Capítulo 98O carro mal parou na frente da maternidade e Augusto já havia descido correndo, chamando por ajuda. Enfermeiros vieram com uma maca, e Patrícia foi conduzida com rapidez para o interior do hospital. Ainda sentia fortes contrações, mas tentava manter a calma, segurando firme na mão de Augusto.— Eu estou aqui, não vou sair do seu lado — ele prometeu, beijando sua testa.Em poucas horas, depois de muito esforço, suor e emoção, os gritos suaves dos recém-nascidos preencheram o centro obstétrico. Um casal. Um menino forte e uma menina serena. Patrícia chorava emocionada, e Augusto mal conseguia conter o sorriso orgulhoso enquanto segurava os dois bebês nos braços, seus filhos, a renovação da esperança.Na manhã seguinte, Patrícia já estava no quarto da maternidade, com os bebês dormindo nos bercinhos ao lado da cama, quando a porta se abriu lentamente. A mãe dela entrou primeiro, com os olhos marejados, e logo atrás veio o avô, empurrado por um cuidador em sua cadeira de rodas
Capítulo 99Cinco anos depois...A manhã começava preguiçosa na varanda da casa grande, o cheiro de café fresco se misturando ao perfume suave das flores do jardim. Patrícia cortava fatias de bolo para o lanche das crianças, enquanto sua mãe, sentada na cadeira de balanço ao lado, observava o quintal com um sorriso sereno no rosto.— Te falei da sua irmã? — perguntou a mãe. Patrícia fez que não com a cabeça. — Deixou tudo para trás e foi bater na Itália com aquele ricaço. Nem se despediu direito.Patrícia riu com um pouco de ironia.— Ricaço esse... que por coincidência era o pai da Estela. A vida tem dessas reviravoltas, mãe.— Eu ainda não acredito. Aquela menina viveu dizendo que não queria saber de homem com dinheiro, que queria amor verdadeiro... Bastou um visto e um passaporte europeu que esqueceu tudo.— Ela foi pelo luxo, mamãe. Mas não sei se vai encontrar paz. Esse homem... bom, a Estela foi o que foi. E ele... pelo visto, não aprendeu nada.A mãe suspirou, olhando para o cé
Capítulo 1O silêncio no quarto era quase opressor, quebrado apenas pelo som ritmado dos aparelhos e da respiração profunda do homem deitado na cama. Rafael entrou devagar no aposento, como se temesse perturbar a paz que envolvia o ambiente. A penumbra da manhã filtrava-se pelas cortinas entreabertas, projetando sombras suaves sobre o rosto de seu pai.Com passos lentos, aproximou-se da cama e sentou-se ao lado dele. Seus olhos, sempre firmes diante do mundo, agora brilhavam com a ameaça de lágrimas. Ele estendeu a mão, entrelaçando seus dedos aos do pai, sentindo o calor ainda presente ali, a única prova de que ele estava vivo.— Acorda, pai… — murmurou, a voz embargada. — Você faz tanta falta pra mim...Por um instante, ficou ali, observando cada detalhe do rosto do pai: as olheiras profundas, o cabelo que já passava do comprimento habitual, a barba crescida que não tinha nada haver com a imagem impecável do CEO poderoso que todos conheciam. Rafael fazia questão de chamar um barbeir
Capítulo 2Após aceitar o serviço, Rafael pediu ao mordomo que mostrasse seus aposentos.Sempre discreto e eficiente, o mordomo guiou Patrícia pelos amplos corredores da mansão até um quarto confortável, localizado ao lado do Senhor Avelar.- Este será o seu quarto, senhorita Patrícia. Se precisar de algo, estarei à disposição. - Ele abriu a porta, revelando um espaço aconchegante, com móveis elegantes.Ela agradeceu com um leve aceno e entrou para se trocar. Vestindo o uniforme branco impecável, sentindo a responsabilidade se instalar de vez. Respirou fundo e saiu do quarto.Ao retornar ao quarto do paciente, analisou cada detalhe com atenção. Abriu o prontuário médico ao lado da cama e começou a revisar as medicações, os horários de administração, os cuidados diários e as rotinas. Tudo precisava ser seguido à risca.Enquanto lia as anotações anteriores, seu olhar voltou-se para o homem desacordado na cama. Senhor Avelar. Mesmo em repouso, ele exalava imponência. Sua presença era qua
