ALJARAFE — O CEO CORAÇÃO DE LEÃO
ALJARAFE — O CEO CORAÇÃO DE LEÃO
Por: Sandra Lima Autora
▪︎Capítulo 1▪︎

Suzana não acreditava no que estava acontecendo, ela achava que aquilo só poderia ser um pesadelo. Depois de quatro anos de casamento, não era possível que tinha sido enganada por Joaquim. Ele devia estar brincando com ela, fazendo uma piada de muito mau gosto por sinal.

— Para de brincar comigo, Wallace, isso não se faz. – Ela resmungou para o advogado

— Infelizmente não é brincadeira, Suzana, você não tem mais nada. Nem casa, nem a sua parte na empresa, nada no banco e nem a casa dos seus pais. Você deu o direito ao Joaquim de vender tudo. Ele fez todas essas negociações com uma procuração assinada por você. Foi tudo legal, eu lamento.

— Meu Deus!

Ela sentiu algo apertar sua garganta, sem acreditar que perdeu a casa dos pais. Aquele desgraçado a traiu e ainda vendeu a casa dos pais dela! Foram anos economizando dinheiro para comprar a casa, e agora tudo se foi. Ela percebeu que sua vida fora destruída e não sabia o que faria. O cretino do marido deu um golpe, levou tudo o que tinham construído juntos. E agora ela estava na rua, sem nada.

O que faria agora se não tinha para onde ir?

Não tinha emprego, dinheiro e sem nenhuma ideia de como sobreviver?

Apenas lhe restou suas roupas e o dinheiro que tinha na carteira, todo o resto se foi, não tinha restado mais nada.

— Como vou viver, Wallace? Eu não tenho para onde ir. E os meus pais? Onde vou colocá-los? Ainda tem a minha irmã e a sua filhinha, ela só tem oito meses. Eu sou responsável por todos. Como eles ficarão?

O advogado a olhou com pesar, e isso a matou. Suzana odiava quando as pessoas sentiam pena dela.

— Eu tentarei te ajudar, Suzana. Vou ver se te arrumo um emprego. Sinceramente, estou tão chocado quanto você. Juro que não sabia que o Joaquim estava tramando um golpe contra você. Eu presto serviços para ele desde o início da empresa, nunca imaginei que ele fosse capaz de algo tão monstruoso assim.

— Ainda acho que é brincadeira. – As lágrimas voltaram a cair pelo seu rosto

— Não é. Essa ordem de despejo que recebeu é verdadeira, e todos os outros documentos também. Ele te roubou e fez tudo isso legalmente. Eu mesmo conferi a assinatura do documento, e ela é sua. Mas se quiser podemos contratar um perito e confirmar a veracidade da assinatura.

— E vou fazer isso com que dinheiro? Só tenho dinheiro para comprar umas três refeições em algum restaurante barato e pagar minha passagem para ir até a casa da Priscila.

— Bem... Realmente, um perito não é barato, mas posso pagar e depois você acerta comigo.

— Você sabe que não terei condições para isso, eu não tenho formação acadêmica, sempre trabalhei com o canalha do Joaquim. Não tenho como arrumar um emprego que me dê um bom salário para te pagar. E ainda vou ter que cuidar da minha família, meu pai não pode trabalhar por causa do coração, a aposentadoria dele é uma miséria e o salário da minha mãe não dá para eles sobreviverem. Agora que eles não têm a casa... – A voz dela falhou ao se lembrar disso. – Eu não conseguirei pagar um aluguel, bancar o tratamento do papai e ainda sustentar a maluca da minha irmã com uma filha pequena. Eu terei que fazer isso, mas agora que não tenho nada, não sei como fazer isso. Não posso arrumar uma dívida agora, não quando tantas pessoas dependem de mim. – Mais uma vez, ela viu pena nos olhos de Wallace e sentiu vontade de sair correndo dali.

— Você está certa, precisa resolver a situação da sua família. – Ele suspirou e devolveu a ordem de despejo que estava em suas mãos. – Eu vou tentar te arrumar um emprego, mas confesso que não tenho como encontrar algo que pague bem. Apesar de você ter experiência em escritório, como mesmo disse, não tem formação, e o seu marido vendeu a empresa. Como você era uma das donas, não terá como receber uma referência de trabalho.

— Tudo isso é surreal.

Ontem, ela estava contando os dias para o marido voltar de viagem, e hoje estava sem nada e sem marido. Isso não podia, de fato, estar acontecendo.

— Parece mesmo, lamento querida.

