3 “A Viagem...”

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“A Viagem...”

EM MEIO A TANTOS PROBLEMAS, sempre existe notícias boas e oportunidades que vêm nos trazer a paz que tanto precisamos em meio às guerras do cotidiano.

          Era uma quinta–feira ensolarada quando no escritório toca o telefone:

          ­ –– Escritório do Dr. Stockholm, bom dia.

          Denise atendeu ao telefone com toda a naturalidade do mundo, do qual ouviu a resposta de uma forma totalmente diferente.

          –– Buenos dias... yo gostaria de hablar con Denise Wareen.

          ­–– Sou eu mesma, quem gostaria? – Ela responde com um ar de suspense, apesar de já ter ouvido aquela voz feminina em algum ligar.

          –– Ah! Quanto tempo, amiga, sou eu, a Dai, estou aqui em Barcelona, estava com saudades de você e decidi te ligar.

          Daiana era uma das poucas amigas que Denise realmente gostava, já que era uma pessoa totalmente incomum, nunca ficava perguntando o porquê das atitudes dela, não era bisbilhoteira, não era uma amiga falsa – muito pelo contrário –, Daiana Pearson sempre falava o que bem entendia, mas sem nunca se intrometer na vida alheia, e para Denise, esse era o melhor tipo de relacionamento que existia.

          –– Minha querida, quanto tempo que a gente não se vê, estava morrendo de saudades de você, acredita que sonhei com você ontem à noite, e por incrível que pareça, estávamos em Barcelona, olha que surpresa maravilhosa, você não sabe o quanto fico feliz de ouvir sua voz – Disse Denise com o maior entusiasmo, já que há tempos queria falar com a amiga e tinha perdido o contato.

          –– Eu também, Denise, é muito bom ouvir sua voz também, da última vez que nos falamos você tinha me falado que iria entrar de férias mais ou menos nessa época, então pensei em te convidar para vir em Barcelona e darmos um grande passeio, comprei um apartamento enorme – ela enfatizou bem o enorme –, e está precisando de um pouco de alegria e vida, e ninguém melhor do que você, para trazer isso aqui, o que você acha?

          –– Ai!!! Dai... – disse ela encabulada – nem sei o que dizer, estava quase para vender minhas férias novamente, pois não tinha o que fazer, a não ser ficar escrevendo meu livro, mas creio que ir para Barcelona iria me dar muito mais inspiração, afinal, essa é uma cidade maravilhosa, tem um clima perfeito para encontrar as palavras certas.

          –– Isso é verdade, Dê, essa cidade é espetacular, principalmente para trazer inspiração para as pessoas que dizem as palavras do coração, e você é melhor do que ninguém nisso, sempre gostei das suas poesias, e das poesias de outros autores que você sempre me apresentava, lembro até hoje de uma que você me disse uma vez...

“Descobri que saber amar

É se encontrar no brilho do olhar

Daquela pessoa que nos recebe

Com as portas abertas do seu coração

E é muito bom quando somos recebidos

Da mesma maneira doce

Que acolhemos seus doces encantos...”

          –– É lógico que não vou me lembrar da poesia inteira – continuou Daiana –, você sabe muito bem que não sou muito boa em guardar palavras, mas essa pequena frase em especial guardei no meu coração.

          –– Eu sei, Dai, fico muito feliz em saber que você guardou essas simples palavras, fico muito feliz mesmo, mas eu vou conversar com meu chefe e te ligarei, ou melhor, te mando um e-mail amanhã, já te falando exatamente do dia que irei te ver, pode ser?

          –– Tudo bem, Denise, estarei ansiosa pela sua chegada, foi muito bom ter conversado com você meu anjo, vai ser espetacular esses dias para mim, queria que soubesse, que você é a melhor amiga que eu tenho, tem sido muito difícil me adaptar aqui na Espanha, e nada melhor do que um amigo para resolver isso, mesmo que seja por um mês.

          –– Comigo não tem sido nada fácil também, Dai, tenho certeza que vai ser melhor para mim do que será para você.

          –– Fico feliz em ouvir isso Dê... então, estamos combinadas hein... até amanhã – Daiana desliga o telefone.

          O doce som da vida começava a soar de novo em seu coração, jamais algo tão fantástico tinha acontecido em sua vida, Denise sentia seu coração bater novamente em seu peito...

“Se se morre de amor! – não, não se morre,

Quando é fascinação que nos surpreende

De ruidoso sarau entre os festejos;

Quando as luzes, calor, orquestra e flores

Assomos de prazer nos raiam n’alma,

Que embelezada e solta em tal ambiente

No que ouve, e no que vê prazer alcança!...

Amor é vida; é ter constantemente

Alma, sentidos, coração – abertos

Ao grande, ao belo; é ser capaz d’extremos,

D’altas virtudes, até capaz de crimes!

