Capítulo 3 - Quem eu desejo

Paulo e Mariana, eram parceiros de dança há um bom tempo, já saíram juntos algumas vezes, mas só para curtir. Ao chegar na pista de dança, o DJ colocou ‘Diamonds’, Rihanna. Paulo adorou e  puxou-a pela cintura, mas parou para afastar os seus cabelos do rosto, e encostou o queixo em seu ombro, mas não sem antes beijá-lo.

— Paulo, por favor, nós somos amigos, só isso! —  reclamou Mariana.

— Você não pode culpar um homem por tentar, não é?

— Posso, principalmente porque esse homem já foi avisado de que não existe a mínima possibilidade de termos algo sério.

— Tudo bem! Então vamos só curtir o momento, certo?

— É claro, mas sem beijos e abraços. — reforçou Mariana.

— Ok. — concordou Paulo a contragosto.

    De longe, Fernando irritava-se, cada vez mais, com a visão daquele homem colocando as mãos em Mariana, e beijá-la no ombro foi a gota d’água. Virou a dose de uísque de uma só vez, determinado a resolver o problema.

— Você me prometeu uma dança. Esqueceu, Mariana?

    Paulo e Mariana pararam de dançar e olharam para Fernando. 

— Quem é você? — perguntou Paulo.

— Não é da sua conta! — rosnou Fernando e, antes que Mariana falasse algo,  puxou-a para si, dando as costas para Paulo que saiu atônito e constrangido.

—Alguém já te disse que é muito grosso? Não devia ter falado com ele desse jeito!

— Por que você estava dançando com ele?

— Porque ele é meu amigo. Me solta!

— Não, nós vamos terminar de dançar e não adianta tentar fugir, não vai conseguir.

— Me solta!

— Já disse que não.   

— Se você não percebeu, essa música não é para dançar colado! 

— É uma regra? Desculpe, mas não sou do tipo que segue regras de convenções sociais.

— Dá pra perceber que você é meio reizinho mandão, estou enganada ?

    Mariana parou de se contorcer e resolveu ceder a dança. Fernando movia-se no ritmo da música e tinha que admitir que até que ele dançava bem. Resolveu então, provocá-lo, acompanhando o seu ritmo e adicionando uma boa pitada de sensualidade. Estavam numa briga de egos particular. Como ele era bem mais alto, Mariana precisava erguer a cabeça para fitá-lo nos olhos, sua respiração parecia que ia lhe fugir. Fernando também respirava forte, os lábios apertados, o desejo de beijá-la crescendo, então, com uma mão, segurou-a firme contra seu corpo e, com a outra, pegou o seu pescoço, sentiu a resistência dela, mas não desistiu, aproximando-se de sua boca. Mariana, fechou os olhos e, quando os lábios dele tocaram os seus, suspiros escaparam. Fernando entendeu esse gesto como um convite e continuou explorando sua boca. O corpo de Mariana estremeceu e,  quanto mais ele a beijava, mais ela queria. Por fim, quando seus lábios se afastaram, permaneceram um bom tempo parados, olhos nos olhos,  as mãos dele descendo até seus quadris, podia sentir o quão ele estava excitado. 

— Você é sempre assim? — Mariana perguntou trêmula.

— Assim como? — perguntou em um sussurro.

— Dominador.

    Fernando surpreendeu-se com a resposta.

— Eu não sabia que desejar algo era ser dominador.

— Desejar, não, mas tomar a força, sim.

— E o que eu estou tomando à força? — perguntou com um riso cínico.

— Você é um metido a besta e convencido! Que droga!

Mariana gritou empurrando-o com raiva e foi em direção à saída do bar sem olhar para trás. Seu corpo ardia e tremia, parecia febril. Precisava de ar, pois não conseguia respirar direito. Correu para a ponte, a brisa fria tocou o seu rosto, aliviando o calor. O tremor não passava, ainda tentava entender o que havia acontecido. Como era possível sentir-se tão atraída assim? Estava arquejante, como se tivesse participado de uma maratona, encostou-se na mureta, suspirou e curvou-se para frente, sentindo-se um pouco melhor. Fernando tinha o dom da sedução. Seu espírito é de um um caçador, forte, viril e decidido. Ele sabia exatamente o que queria e, pelo que percebeu, ele a desejava, assim como ela, e esse tipo de desejo é muito perigoso. Fechou os olhos, sentindo raiva de si mesma. Foi então que  seus pensamentos foram abruptamente interrompidos, por um par de braços, fazendo-a pular de susto.

—  Cuidado! Você pode cair e se machucar!

    —  Ou então você pode me empurrar e dizer que eu caí.

— De forma alguma! O único lugar em que quero que você caia é nos meus braços! — prendeu-a contra a mureta, acabando com qualquer distância entre eles.

