O corpo na fria maca de ferro estava completamente desfigurado. A maior parte da pele já havia se deteriorado, exalando um cheiro insuportável de podridão. Era impossível identificar o sexo da vítima. Ainda assim, Murilo reconheceu imediatamente que era Lorena.
No antebraço exposto do cadáver, havia uma cicatriz marrom-clara, com o formato de uma nuvem. Era a mesma cicatriz que Lorena havia ganhado durante o terremoto em Cidade Klamba anos atrás.
Essa cicatriz poderia ter sido removida com cirurgia, mas Lorena havia optado por mantê-la. Ela dizia que sempre que olhava para aquela marca, lembrava-se de como Murilo, aos dezessete anos, havia sido corajoso ao protegê-la com seu próprio corpo. Sem ele, talvez ela tivesse morrido sob os escombros. Em vez disso, tudo o que restara daquele dia era aquela cicatriz.
Agora, no corpo em decomposição, aquela cicatriz ainda permanecia intacta. O que um dia fora uma prova de amor eterno, naquele momento parecia uma lâmina que perfurava o coração de