Mundo ficciónIniciar sesiónDovey encontrou Enid no quarto da cobertura, dobrando metodicamente as roupas em malas. Três malas estavam abertas na cama king size da Califórnia, quase cheias. Ela estava bebendo — uma garrafa de vinho pela metade estava no criado-mudo, com o copo ao lado.
"Você está mesmo indo embora." Não era uma pergunta.
Ela não levantou os olhos da mala. "O que você esperava?"
"Precisamos conversar sobre isso."
"Precisamos. No seu escritório. Enquanto você estava lá dentro, Miriam."
Ele se serviu de três dedos de uísque do carrinho do bar. O álcool queimava, mas não tanto quanto o olhar de desgosto que ela lhe lançara seis horas antes. "Não é o que você pensa."
"Pare de dizer isso." Enid finalmente se virou para ele. Seus olhos estavam vermelhos, mas sua voz era firme. "Eu sei exatamente o que é. Você precisava dos ativos da minha empresa para garantir aquele contrato com o governo. Em vez de pedir ajuda à sua esposa — sua sócia —, você falsificou meu nome e me roubou."
"Sua empresa estava perdendo dinheiro."
"Minha empresa estava com dificuldades, sim. Mas era minha para perder." Ela jogou um punhado de lingerie na mala. "Não é sua para roubar."
Dovey se aproximou. "Somos casados. O que é seu é meu."
"Aparentemente, o que é meu também é da Miriam." Enid fechou o zíper de uma das malas com força. "Diga-me, há quanto tempo isso está acontecendo?"
"Isso importa?"
"Importa para mim."
Ele esvaziou o copo. "Oito meses."
A verdade a atingiu como um golpe físico. Ela se sentou com força na beira da cama. "Oito meses. Então você estava planejando esse roubo antes mesmo de começar a dormir com ela."
"Negócios são negócios, Enid."
"E eu sou apenas um dano colateral?" Ela se levantou, cambaleando levemente por causa do vinho. "O legado da minha família é apenas um dano colateral?"
"Você está sendo dramática."
"Estou sendo dramática?" Sua voz se elevou. "Você roubou minha herança, me traiu com seu sócio, e eu estou sendo dramática?"
"Fale baixo."
"Não." Ela se aproximou dele, perto o suficiente para que ele pudesse sentir o cheiro do perfume dela misturado ao vinho. "Não vou falar baixo. Não vou ficar quieta. Não vou fingir que está tudo bem."
"O que você quer de mim?"
"Quero que você admita que o que fez foi errado."
"Tudo bem. Eu estava errada." Mas o tom dele sugeria que ele estava apaziguando-a, não confessando.
"Você não quis dizer isso."
"O que mais você quer que eu diga?"
"Nada." Ela voltou a se concentrar em arrumar as malas. "Não há mais nada a dizer."
Ele agarrou o pulso dela enquanto ela pegava outro vestido. "Não se afaste de mim."
"Me solte."
"Não até terminarmos esta conversa."
Ela tentou se afastar, mas o aperto dele aumentou. "Você está me machucando."
"Eu não vou deixar você ir embora."
"Você não pode mais decidir isso."
Eles ficaram ali, presos em uma batalha de vontades. O pulso dela na mão dele, ambos respirando com dificuldade. O ar entre eles crepitava de tensão — raiva, tristeza e algo mais, algo mais sombrio.
"Eu te odeio", ela sussurrou, mas se aproximou em vez de se afastar.
"Eu sei", disse ele, com a voz áspera.
Quando ela o beijou, foi violento e desesperado. Seus dentes agarraram seu lábio inferior com força suficiente para tirar sangue. Ele a beijou de volta com a mesma fúria, as mãos se enroscando em seus cabelos.
Eles caíram na cama, amassando as roupas que ela estava guardando. As unhas dela arranharam as costas dele enquanto ele puxava o vestido dela pela cabeça. Eles estavam brigando e fazendo amor ao mesmo tempo, tristeza e raiva se misturando em algo cru e desesperado.
"Isso não muda nada", ela ofegou contra a boca dele.
"Eu sei", disse ele, mas suas mãos eram gentis em seu rosto, enxugando lágrimas que ela não percebeu que estavam chorando.
Quando tudo terminou, eles estavam enredados nos escombros da mala dela, ambos respirando com dificuldade. Ela chorava abertamente agora, soluços profundos que sacudiam todo o seu corpo. Ele a abraçou enquanto ela chorava, com os próprios olhos marejados.
"Eu te amava", ela sussurrou contra o peito dele.
"Eu também te amo."
"Não, você não ama. Se você me amasse, não teria feito isso."
Ela adormeceu em seus braços, exausta de tristeza, vinho e da liberação física de sua união desesperada. Quando ele acordou na manhã seguinte, ela havia sumido.
As malas haviam sumido. Suas roupas, suas joias, seus livros — tudo o que fazia a cobertura parecer um lar havia desaparecido. No travesseiro, ela deixara suas alianças e um bilhete escrito em papel timbrado do hotel: "Não me procure".
Ele sentou-se na beira da cama vazia, segurando as alianças dela, finalmente entendendo que algumas traições não podiam ser desfeitas.
O silêncio na cobertura era ensurdecedor.