— Fernando, essa frase é meio brega, não acha? — riu nervosa e se virou, ficando de frente para ele.

— Você é  muito crítica, sabia? —  as mãos agora foram parar em sua cintura.

— O que você quer? Por que está me seguindo?

— Por que você está fugindo?

— Eu não estou fugindo!

— Claro que está! Já fugiu três vezes! Por que me empurrou e saiu correndo daquele jeito? 

— Você não me respondeu.

— Nem você. Por que me chamou de dominador?

— Dominador não é aquele que domina, controla, manda e todos obedecem? 

— Assim você me magoa. Vou sair da boate hoje com uma carga muito grande de adjetivos não muito agradáveis. —  comentou rindo.

Mariana tentou se afastar, mas ele não permitiu.

— Você é louco, Fernando!

— Do que você tem medo?  Do que nós dois estamos sentindo?

— Eu não estou sentindo nada! Eu nem te conheço direito!

—  Mariana, há uma química entre nós dois, você sentiu isso e eu também.

— Você está delirando! —  falou sussurrando.

— Não me provoque, mocinha, não negue, pois o que sua boca desmente o seu corpo confirma.

Os olhos dele escureceram e Mariana sentiu um calafrio na espinha. Colocou as palmas das mãos em seu peito tentando manter uma distância minimamente segura, mas ele a empurrou ainda mais contra a mureta.

— Acho melhor você parar de me provocar, pois não vou conseguir me controlar.

— E o que você faz quando perde o controle? — Mariana perguntou. A voz por um fio.

— Eu simplesmente me deixo levar pelo prazer, somente isso. Desde o primeiro momento em que te beijei, aqui mesmo na ponte, senti algo estranho e sei que você também, porque simplesmente não aceita e se rende?

— Me render? Não sabia que estávamos numa guerra e eu tinha que levantar a bandeira branca. E por que eu tenho que me render? Por que sou mulher? É isso?

— Porque eu já disse que quero você. Então, por que você não admite que sente desejo por mim?

— Porque não sinto!

Os olhos de Mariana brilharam. Estava enredada no jogo erótico de Fernando e isso a deixava ao mesmo tempo estimulada e preocupada. Sua cabeça parecia uma chaleira em ebulição, não conseguia parar de pensar nos prós e nos contras de um possível envolvimento com Fernando. Enquanto Mariana perdia-se em seu conflito interno, Fernando aproveitou a confusão em seus olhos e a beijou novamente, fazendo-a arquear o seu corpo para frente, buscando senti-lo. Levantou-a e a sentou na mureta. Mariana envolveu seus quadris com suas  pernas e sentiu a sua ereção, não aguentou e  soltou um gemido de prazer. Estava tão excitada que poderia se entregar ali mesmo, naquele momento, sem nenhum pudor, vergonha ou acanhamento.

— Eu quero você!  — sussurrou Fernando.

— Não!

— Sim!

— Por favor...Fernando.

— Por favor, o quê? Sim ou não?

—  Sim!

    Ele forçou ainda mais a sua entrada, desceu uma das mãos e introduziu os dedos por baixo da saia chegando até a calcinha, acariciou a renda, pressionando sua entrada com o polegar. Mariana gemeu. 

— Nossa! Como você está molhada! — gemeu Fernando. — Molhada pra mim, só pra mim. 

Fernando afastou a renda e enfiou dois dedos, começando a lhe masturbar. Mariana levantou os braços e os colocou em torno do pescoço de Fernando,  tomando-lhe a boca e sugando sua língua com força e avidez. Mariana entregou-se totalmente sentindo um prazer incontrolável  que crescia no centro do seu sexo. A sensação foi tomando proporções incontroláveis até que  deu um pequeno grito. Porra! Gozou! Fernando sentiu o prazer dela se derramar em suas mãos e  sorriu feliz, porém não parou e continuou lhe beijando, sua língua explorando sem nenhum pudor, suas mãos agora estava em seus seios, acariciando-os enquanto sua boca descia por seu pescoço mordiscando, estavam tão entregues ao momento que não perceberam a presença de Luíza.

— Estou atrapalhando? — a pergunta saiu com um tom irritadiço.

— Graças a Deus! — gemeu Mariana.

— Salva pelo gongo, pelo menos, por enquanto. — Fernando falou num tom de desagrado. Demorou um pouco para se afastar, tentando se recuperar. Ficou tenso e, em seguida, praguejou. — Droga! Te espero no bar. Você não vai fugir, depois vamos para outro lugar. — deu um beijo na sua testa e, por fim, respondeu à pergunta de Luíza com o mesmo tom.

