Amélia
Mal abri os olhos, o grito dele rasgou o ar. Eu pisquei, confusa. A visão embaçada logo revelou um brutamontes furioso pairando sobre mim. Era Inácio, e ele estava vermelho de raiva.
— Me explica que porra você estava fazendo naquele carro! Para onde ia com os meus filhos e o desmiolado do Gabriel? E ainda pensou em levar o cachorro! — a voz dele explodiu, acusatória.
Ele falava com tanta convicção, com uma pose de vítima ultrajada, que por um segundo, quase acreditei nele. Quase esqueci que ele era o predador.
— Ah, faça-me o favor, senhor. Abaixe essa bola e a voz. Para onde eu ia ou deixava de ir não é da sua conta. E claro que eu levaria o meu cachorro! Ele é importante; abandono de animais é crime, sabia? — revidei, a voz fraca, mas firme.
Não adiantava mentir. Dizer que não estava fugindo seria gastar saliva à toa.
Tentei me levantar da cama, mas senti uma dor fina no pé da barriga. Levei a mão apressadamente até lá, e a lembrança do acidente e do meu bebê me atingiu como