Mundo de ficçãoIniciar sessãoJá é quase hora do Allister chegar para ficar com Lavínia. Maria está agitada, andando de um lado para o outro.
-O que foi, mãe? Lavínia pergunta enquanto tenta sentar na cama. - Essa história de você ir para a fazenda... eu não estou gostando nada. - Mãe, quando foi que a senhora não pôde confiar em mim? Maria para e encara a filha. - Em você eu confio, não confio é nele... - Mas mãe, o que foi que ele fez para a senhora não confiar nele? Já contei que a culpa do acidente foi minha. Ele tem sido atencioso, tem cuidado de mim e ainda ofereceu a casa dele para que eu me recuperasse melhor... - Na casa da tua família você não iria se recuperar bem, é isso? Lavínia suspira. - Não é isso, mãe... Eu só estou tentando entender porque a senhora está tão aflita. - Filha, foi naquela casa que você quase morreu... - Mãe, se a festa tivesse sido na empresa e o acidente acontecesse lá, a senhora iria me proibir de ir trabalhar? Foi um acidente, poderia ter acontecido em qualquer outro lugar. Allister não tem culpa. - Tá bom, filha. Tá bom... Mas lembre-se: você só vai poder ir se eu for junto. - Eu sei, mãe. Hoje mesmo vou falar com Allister sobre isso... - Falar sobre o quê? Allister aparece na porta do quarto com um leve sorriso no rosto. "Por que toda vez que ouço essa voz, meu coração dispara?" Lavínia se pergunta, prendendo a respiração. - Mamãe disse que só permite que eu fique na fazenda se ela puder ficar lá também. Allister levanta uma sobrancelha, demonstrando curiosidade enquanto encara Lavínia e, logo depois, Maria. - Tudo bem. Sem problema. Era isso que estava lhe incomodando, dona Maria? Pois saiba que é muito bem-vinda na minha casa. Ele sorri, e Maria se sente mais calma e até um pouco encantada. Esse é o efeito de Allister sobre as mulheres. Lavínia revira os olhos. - Viu, mãe?! Vamos ter longos dias de férias na fazenda. A senhora vai ver como tudo lá é muito bonito... Lavínia fala animada, mas seu sorriso some quando lembra do ataque e que agora sua mãe estará lá. Se algo acontecer, sua mãe também será um alvo. Ela levanta os olhos para Allister, que entende na hora o seu medo. Maria também percebe que algo está errado e corre até a filha. - Lavínia, minha filha, o que foi? Ela encara a mãe, mas não a vê, apenas revê cenas do ataque, e o medo toma conta de seu peito. - Filha, fala comigo... - Dona Maria, chama o médico, acho que ela vai desmaiar... Allister pega uma garrafa de água e se aproxima de Lavínia. Maria sai correndo do quarto, e Allister aproveita para falar com Lavínia. - Me escuta, está tudo bem. Sua mãe e você estarão seguras na minha casa. Eu te dou minha palavra: não existe lugar no mundo mais seguro para vocês do que minha fazenda, entendeu? Agora se acalma. Vocês não estão em perigo... - Mas e se... Lavínia pergunta, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Um nó se forma em sua garganta, impedindo-a de terminar a frase. - Não existe "mas". Eu dei minha palavra, não dei? Confia em mim, só dessa vez, tá bom? Se acalma, vai ficar tudo bem... Ele abraça Lavínia. Ela encosta o rosto no peito dele, tentando se acalmar. Ela escuta sua mãe entrar no quarto com o médico e a enfermeira, mas continua com o rosto afundado no peito de Allister. As batidas do coração dele, o perfume suave e marcante que ele exala, os braços fortes em volta de seu corpo e a respiração dele tão perto de seu rosto fazem Lavínia se sentir segura, e aos poucos ela vai voltando a si. Quando se sente melhor, ela levanta o rosto e encara Allister. Por alguns segundos, observa cada detalhe daquele rosto impecável e, tentando fugir do desejo que começa a tomar conta de seu corpo, desvia o olhar para o lado e vê sua mãe parada, com uma sobrancelha levemente levantada, tentando entender o que está acontecendo. - Está tudo bem, ela teve uma crise nervosa... Allister fala enquanto Lavínia volta a deitar na cama. Ela fecha os olhos e sente seu rosto arder de vergonha. - Tudo isso porque ela lembrou da fazenda. Tenho certeza disso... Doutor, ela quer ficar no local onde o acidente aconteceu, isso não é bom para ela, não é mesmo? Olha o estado que ela ficou só de lembrar do lugar... Maria fala enquanto segura a mãe de Lavínia, que já está um pouco mais calma. O médico olha para