Sem conseguir aguentar o olhar de pena dele, Suzana se retirou e saiu sem saber o que fazer. Tinha apenas uma semana para retirar as suas coisas da casa. Não que ela precisasse de tanto tempo, só poderia levar as suas roupas e os objetos pessoais. O canalha do marido vendeu a casa com todos os móveis juntos. Só lhe restou pouca coisa para carregar, ele não deu nem o direito de ela ficar com as suas joias. Todas sumiram, e agora ela tinha certeza que ele levou tudo na viagem de mentira que inventou.

Há uma semana, ele saiu dizendo que iria participar de uma reunião com novos clientes, mas, no fundo, o filho da mãe estava fugindo, sabe Deus para onde. A vida de Suzana estava um caos, porque ele conseguiu uma procuração com a sua autêntica assinatura, mas ela

não se lembrava de ter assinado esses papéis. Sempre lia tudo o que assinava e sempre recebia a recriminação dele por fazer isso. Agora entendia porque ele sempre brigava com ela quando precisava assinar algum documento da

empresa, o desgraçado já tinha intenção de roubar tudo dela.

Seu celular tocou, e ela nem se preocupou em saber quem era:

— Alô.

— Desculpa, amiga, mas eu acordei tarde e só agora vi sua mensagem.

— Trabalhou em outro evento ontem?

— Sim. Essa semana tem sido agitada.

Desde que a melhor amiga de Suzana, Priscila, arrumou esse novo emprego em eventos de gala, andava caindo nas noitadas. Ela trabalhava até de madrugada e só chegava em casa com o dia raiando.

– O que aconteceu? Você disse que

precisava falar comigo com urgência.

— Posso ir à sua casa?

— Claro que sim, estou te esperando.

— Certo.

Ela olhou para o ponto de ônibus e caminhou até lá. Depois de anos sem saber o que era andar em um coletivo, ia ter que se acostumar a usá-los novamente. De agora em diante a sua vida seria outra e carros da moda não estariam mais ao seu alcance, teria que andar muito a pé e em ônibus, não tinha outra solução.

*****

Horas depois...

Suzana chegou a casa da amiga, que ao ouvir tudo o que aconteceu não conseguia acreditar, cai sentada na poltrona com as maos sobre a boca e olha para a amiga que parece estar em outro planeta.

— O quê? Repete, que não entendi nada. Aquele otário te roubou? Ele te deixou sem nada?

— Só tenho as minhas roupas, não sobrou mais nada.

— Jesus! – Priscila se jogou no sofá com os olhos arregalados. – Eu sempre soube que ele não prestava, mas nunca imaginei que fosse capaz disso.

Priscila nunca gostou do Joaquim. Às vezes, Suzana achava que era porque ele tinha a escolhido no lugar de Priscila. Quando as amigas o conheceram, ambas ficaram interessadas nele, mas Joaquim gostou de Suzana, e os dois começaram a namorar. Mas agora ela percebia que todas as observações que a amiga fez sobre o ex-marido ao longo do tempo eram verdadeiras.

— Eu nunca te ouvi, sempre achei que você ainda se interessava por ele.

— Credo! – Priscila olhou para a amiga, indignada. – Nunca ficaria com um boy de uma amiga, principalmente se ele fosse um egocêntrico como o seu ex-marido. Ele pessoalmente era insuportável, eu só o suportava por sua causa.

— O que eu vou fazer, amiga? Como vou sobreviver sem casa, sem trabalho e tendo que cuidar da minha família?

— Vamos dar um jeito. Por ora, você fica aqui comigo. Vou esvaziar aquele quartinho de bagunça lá nos fundos. É pequeno, mas vai dar para você dormir. Eu tenho um colchonete aqui e você fica com ele até comprarmos a sua cama. E vou liberar uma parte do meu armário para você. Depois podemos vender aqueles seus vestidos caros. Tem um bazar em Copacabana que paga muito bem, isso vai te ajudar a levantar uma grana até você arrumar um emprego.

— Não sei como te agradecer, Pri. Estou em estado de choque. – Suzana a abraçou, chorando, e a segurou com força.

— Não precisa agradecer amiga, eu sei que faria o mesmo por mim.

— Claro que faria. – Ela se afastou e enxugou o rosto.

— Pare de chorar, vamos tirar as suas coisas daquela casa e se livrar de todo o seu passado.

Suzana respirou fundo e deu um longo abraço na amiga. Naquele momento era tudo o que ela precisava, alguém que a escolhesse e não julgasse.

****

Horas depois...

Como não tinha quase nada para levar, em pouco tempo Suzana embalou as suas coisas. Ligou para o advogado que representava o novo proprietário e entregou as chaves da casa. Saiu sem olhar para trás, não queria mais se lembrar da vida de fachada que levou naquele lugar.

Agora ela sabia que todos os anos que passou ao lado do marido foram ilusão; se ele a amasse de verdade, nunca teria lhe dado um golpe. Aquele canalha a usou e a passou para trás. Depois de seis anos, entre namoro e casamento, Suzana dedicou a vida a ele, e agora ficou sem absolutamente nada.