Capítulo 3Após horas lendo em voz alta, Patrícia acabou cochilando na poltrona ao lado da cama. Acordou sobressaltada ao sentir uma mão em seu ombro. Ao abrir os olhos, deparou-se com Rafael. Por um instante, temeu que ele fosse repreendê-la, mas sua expressão era tranquila.— Vá jantar — disse ele simplesmente. — Vou ficar um pouco com meu pai.Patrícia se sentou melhor e esfregou os olhos, tentando despertar.— Eu preciso dar banho nele antes, senhor.— Eu faço isso todos os dias. Hoje não será diferente.Ela hesitou por um momento, mas assentiu.— Sim, senhor.Ao vê-la sair do quarto, Rafael suspirou, passando a mão pelos cabelos. Não duvidava das intenções de Patrícia, mas não queria que ela assumisse mais do que podia. Seu pai era um homem grande, com 1,85m e mais de 100 quilos, enquanto ela parecia tão pequena e delicada. Movê-lo exigia força e prática, algo que ele já fazia há dois anos.Ele sabia que, em algum momento, teria que permitir que ela ajudasse, mas não gostava da i
Capítulo 4Após Rafael se recolher, Patrícia se sentou na poltrona ao lado da cama, segurando o livro nas mãos. Com um sorriso suave, olhou para o paciente adormecido.— O livro está quase na metade. Vamos continuar? — perguntou baixinho, como se ele pudesse ouvi-la.Ela abriu na página onde havia parado e começou a ler. A história estava ficando intensa, e, sem perceber, as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. O casal do romance havia se separado por um grande mal-entendido, e a dor na narrativa a tocou profundamente.Patrícia parou por um instante, respirando fundo para se recompor. Levou a mão ao rosto para limpar as lágrimas e, no mesmo instante, algo chamou sua atenção.Seu coração quase parou.Por um breve momento, viu dois dedos do senhor Avelar se moverem rapidamente.Ela prendeu a respiração, seus olhos arregalados fixos na mão dele. Teria sido apenas sua imaginação… ou ele realmente havia se mexido?Patrícia congelou. Seu coração disparou no peito, e a respiração fic
Capítulo 5Patrícia acordou sobressaltada, seu coração disparado. Olhou ao redor, confusa. Não se lembrava de ter saído do lado do senhor Avelar. Como tinha parado em seu quarto?Sem perder tempo, levantou-se rapidamente e correu até o quarto dele. Ao vê-lo ainda imóvel, sentiu um aperto no peito. Aproximou-se e, instintivamente, passou os dedos sobre os dele, tentando perceber algum movimento. Nada.Frustrada, começou a massagear suavemente a mão dele, como se pudesse incentivá-lo a reagir.— Vamos, senhor Avelar… Mexa os dedos para mim… Só um pouquinho…Mas não houve resposta.Ela suspirou, mas se recusou a desanimar. Forçou um sorriso e, com carinho, falou:— Tudo bem, talvez não seja hoje, mas sei que vai acontecer. Eu sinto isso.Olhou ao redor e teve uma ideia.— Vou ligar a TV e colocar no jornal para o senhor. Aposto que sente falta de acompanhar as notícias, não é?Pegou o controle remoto e ligou a televisão, ajustando para o canal de notícias.— Vamos ver o que está acontece
Capítulo 6Rafael voltou para o escritório satisfeito com o andamento da reunião das nove, mas sua mente logo foi tomada pela preocupação.Por que diabos eu inventei essa mentira sobre meu pai ter uma esposa?Ele passou as mãos pelos cabelos, frustrado. Era simples: não queria Estela por perto, nunca mais. Mas agora precisava lidar com as consequências dessa história.Então, algo em sua mente se acendeu.Patrícia.A lembrança veio de repente. Ele se recordou da pessoa que havia indicado a jovem como enfermeira. Na ocasião, essa pessoa mencionou que Patrícia estava desesperada por um emprego para pagar o hospital onde o avô estava internado.Rafael pegou o telefone e ligou para seu contato, indo direto ao ponto:— O que o avô dela tem?Do outro lado da linha, houve um breve silêncio antes da resposta:— Está morrendo. Patrícia só quer diminuir o sofrimento dele.Rafael ficou em silêncio, digerindo a informação.Uma ideia começou a se formar em sua mente, algo que poderia resolver dois