Depois que a deixei numa das salas, suja de raiva, limpa de alternativas, a casa recolheu os olhos e manteve as bocas ocupadas com tarefas. Era exatamente da forma como eu gostava: tudo silencioso.
Fiquei sozinho no escritório até tarde. O mundo lá fora respirava com faróis e sirenes. Ali dentro, até o ar obedecia à minha vontade. Foi nesse silêncio disciplinado que uma lembrança rompeu a minha segurança: o dia que eu quase me casei por amor.
Recordei-me do anel que mandei importar, do riso que não pedia nada em troca, da possibilidade de ter uma vida sem planilhas de risco. Tive a fantasia de baixar a guarda, de acreditar que alguém poderia me ver sem a couraça. Chamei isso, por meses, de amor. Mais tarde entendi que o nome era fraqueza.
Por isto eu abominava o amor. Quando criei laços, me enforcaram com eles.
A lembrança veio inteira, sem perfume, como uma f