Maria e depois para Allister. - Na verdade, isso pode ser bom para ela. Acidentes acontecem o tempo todo, e é importante que ela veja que o local não lhe traz mais riscos de vida. - Mas doutor... Ela quer ir para trabalhar... Maria gagueja, tentando convencer a todos que a fazenda não é um bom lugar para ela. - Isso também pode ser bom, principalmente se lá já era o local de trabalho dela. Ocupando a mente, ela não vai ver o tempo passar, a cura será mais rápida e ainda pode ajudá-la a se recuperar do trauma e voltar à sua vida normal mais rapidamente... - Mas... Maria tenta rebater as palavras do médico, mas sente Lavínia apertar sua mão. - Mãe, chega. Eu não sei por que a senhora está tão nervosa, mas a senhora precisa parar com isso. Eu sou adulta, sei o que é melhor para mim, já decidi que vou ficar na fazenda com Allister, e nada vai me fazer mudar de ideia, nem o médico e nem a senhora. Lavínia odeia falar assim com sua mãe, mas sabe que precisa ser mais firme, ou ela nunca a deixará ir com Allister. Maria encara Lavínia, e em seus olhos ficam claros a raiva e a mágoa que ela está sentindo. - Mãe, por favor... - Não, não precisa falar mais nada. Está tudo bem. Como você mesma disse, é sua vida; você já é adulta, então tem maturidade suficiente para se responsabilizar pelas consequências de suas escolhas... - Não fala assim, mãe... Lavínia luta contra as lágrimas ao ver sua mãe levantar e se afastar. - E já que você insiste tanto que é adulta e pode se virar, eu decidi que não irei com você para a fazenda. Já que confia tanto nele, vocês podem se virar sem mim... Lavínia prende a respiração. Por um lado, odeia ver a mãe com tanta raiva, mas, por outro, se sente aliviada. Ela não sabe o que a espera na casa de Allister, e colocar sua mãe em um possível perigo estava tirando sua paz. - Mãe, o Allister não merece que a senhora o trate dessa forma. Ele tem feito de tudo para ajudar... - Não tem feito mais que obrigação, afinal de contas você estava a trabalho na casa dele. Mas não precisa se preocupar, não vou mais atrapalhar os planos de vocês, seja eles quais forem. Um silêncio se espalha pelo quarto. Lavínia, com os olhos baixos, tenta não chorar, enquanto Allister continua ao seu lado. - Doutor, quando ela será liberada? Allister pergunta para quebrar o clima tenso. - Amanhã pela manhã. Até as 10h ela já estará liberada. - Mas já? Maria pergunta, surpresa. - Ela não corre mais risco de morte, e todos os cuidados e tratamentos que ela precisa podem ser feitos em casa mesmo, então não há motivo para mantê-la aqui por mais tempo. - Mãe... a senhora vem me ver amanhã? Maria encara Lavínia. Seu coração amolece por alguns segundos, mas assim que vê Allister segurando a mão dela, volta a ficar com raiva. - Talvez... Não dou certeza de nada. Agora preciso ir. Boa noite para vocês. Maria sai, seguida do médico, enquanto a enfermeira fica e aplica alguns remédios. Quando ela sai, o quarto fica silencioso novamente. - Eu vou buscar algo para você comer. Creio que ainda não jantou, não é mesmo? - Não mesmo... Lavínia sussurra. - Eu já volto. Assim que Allister fecha a porta, Lavínia começa a chorar. Sentir todo o desprezo e raiva de sua mãe a deixou mal. Ela sabe que logo sua mãe vai lhe perdoar, mas isso não a impede de sentir a dor da rejeição, mesmo que não perdure por muito tempo. Quando Allister volta com a janta, ela já está mais calma e até com fome. Lavínia sente seu estômago reclamar ao sentir o cheiro da comida. - Nossa... que cheiro maravilhoso! O que você trouxe para a gente? Allister sorri e tira três marmitas de uma sacola. - Na verdade, eu trouxe para você. Jantei antes de sair de casa, então não estou com fome. Aqui tem arroz, salada, peixe e frango grelhados... Aqui uma maionese e, nesse aqui, um doce para sobremesa... Ele fala enquanto organiza tudo em uma bandeja de café da manhã e coloca no colo de Lavínia. - Minha nossa, Allister... é muita coisa, não vou conseguir comer tudo. - Não tem problema. Coma o que conseguir; o que importa é que esteja bem alimentada. Ah, e tem suco depois. Ainda não sei bem do que você gosta, então trouxe um suco de abacaxi com menta. - Você acertou em cheio, é um dos meus sucos favoritos. Ela fala e sorri para Allister. - Que bom que acertei. Agora