— Eu não acredito que vou mesmo fazer isso. — Elana disse, segurando o celular com uma mão enquanto a outra remexia cabides dentro do armário. — Isso é loucura, né? Do outro lado da tela, Isabella estava esparramada no sofá com uma taça de vinho e uma expressão de quem estava se divertindo horrores. — Loucura é você cogitar sair com esse cardigã bege. Elana, por Deus. Você quer jantar com um homem interessante, não parecer que vai revisar uma monografia. — Isso é o que eu tenho, Isa! Eu nem sei mais o que é estar “arrumada” para alguma coisa. Ainda mais para um… jantar? Encontro? Entrevista informal? Eu nem sei o que isso é! — Isso é claramente um encontro. — Isabella respondeu, girando a taça devagar, com um sorriso malicioso. — E ele claramente está interessado. Você precisa parar de agir como se estivesse indo para uma reunião de condomínio. Elana soltou um riso nervoso e jogou um vestido floral em cima da cama. — Esse? — Só se vocês forem jantar num jardim de infância. Elan
O shopping parecia ainda mais barulhento do que o normal. Elana desceu do carro de aplicativo e, por um instante, cogitou voltar para casa. Mas a voz da Isabella ecoava na mente como uma trilha sonora teimosa: “Compra um vestido que diga ‘eu sou incrível’.” Respirou fundo e seguiu pelos corredores até uma loja que chamava atenção até mesmo de longe. Vidros impecáveis, manequins com expressões quase arrogantes e vestidos que pareciam custar o triplo do que ela costumava pagar por uma peça de roupa. Entrou. — Boa tarde. — disse ao cruzar a porta. A vendedora, uma mulher alta, magra e de coque impecável, a avaliou dos pés à cabeça com um olhar de quem esperava que Elana tivesse entrado na loja errada. — Posso… ajudar? — perguntou, com um sorriso educado, mas forçado. O tipo de sorriso que grita “você não pertence a este lugar”. — Estou procurando um vestido para hoje à noite. Algo elegante, mas não exagerado. — Elana respondeu, tentando manter a postura, mesmo diante da recepção ge
Ryan já estava sentado à mesa, de frente para a entrada, com uma taça de vinho tinto nas mãos. Ao vê-la, seus olhos se acenderam num brilho imediato. Sem hesitar, ele se levantou. Elana parou a poucos passos de distância, surpresa com o gesto; quase ninguém fazia isso mais. Mas ele fez. Com naturalidade, como se fosse a única coisa possível a se fazer diante da visão que ela era. — Uau… — disse ele, com um sorriso lento e sincero. — Cedo, na cafeteria, você estava linda. Elana abriu um sorriso tímido, já sentindo o rubor subir pelas bochechas. — Mas agora… — ele continuou, olhando-a dos olhos ao vestido, com admiração evidente — nesse vestido, você está simplesmente incrível. Ela baixou os olhos por um segundo, envergonhada, mas o sorriso se alargou, genuíno, impossível de conter. — Obrigada… você também não está nada mal. Ryan riu suavemente e puxou a cadeira para ela, como se tivesse todo o tempo do mundo só para apreciar aquele momento. Elana sentou-se, ajeitando o sobretudo
Ryan assentiu lentamente, como se compreendesse cada palavra. Ele pegou sua taça de vinho, mas antes de beber, disse: — Então você escolheu se mover. Escolheu recomeçar. Isso exige coragem. Muita. Ela deu uma risada baixa, desviando o olhar para a vela acesa no centro da mesa. — Não sei se foi coragem… acho que foi desespero. Mas agora, depois de tudo, sinto que talvez tenha sido a melhor coisa que me aconteceu. Dói admitir, mas às vezes a queda te coloca no caminho certo. — Ou nas pessoas certas. — Ryan completou, com um sorriso gentil. Elana o olhou, surpresa com a delicadeza da frase, e por um segundo, os dois apenas se encararam, como se o tempo tivesse diminuído a velocidade ao redor deles. — Você tem esse talento, não é? — ela brincou. — De dizer as coisas certas na hora certa. — Eu prefiro pensar que é só sinceridade. — ele disse, dando de ombros. — E talvez um pouco de sorte por estar aqui com você essa noite. O garçom se aproximou com os pratos, interrompendo o moment