— Não, Luíza, não atrapalha de forma alguma. — passou por ela e foi em direção à boate.

— Você fez de propósito, não foi? — falou Luíza irritada, assim que Fernando  afastou-se.

— Fiz de  propósito o quê? Por que a irritação?

— Não se faça de idiota, Mariana! Você sabe sobre o que eu estou falando. Você me deu ele numa bandeja de prata, esqueceu Salomé? 

— Por que está tão histérica? Luíza, eu não vou brigar com você por causa de um homem! Ele veio atrás de mim, ok?

— Por que não mandou ele embora?

— Eu tentei! Agora eu tenho que me justificar?

— Tem sim!

— Não, eu não tenho! 

Mariana afastou-se e passou por Luíza sem dizer mais nada. Retornou à boate, disposta a pegar sua bolsa e ir direto para casa. Ao chegar à mesa, só encontrou Vívian e ficou feliz.

— Mariana, onde você estava?  — perguntou Vívian preocupada— Luíza procurava por você.

— Procurou tanto que me encontrou na ponte. Chegou justamente no momento em que Fernando e eu estávamos nos beijando e fazendo algo mais. Ela está um pouco histérica. — Mariana falou triste.

— Ai meu Deus! O que foi que aconteceu? -— exclamou Vívian. — E você gostou?

— Do quê? Do que eu fiz com o Fernando ou da histeria da Luíza?

— É claro que foi o que você fez com o Fernando. —  confirmou Vívian.

— Ai, Vívian, eu sou uma mulher sem vergonha! Eu gozei! — Mariana falou num tom envergonhado. — Meu Deus! Em que nível eu cheguei, deixar um desconhecido me masturbar numa ponte, com várias testemunhas.

— Amiga! Que bom que eu vivi para ouvir isso da sua boca!— exclamou Vívian sorrindo. — Não é um conto do Marquês de Sade, mas serve.

— Vívian, Marquês de Sade era barra pesada. Perto dele, eu sou mamão com açúcar, poderia até me classificar como uma vadia mamão com açúcar. — falou estressada. — Gente, o que eu estou dizendo? Brincando com uma das minhas melhores amigas, sobre o fato de eu ter me tornado uma vadia.

— Mamão com açúcar! Não esqueça —  brincou Vívian.

— Tá! Uma vadia mamão com açúcar! Acho melhor ir embora, antes que Luíza apareça atropelando todo mundo. A noite já foi agitada o bastante.

— Você vai deixar de se divertir por causa das infantilidades da Luíza?

— Não é só por isso, vou embora antes de fazer alguma besteria bem maior!

— Como transar com o Fernando? Amiga, estamos no século 21, nenhuma mulher é mais obrigada a negar os desejos que sente! Se quer ir pra cama com ele da primeira vez, é um direito seu! São adultos.

— Agradeço o conselho pervertido, mas vou embora! 

—  E o Fernando? Não vai falar com ele? Afinal, vadia…

—Vívian!

— Desculpa, eu quis dizer amiga. — sorriu. — Afinal, amiga, ele te deu um orgasmo, diante disso, o homem merece um mínimo de consideração, não acha?

—  Não! Vou embora sem me despedir, dá um beijo no Marcelo. Estou indo. Nos vemos amanhã.

Mariana se despediu, pegou a bolsa e caminhou em direção à saída sem olhar para ninguém. Quando se aproximava da porta, esbarrou num homem e, ao virar-se para pedir desculpas, empalideceu. Parado, olhando diretamente para ela,  Henrique, a última pessoa que gostaria de ver em todo o mundo! Sentiu suas pernas tremerem, o ar lhe faltou, tinha certeza de que estava branca igual a um fantasma. Ficaram se encarando, por alguns segundos, um observando o outro, num silêncio mortal, até que Henrique fez menção de falar, mas Mariana balançou a cabeça negativamente e  deu-lhe as costas. Sentiu a raiva tomar conta do seu ser, enquanto caminhava até a saída,  o choro preso na garganta. Não gostou de saber que a presença dele ainda a afetava dessa maneira. A porta de saída parecia inalcançável e, quando finalmente pensou que conseguiria atravessá-la, eis que Fernando aparece na sua frente.

— Fugindo?

— Não é da sua conta! — respondeu grosseiramente.

— Calma! Você está bem? — Fernando a segurou em seus braços tentando tranquilizá-la.

— Fernando, desculpa! Por favor, eu só preciso ir embora, senão vou surtar! E não, não estou fugindo! Agora, saia da minha frente, por favor.

— Aconteceu alguma coisa? Você discutiu com a Luíza?

Mariana parou e olhou para Fernando com raiva.

— Você é tão convencido! Por acaso esperava que eu  me estapeasse com a Luíza  por sua causa ou talvez uma briga na lama, vestindo um fio dental fosse o ideal pra você? — deu uma risada irônica.