coma. Lavínia não espera um segundo comando e começa a comer imediatamente. Quando fica satisfeita, Allister coloca tudo na mesa novamente. - Vou pegar as coisas para você escovar os dentes. Fica aqui, só vou até o banheiro... Ela ri do jeito dele, mas não deixa de se sentir bem com tanto cuidado. Depois dos dentes escovados, Lavínia deita na cama e Allister puxa a dele para mais perto. - Está afim de assistir alguma coisa? Ele pergunta enquanto liga a TV que fica em frente à cama. - Gosta de séries? - Sim... Lavínia responde bocejando, o estômago cheio e a cama macia começam a deixar ela com sono. - De que tipo? Allister pergunta, mudando os canais bem rápido, como se estivesse entediado. - De lobisomem... Lavínia responde e encara Allister. Ele levanta uma sobrancelha, incrédulo com a resposta dela. Ela cai na gargalhada, e ele resmunga algo, fazendo-a rir ainda mais. Quando consegue parar de rir, ela pede desculpas pela brincadeira, dizendo que não resistiu. - Tá bom, tá bom... Foi mesmo engraçado, mas como castigo, sou eu quem vai escolher o que vamos assistir. - Por mim, tudo bem. Eu não sabia mesmo o que assistir... Ela fala, contendo uma risada. Ele põe um desenho animado, e eles conversam por algumas horas antes de caírem no sono com a TV ligada, mas no volume mínimo. De madrugada, Lavínia acorda e, ainda sonolenta, olha para a TV, que ainda passa algum desenho animado. Quando se vira para voltar a dormir, vê Allister lhe encarando. - Você me assustou... Ela sussurra. - Desculpa, não tive a intenção. Ele sussurra de volta. - Acordou agora ou nem dormiu? - Acordei agora. Lavínia observa o rosto de traços fortes de Allister. O cabelo bagunçado dele molda seu rosto, deixando-o com uma aparência quase selvagem, mas ainda muito belo. - Para com isso... Ele sussurra, pegando Lavínia de surpresa. - Desculpa, eu... - Se você continuar fazendo isso, vai ser difícil ficar na mesma casa que você, sem te levar para a minha cama... Ele sussurra com a voz rouca, denunciando seu desejo. - Desculpa... Sem se conter, Lavínia olha com desejo para os lábios de Allister. Ele não se contém e se aproxima, ficando com o rosto um pouco acima do rosto dela. - Eu disse para parar... Ou será que você quer tanto isso quanto eu? Um brilho passa pelos olhos de Lavínia. Allister perde o controle e a beija. Ela geme quando sente a boca de Allister sobre a sua, mesmo pega de surpresa, não resiste. O beijo se torna cada vez mais intenso, fazendo Lavínia quase perder o controle, mas seu corpo começa a doer, e só então percebe que Allister está sobre ela. - Não... Allister, assim não... Ela sussurra enquanto ele beija seu pescoço e toca um de seus seios com a mão. - Allister, por favor, para... Ela empurra-o levemente, e ele para com os beijos e deita o rosto sobre o peito dela. - Desculpa... Eu perdi o controle... - Tá tudo bem, eu também queria isso... Mas aqui não é o lugar adequado... Ele levanta o rosto e a encara. A pele branca dela agora está levemente vermelha, e os olhos ainda brilham de desejo. Lavínia prende a respiração ao vê-lo tão belo e tão perto dela. - Por favor, volta para tua cama, antes que eu perca o restante do controle que ainda me resta... Ela sussurra, e ele sorri. Assim que sai de cima dela, um barulho alto invade o corredor. Ele faz sinal de silêncio e vai em direção à porta. Allister sai do quarto e volta minutos depois. Seus olhos brancos denunciam que algo está fora do normal. - O que aconteceu? - Tem outro lobo aqui... E ele é da minha alcatéia. Acho que não vão querer esperar você chegar na fazenda, eles sabem que lá não vão poder fazer nada... - E agora? O que vamos fazer? Lavínia sente o pânico tomar conta dela. - Se acalma. Eu ainda estou aqui. Enquanto eu estiver no quarto, eles não podem entrar, então pode dormir tranquila. Eu vou ficar acordado. - Como se eu fosse conseguir dormir... Ele se aproxima dela e pega o controle, colocando a TV alguns volumes mais alto. - Então tá bom, ficaremos os dois acordados. Ele sorri para Lavínia. Eles passam a madrugada em alerta e, apesar do cheiro do outro lobo permanecer, nada acontece. Quando os primeiros raios de sol começam a surgir, Lavínia, já exausta, consegue dormir, enquanto Allister permanece acordado, sem dormir nem por um segundo.