— Prometo que não é. — ele disse, levantando as mãos em rendição. — Só pensei… que tal uma caminhada? Nada demais. Só... esticar as pernas, aproveitar a noite, conversar mais um pouco. Ela hesitou por um segundo, mas o convite tinha um quê de simplicidade reconfortante. A noite lá fora estava fria, sim, mas o sobretudo a protegeria — e, no fundo, algo nela queria prolongar aquele momento. — Caminhar. — repetiu, como se testasse a ideia. — Com um advogado desajeitado que odeia gravatas. — Exatamente. — ele confirmou, rindo. — E que promete não te empurrar numa poça ou tropeçar nas próprias pernas. Ela pegou a bolsa, levantando-se. — Nesse caso… vamos. Mas se eu escorregar nos meus saltos, a culpa vai ser sua. — Já estou pronto para assumir total responsabilidade. — ele respondeu, oferecendo o braço para ela. Elana o olhou por um segundo, antes de entrelaçar o braço no dele. Saíram do restaurante como se o mundo tivesse diminuído a velocidade só para eles. A calçada ainda estava
Após mais alguns minutos de caminhada, Ryan perguntou o endereço de Elana e tirou o celular do bolso. — Se importa de dividir um carro de aplicativo comigo? — Carro de aplicativo? — ela comentou, divertida. — Jurava que você era do tipo que dirige um sedã preto com bancos de couro. — E perder a chance de dividir um carro com você? Jamais. — ele respondeu, com um sorriso torto. — Além disso, não tenho carro. Fica mais fácil fingir que sou misterioso assim. Elana riu, balançando a cabeça. — Misterioso e econômico. Um combo irresistível. O carro não demorou a chegar. Ryan abriu a porta para ela com um gesto brincalhão, como se fosse um cavalheiro de um romance de época. — Depois de você, senhorita Elana. Ela entrou, ainda sorrindo, e ele logo se acomodou ao lado. O banco de trás era pequeno demais para a tensão leve que crescia entre eles, mas confortável o bastante para que o silêncio que se formou não fosse constrangedor. O motorista iniciou o trajeto, e por alguns instantes
Por um momento, não era Elana sentada ali. Era Isadora, a protagonista do seu livro, sentindo o coração sair da rotina pela chegada de alguém inesperado. E, de algum jeito, era como se aquele personagem novo tivesse ganhado vida antes mesmo de ser planejado. Como se ele simplesmente... surgisse. Elana sorriu sozinha. Noah. Nome escolhido em segundos, mas que soava tão certo quanto o silêncio confortável que ela e Ryan haviam dividido naquela noite. Ela estalou os dedos, pronta para continuar. “Isadora não sabia o que esperar dele e, sinceramente, não fazia questão de descobrir tudo de uma vez. Às vezes, só o fato de alguém se sentar ao seu lado sem pressa já era o suficiente para aquecer uma noite inteira." Com um brilho leve nos olhos, Elana continuou digitando, os dedos ganhando ritmo, a inspiração fluindo com naturalidade. A figura de Gabriel, que sempre dominava as páginas com sua presença intensa e o passado entrelaçado ao dela, por ora, dava espaço a esse novo personagem. Nã
Gabriel soltou um sorriso torto, inclinando-se levemente para a frente. — Eu queria acompanhar mais de perto o que você está escrevendo. Estar por dentro da história da Isadora e do Adrian… sem surpresas, sem triângulos amorosos inesperados. Elana arqueou uma sobrancelha, largando o cardápio sobre a mesa. — Você quer acompanhar o livro… ou é porque a Giana te contou que me viu com alguém? A expressão de Gabriel se quebrou no mesmo instante. O leve sorriso desapareceu, substituído por um olhar confuso. — O quê? — Esquece. — ela disse rápido, desviando o olhar e pegando o copo d’água à sua frente. — Foi só um comentário bobo. — Não, espera. — ele se inclinou um pouco mais, agora com o semblante sério. — Com quem você estava? Ou melhor, onde viu a minha mulher? Elana estreitou os olhos, surpresa com a inversão repentina. — Sua mulher? — repetiu, quase em um sussurro. — Eu não disse que vi a Giana. Disse que talvez ela tenha te contado algo. Gabriel a encarou por um momento, o m