— Você realmente não tem ideia de para onde ele foi? Podemos tentar encontrá-lo pela internet, pedir ajuda dos amigos que tinham em comum, ou algo parecido. Ele não pode ter evaporado do nada, tem que ter alguma pista de onde ele está. – O irmão da Priscila lhe deu essa sugestão.

— Não tenho noção de onde ele possa estar Pablo, só sei que foi para São Paulo em uma reunião, e, depois disso, só recebi ligações dele até ser despejada ontem à tarde da minha casa.

— Isso parece até história de novela. Aquele teu marido sempre me pareceu um safado, mas não esperava tanto.

— Não era só eu que não gostava dele. – Priscila falou enquanto tirava a última bolsa do carro do irmão.

— Acho que só eu não percebia o mau-caratismo dele.

— Você estava apaixonada, por isso não percebia. – Pablo tentou justificar a falta de atenção dela.

— Você tem razão. – Suzana teve que concordar com ele.

Sempre imaginou o marido como um homem acima do bem e do mal, mas agora percebia que estava apenas sob o efeito da paixão.

Assim que entraram na casa da Priscila, o seu celular tocou. Quando viu o nome da mãe no visor, Suzana se encolheu. Se a sua mãe chorasse, mais uma vez ela desabaria.

— Oi, mãe.

— Arrumei um lugar para ficarmos, graças a Deus. – A voz de sua mãe era trêmula, e Suzana percebeu que estava tentando segurar o choro. – A Vânia, aquela minha prima que mora aí, no Recreio dos Bandeirantes, vai nos receber. Ela tem uma casinha pequena desocupada no quintal e vai nos ceder o local. Até o fim de semana, nos mudaremos, o Levi da padaria vai fazer o frete da nossa mudança sem cobrar nada. Você sabe que ele é um bom amigo do seu pai.

— Mãe... – A voz morreu quando percebeu que a mãe resolveu tudo em pouco tempo. – Sinto muito, fui ao advogado, e ele disse que toda a transação foi feita com uma procuração assinada por mim, mas eu juro que não

assinei nada, não estou entendendo o que aconteceu.

Sua mãe suspirou pesadamente do outro lado da linha.

— Aconteceu que esse seu marido é um bandido e roubou tudo o que você ajudou a construir ao lado dele. O que mais tem nesse mundo é gente ruim, filha. Mas não se preocupe, Deus nos dará tudo de volta e cobrará dele tudo o que está nos fazendo.

— Só a senhora para ser tão forte nesse momento, eu estou devastada com toda essa situação. Não sei o que farei da minha vida.

— Tudo tem jeito, filha, agora que estou saindo daqui da Serra, poderemos ficar mais próximas. Se você quiser, pode ficar com a gente lá, seu pai vai ficar feliz em ter as meninas dele de volta sob as suas asas.

— Eu sei que ele ia gostar, mãe. — Pela primeira vez nesse dia, Suzana sorriu. Ter sua família tão perto dela seria um bálsamo para a dor que estava sentindo. – Mas estou na casa da Priscila, e aqui é melhor para arrumar um emprego.

— Tudo bem, meu amor. Assim que eu estiver saindo daqui, aviso, mas fica com o coração em paz, filha, vamos superar toda essa crise, e de alguma maneira encontraremos esse homem.

— Mãe, como o papai está?

— Ele reagiu melhor do que pensei, está mais preocupado com você do que com a perda da casa. Fica tranquila, que estamos bem, o importante é que estamos com saúde, vamos nos ajeitar.

— A senhora não existe, mãe.

— Existo sim, filha, e te amo demais. Cuide-se, meu amor, até domingo mamãe chega.

— Também te amo, mãe. – Ela pediu a benção da mãe antes de desligar.

— Sua mãe é incrível, que inveja. – Priscila sorriu e levou algumas das suas bolsas para o próprio quarto.

— Eu sei.

— Fiquem por aí, que tem um rato nesse quartinho. – Ambas escutaram Pablo gritar no fundo da casa.

Elas se entreolham e gritaram ao mesmo tempo. Correram para o quarto de Priscila e se trancaram e apenas ouviram a briga feroz do Pablo com o rato. Graças a Deus que ele se ofereceu para desocupar o quarto, se ele não tivesse feito isso, elas estariam desesperadas e sozinhas nessa casa.

— Seu irmão é um herói.

— Eu sei. Nele, podemos confiar. – Priscila soltou um grito quando ouviu o irmão berrar um palavrão e abraçou a amiga

Suzana percebeu que estava sem rumo, mas que ao menos sobraram verdadeiros amigos ao seu lado, aos quais poderia sempre confiar.

Continua...

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