Capítulo 78Naquele mesmo dia, Patrícia estava sentada na sala de espera do consultório médico. Uma das mãos descansava sobre a barriga ainda discreta, mas que para ela já era o maior símbolo de amor. Seus olhos brilhavam e um leve sorriso permanecia em seus lábios. Mais cedo, ela havia conversado com o prefeito da cidade e, mesmo grávida, conseguiu um emprego como enfermeira. A notícia lhe trouxe alívio. Estava reconstruindo sua vida, aos poucos, com esforço e dignidade.— Patrícia Moreira? — chamou a recepcionista com simpatia.Ela se levantou com calma, enxugando discretamente os olhos úmidos, não de tristeza, mas de felicidade. Sorriu, ajeitou os cabelos e seguiu para o consultório com passos leves.Enquanto isso, em outro canto da cidade, o detetive contratado por Rafael batia a caneta na mesa com impaciência. Estava à beira de um ataque de nervos. Há semanas investigando, cruzando informações, vasculhando cadastros e nada. Patrícia parecia ter evaporado.— Mas isso não faz senti
Capítulo 79Augusto chegou ao aeroporto como um raio, a mala de mão balançando enquanto atravessava o saguão em passos largos. Seu coração batia no ritmo da pressa e da esperança. Ele não podia perder mais tempo, não agora que sabia onde ela estava.Subiu direto para o hangar particular, onde seu jatinho já o aguardava com os motores preparados. Assim que entrou, jogou o casaco no assento e se acomodou, ansioso. Olhou pela janela e bufou impaciente, os raios cortavam o céu como chicotes de fogo e a chuva batia forte contra a fuselagem.Pouco depois, o piloto entrou na cabine e se aproximou com uma expressão tensa.— Senhor Augusto... infelizmente, não podemos decolar agora. A tempestade está muito forte, a torre não liberou nenhum voo.Augusto se levantou de súbito, os olhos faiscando.— Eu não saio desse avião. — Sua voz era firme, determinada. — Só coloco os pés fora quando estivermos em solo mineiro. Entendeu?O piloto hesitou, mas assentiu em silêncio antes de voltar à cabine.Aug
Capítulo 80— Patrícia... — Augusto finalmente murmurou, a voz rouca, embargada pela emoção. — Eu te achei...Ela ainda estava paralisada. Seus olhos, arregalados, enchiam-se de lágrimas que não conseguiam cair. O mundo girava devagar enquanto seu coração martelava no peito. O tempo parecia brincar com eles, como se ambos estivessem presos em um instante eterno.Ele deu um passo. Depois outro. E mais um. Patrícia recuou instintivamente, ainda sem acreditar que aquilo era real. Sentia-se como se estivesse sonhando.— O que você está fazendo aqui? — perguntou, com a voz baixa, tremida.— Procurando você. Todos os dias. Em cada canto. Em cada rosto. — Ele parou, próximo o bastante para sentir o cheiro suave do hidratante que ela usava. — Não teve um só momento em que eu tenha desistido.Patrícia engoliu em seco, sua respiração oscilando.— E por quê? Por que me procurar depois de tudo? — Seus olhos se encheram de dor.Ele se aproximou mais um pouco.— Eu te perdi. E desde aquele dia... n
Capítulo 81O silêncio pairava entre eles, denso e cheio de tudo o que não foi dito no último mês. Patrícia ainda parecia em choque, os olhos marejados, os lábios trêmulos. Augusto estava ali, de carne, osso… e coração apertado.Ela respirou fundo, tentando recobrar o controle das emoções.— O Joel… — começou, ainda com a voz baixa — ele cuida da horta, do pomar, do jardim. É um bom homem, me ajuda com tudo por aqui.Augusto assentiu, aliviado. Talvez estivesse com ciúmes por um segundo, mas a explicação dissipou qualquer sombra de dúvida.— E… — ela pousou as mãos com delicadeza na barriga. — São dois.Ele franziu o cenho, confuso.— Dois…?— Dois bebês, Augusto. São gêmeos. Por isso minha barriga cresceu bastante em pouco tempo.O mundo pareceu parar por um instante.Os olhos de Augusto se arregalaram, e num gesto quase instintivo, ele deu um passo à frente, levando as mãos até a barriga dela com cuidado, como se o menor toque pudesse machucar. Seus dedos tremiam levemente e a emoçã