— Eu não quis dizer isso! Eu só  perguntei, porque senti um mal-estar entre vocês duas na ponte. Mas, confesso que imaginar você de biquíni fio dental e suja de lama, me agrada bastante.

— Você é terrível! Fica longe de mim! — Mariana olhou para a praia que ficava a alguns metros da boate e resolveu caminhar. 

— Não! Andar na praia nesse horário é muito perigoso! Vamos para outro lugar?

— Para onde? Para a sua cama?

— Adoraria levar você pra cama e  trepar até cansar, mas não com você nesse estado.

Mariana não respondeu e continuou caminhando, tirou os sapatos, enfiou os pés na areia,  caminhou até a beira da praia e sentiu a água fria tocar os seus pés. Respirou fundo e tentou  raciocinar direito. Com tantas boates na cidade, por que cargas d’água Henrique tinha que aparecer justamente nessa? O canalha já estava com outra mulher, queria gritar e mandá-lo para o inferno. Tudo de ruim que havia passado voltou e lhe atropelou com tudo. Estava muito enjoada, pois só de vê-lo  o seu estômago revirou.

 Fernando chegou devagar e puxou-a para si. Mariana se deixou abraçar. Naquele momento, precisava desesperadamente de um colo. Não aguentou e chorou, ficaram assim por um bom tempo, em silêncio, ouvindo somente os seus soluços, o som do mar, tendo a lua como testemunha. Mariana levantou o rosto  e encontrou a boca carnuda de Fernando, entreaberta e extremamente convidativa. O beijo foi suave e sensual, o desejo brotando novamente e cada pequena célula de seu corpo pedindo, gemendo, implorando para que  ele a possuísse ali mesmo. Ofegante e inebriado de prazer, Fernando,  afastou-a bruscamente.

— É melhor pararmos, Mariana! Se formos mais adiante, não vou conseguir parar.

— Eu não quero que pare!

— Mariana, o que aconteceu? Aquele homem na boate disse alguma coisa pra você? Ele te ofendeu?

—  Fernando, eu não quero falar sobre isso,

— Você está visivelmente decepcionada com alguma coisa. Vamos para outro local,  um lugar mais tranquilo, temos uma plateia ao nosso redor, já percebeu?

— Por que o repentino pudor? Você não se incomodou em nenhuma das vezes  que me beijou e muito menos na ponte quando me fez gozar.

Fernando sorriu tranquilo.

— Você estava linda quando gozou.

Mariana ficou vermelha.

— Fernando…

— Mariana, eu quero muito você, mas tenha certeza de que eu não aceito ser o prêmio de consolação de ninguém!

— Como assim? O que quer dizer com prêmio de consolação?

— O que é um prêmio de consolação? É aquilo que te consola na ausência do seu verdadeiro objeto de desejo, estou enganado? Não é você a psicóloga aqui?

— Fernando, eu já disse que não quero falar sobre isso! Sinto que esteja se sentindo assim, não foi a minha intenção.

— Por que não quer falar sobre o homem na boate?

— Porque faz parte do meu passado e eu já rasguei e queimei essas páginas há muito tempo. 

—  Não me parece que você resolveu isso.

 — Fernando, quer saber, vamos esquecer tudo isso, foi visivelmente um erro. Eu vou para casa.

— Mariana…

— Fernando, não tente me entender, ok?

— Eu vou te levar em casa, não vou te deixar ir embora sozinha!

— Eu não quero! — pegou a sandália que havia jogado na areia e passou rapidamente por Fernando, que lhe chamou várias vezes, porém ela o ignorou.

— Pode parar! — Fernando alcançou-a. —  Eu não vou deixar você ir embora desse jeito! —  puxou-a de encontro aos seus braços.

— Me solta!

— Não! Eu não vou soltar!

— Eu não vou pedir de novo!

—E o que você pretende fazer?

Fernando perdeu a paciência e calou a sua boca dando-lhe outro beijo. Mariana  irritada o mordeu, mas Fernando não a soltou e, mesmo sentindo o gosto de sangue, continuou a beijá-la, ignorando a sua raiva. Quando finalmente o beijo terminou, ele  falou:

— Nós vamos para o meu apartamento.

— Não!

— Não é um pedido, não tem negociação. — Fernando não esperou a resposta, pegou uma de suas mãos e saiu puxando-a. 

— Fernando, eu prefiro ir para o meu apartamento. — falou com voz trêmula.

—Tem certeza disso? — Fernando ainda duvidava com uma das sobrancelhas levantadas.

— Absoluta, vamos? — não foi preciso perguntar mais nada, foram em direção ao carro de Mariana.

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