Compreender o infinito, a imensidade;

E a natureza e Deus; gostar dos campos,

D’aves, flores, murmúrios solitários;

Buscar tristeza, a soledade, o ermo,

E ter o coração em riso da nossa alma

Fontes de pranto intercalar sem custo;

Conhecer o prazer e a desventura

No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto

O ditoso, o misérrimo dos entes:

Isso é amor, e desse amor se morre!...3

          Denise não sabia explicar do porquê se lembrara dessa poesia justamente agora, mas era algo que permeava sua mente. Ela tinha um elo especial com a poesia, cada momento de sua vida, era ligado direta ou indiretamente em sua vida, as poesias explicavam a Denise o porquê das coisas acontecerem, tornavam belas as lutas e o seu sofrimento, aprendera a enxergar o sofrimento de forma bela, assim como Shakespeare enxergava.

          O Sr. Stockholm entra na sala e pergunta para Denise:

          –– A oferta para vender suas férias ainda está de pé, Denise? Afinal, seria importante que nós que desse continuidade no trabalho sem interrupções.

          Mas Denise lhe diz que a verdade:

          –– Tinha pensado sim em vender as férias novamente, mas uma amiga acabou de ligar de Barcelona e pediu para que passasse alguns dias com ela, e queria saber se permitiria que tirasse aquelas férias, que gostaria muito de ir... Afinal, tem sido dias difíceis e, normalmente não comento nada sobre a minha vida pessoal, mas tinha alguns problemas para serem resolvidos, e preciso realmente de um tempo para colocar as coisas (o seu coração) em ordem, para que possa trabalhar bem melhor, na verdade, tenho deixado muita coisa a desejar por conta disso, mas também estou pensando na questão da viagem como uma forma de ganhar experiência com uma língua estrangeira.

          –– Não creio que você devesse se cobrar dessa maneira, Denise... – disse Stockholm – Você é uma espetacular funcionária, para não dizer amiga, sempre pude contar com você em todos os momentos, creio que seria de bom agrado se eu mesmo desse alguns telefonemas e conseguisse para você a passagem e toda estrutura para que passe esses dias em Barcelona da melhor maneira possível.

          –– Desculpe–me, Senhor... mas... seria abusar demais do senhor se eu deixa-lo fazer isso...

          –– Abusar demais? – Stockholm deu risada – Desculpe, Denise, mas seria uma indelicadeza da sua parte se não me deixar fazer isso por você, já que o mais beneficiado com isso seria eu mesmo, só te peço que deixe seu celular ligado caso aconteça algum imprevisto, mas faço questão de arcar com todos os custos, seria um privilégio, já que além de seu patrão, sou seu fã, li algumas coisas que você escreveu, seria gratificante ter a honra de te ver feliz.

          –– Eu é que fico honrada de trabalhar com o senhor.

PASSADOS ALGUNS MINUTOS daquela conversa que tinha sido bem melhor do que Denise imaginara, John retorna

          –– Tenho uma notícia muito boa para você, Denise.

          –– Pode falar, Sr. Stockholm – foi a resposta que ela pode dar naquele momento tentando ser a pessoa mais profissional do mundo.

          –– Já arranjei as passagens, já depositei uma boa quantia em dinheiro, e estou te liberando para você ficar pelo menos trinta dias de férias – mais do que merecidas, pensou Denise –, e outra coisa... o dinheiro que eu depositei não faz parte do seu dinheiro das férias, gostaria que você não o gastasse com essa viagem, é um presente meu em particular a você, tudo bem?

          –– Desculpe–me Senhor... mas isso eu não posso aceitar...

          Denise tentou de todas as maneiras rejeitar aquela oferta.

          –– Deve aceitar, Denise... existem pessoas que nos fazem mal e outras que nos fazem bem, qual o problema em ajudar as pessoas que nos fazem bem? Só gostaria que um dia dedicasse um de seus livros a mim, será que isso seria possível?

          Denise deixa uma lágrima escorrer e abraça seu patrão.

            Um dia você será minha, querida – ­pensou John, imaginando que seu estratagema atingiria em cheio o coração de sua funcionária.

          –– Não tenho nem palavras para agradecê-lo, Sr. Stockholm... muito obrigada mesmo. Será que eu poderia ler uma para o Senhor?

          –– Claro, seria um prazer, Denise...

“É bom conhecer você...

Conhecer o próprio amor em pessoa

Se conhecer em um abraço gostoso

Daqueles que abraçam a alma em vez do corpo

Daqueles que nos fazem sonhar

Faz–nos voarmos alto em um olhar

É maravilhoso termos isso em nós

Um amor inesquecível

Que o tempo somente ajuda a cultivá-lo

E não o deixa morrer

Pois ele sabe que morrendo esse amor em nós

Morre a própria felicidade que foi feita para nós dois...”

3- Gonçalves Dias – “Se se morre de amor!”

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