Capítulo 82Minutos depois, já estavam no centro da cidadezinha. Patrícia caminhava ao lado dele de mãos dadas, e não era difícil notar os olhares curiosos dos moradores. O porte dele chamava atenção, alto, elegante, com passos firmes e uma postura que exalava segurança. Os óculos escuros e o blazer leve sobre a camiseta branca só realçavam ainda mais o ar de riqueza e mistério que carregava.— Acho que a cidade inteira está nos olhando — ela comentou, apertando a mão dele, meio sem graça.— Deixe que olhem. Estou com a mulher mais linda da cidade — respondeu ele com naturalidade, sem soltar a mão dela nem por um segundo.No mercado, ela pegou o que queria e ainda acrescentou mais umas coisinhas “porque os bebês pediram”. Ele carregou as sacolas, abriu a porta do carro e a ajudou a entrar como um verdadeiro cavalheiro. E ela, mesmo sem dizer, sentia seu coração cada vez mais vulnerável a tudo que Augusto representava.— Augusto, pare naquela loja de cowboy. Vamos mudar um pouco seu es
Capítulo 83A porta da joalheria se abriu suavemente com o som sutil do sininho no alto da entrada. Augusto saiu primeiro, com o braço estendido para Patrícia. Ela caminhava devagar, protegendo a barriga e sorrindo como uma menina apaixonada.Os dois seguiram em direção ao carro, de braços dados e felizes.Dois dos repórteres já se preparavam para atravessar, câmeras a postos, celulares gravando, olhares famintos por um furo exclusivo. Um deles deu um passo determinado à frente, já se preparando para fazer a primeira pergunta, quando o som estridente de uma sirene rasgou o ar, fazendo todos virarem o rosto ao mesmo tempo.— Merda… — sussurrou o fotógrafo.Uma viatura da polícia parou a poucos metros com as luzes girando. Um dos policiais saltou do carro já com um bloco de multas na mão, caminhando direto para frente do veículo dos repórteres, que estava descaradamente parado na vaga reservada para viaturas.O outro oficial, com os braços cruzados e expressão rígida, se aproximou dos j
Capítulo 84A noite caiu devagar, o céu se transformou em azul escuro, pontilhado de estrelas. Patrícia estava na cozinha, vestindo um vestido leve, descalça sobre o chão frio, com o cabelo preso de forma despretensiosa. Havia algo de mágico em vê-la naquele ambiente, tão dona de si, tão serena.Augusto surgiu na porta da cozinha com as mangas da camisa xadrez dobradas até o cotovelo. Ficou ali, encostado no batente, apenas observando.— Nunca imaginei que ver você cozinhando fosse me causar esse tipo de paz — comentou com um sorriso nos lábios.Ela virou-se, rindo.— Está com fome ou está tentando me conquistar de novo?— Os dois — ele disse, caminhando até ela. — O que está fazendo?— Algo simples. Arroz, carne na panela e um purê de batatas com queijo. Espero que não tenha o paladar refinado demais…Ele a puxou pela cintura com delicadeza.— O único refinamento que me interessa está bem aqui nos meus braços.Ela riu e se afastou de leve.— Vá sentando, cowboy. Já está quase pronto.
Capítulo 85O celular de Rafael vibrou sobre a mesa do escritório. Ele acabara de ler a mensagem do pai dizendo que estava tudo bem e sentiu um alívio morno no peito quando viu o nome do detetive Jonas Cardone na tela. Atendeu de imediato.— Jonas?A voz do detetive do outro lado saiu firme.— Rafael, sente-se. O que eu tenho pra te contar é sério.Rafael franziu a testa, empurrou a cadeira para trás e sentou-se à mesa de mogno, os olhos fixos no nada, já prevendo o pior.— Pode falar.— Descobrimos algo sobre a Estela… algo que muda tudo.Houve um breve silêncio. Jonas respirou fundo antes de continuar.— Ela estava grávida. Uma semana antes do acidente do seu pai, ela sofreu um aborto espontâneo.Rafael congelou. A informação atingiu seu peito como um soco. Ele apoiou os cotovelos na mesa e passou as mãos pelo rosto, tentando absorver aquilo.— Está dizendo… que a criança era dele?— É o que tudo indica. E tem mais — continuou Jonas, com voz grave. — Após o aborto, ela teve um surto