas acabou saindo do quarto sem dizer mais nada.
Assim que ele saiu, Lorena recebeu uma mensagem de um número desconhecido:
[Tem coragem de vir até o estacionamento subterrâneo?]
Lorena fechou a mão com força, tentando ignorar, mas algo a fez ir até lá.
No estacionamento, Lorena viu Agatha segurando a manga da camisa de Murilo, chorando como se o mundo estivesse acabando:
— Posso ter esse bebê? É o nosso primeiro filho, eu não quero abortar!
Murilo franziu a testa, sua voz era fria:
— Eu e Lorena ainda não temos filhos. Como você pode ter o primeiro? Quando eu e Lorena tivermos um filho, você pode ter quantos quiser.
Agatha começou a chorar ainda mais alto:
— Mas fazer um aborto dói muito! Eu estou com medo! Quando você ficou comigo, você disse que assumiria a responsabilidade!
Murilo suspirou, visivelmente exausto, e a puxou para um abraço:
— Tudo bem. Eu vou com você para o aborto, está bem? Depois, eu te dou algumas casas. Ou qualquer outra coisa que você quiser.
Agatha segurou o pescoço dele, os olhos brilhando de lágrimas:
— Eu quero que você me peça em casamento... Só uma vez. Eu sei que nunca vou ser sua esposa de verdade, mas me deixa fingir, por favor!
Murilo franziu o cenho, em silêncio.
Agatha fez um beicinho, como uma criança mimada:
— Você nunca cumpre suas promessas!
— Tá bom, tá bom. Eu prometo. — Murilo cedeu, incapaz de resistir à expressão dela.
Agatha imediatamente deu um sorriso radiante:
— Então eu quero um anel de diamante e um vestido de noiva igual ao que você deu para Lorena!
— Certo, sem problemas.
— E também quero ir para o castelo antigo!
— Tudo bem, você escolhe.