Capitulo 2

— Vitória Gomes é a editora-chefe da TVZoom? — perguntou André, incrédulo, a Ryan Montana, Ian Brown e Brad Ford, donos da RIB Editora, que tinha na revista TVZoom a sua mais recente aposta.

— Sim... você a conhece? — perguntou Ian, confuso, enquanto Brad e Ryan estavam abaixados ao lado dela, mais preocupados com seu estado de saúde.

— Hum... ham... sim, eu... eu a conheço, mas não nos víamos há muitos anos. — respondeu, sem jeito.

— Ela está acordando. — observou Brad.

— Vitória, minha querida, você está bem? Talvez seja melhor ir a um médico. — comentou, aflito, Ryan.

— Não, não... não é necessário. — ela afirmou, se levantando com a ajuda dos chefes e se ajeitando em seguida. — Foi só uma queda de pressão. — disse, encontrando os olhos daquele que era o real motivo de seu desmaio, que a fitavam.

— Você se sente bem o suficiente para trabalhar? Sempre podemos remarcar a reunião. — um outro homem, que ela não conhecia ainda, assegurou, e ela viu André lançar um olhar na direção dele, que demonstrava perfeitamente que ele não aprovara aquela observação.

— Como eu disse, foi só uma queda de pressão. — sorriu, simpática. — Vim até aqui para uma reunião e podemos dar início a ela, agora mesmo.

— Muito bem, então. — o homem também sorriu. — William Golden... mas pode me chamar de Will. — estendeu a mão para a garota, que a apertou imediatamente. — É um prazer conhecê-la, Srta. Gomes. Tenho ouvido maravilhas sobre o seu trabalho.

— Desse modo, pode me chamar de Vitória. O prazer é meu. — respondeu, formal.

— João Castro. — outro rapaz que ela não conhecia, mais novo que o primeiro, provavelmente com idade próxima da dela, se apresentou. — É um grande prazer.

— Também para mim. — novamente a garota respondeu, seguindo o protocolo. Ainda não sabia exatamente que tipo de negócio tinham os RIB com Will, João e André, mas certamente havia algum, e ela era uma profissional e sabia que seus empregadores esperavam dela um comportamento no mínimo educado e cordial, e possivelmente simpático, em ocasiões como aquela.

— Me parece que o Sr. Luiz você já conhece? — Ryan tratou de falar, vendo que André e Vitória não tinham se cumprimentado, apesar de o rapaz ter afirmado conhecê-la, e que ele tinha voltado à sua cadeira, que ocupava a cabeceira da mesa.

— Hum... Luiz? — questionou, confusa.

— Acrescentei o sobrenome do meu pai ao meu nome, alguns anos atrás. — ele explicou a ela, seco.

— Seu pai? — perguntou, surpresa, mas ele fechou a cara, demonstrando que não queria conversar sobre o assunto como um velho amigo que acaba de encontrar outro e b**e papo para se reconectar. Não se tratava disso, mas de uma reunião de negócios. — Isso é ótimo... eu presumo. — ela falou, sem graça, e ele somente balançou a cabeça positivamente.

— Vitória, nós estamos aqui porque eu, Brad e Ian assinamos um contrato com o Sr. Luiz... — Ryan começou a introduzir o assunto da reunião, percebendo que o clima entre Vitória e André não era nada bom, e puxou uma cadeira para ela. — ... para mostrarmos, com exclusividade, na TVZoom, os bastidores do novo programa da GHShow.

Vitória não entendia muito bem o que André tinha a ver com a GHShow, uma das maiores emissoras de TV do país, e nem podia ficar pensando sobre isso, naquele momento, pois precisava prestar atenção nos seis homens à sua volta, que estavam ali para tratar de negócios, aparentemente bastante promissores para ambas as empresas. Tirou, então, seu iPad da bolsa, a fim de fazer anotações, como fazia em toda e qualquer reunião de que participava.

A jovem mulher tinha ficado nos Estados Unidos depois de ter viajado para o triste funeral de sua avó, especialmente para ser a editora-chefe da nova revista da RIB, que era uma publicação focada exclusivamente em programas de televisão e celebridades relacionadas à TV. O convite tinha sido feito pelo Presidente da RIB, Ryan, que conhecera Vitória na Inglaterra, algum tempo antes, e ela não podia sequer pensar em decepcionar um de seus maiores ídolos no jornalismo.

— Will é o produtor da nova atração e João é o diretor, por isso estão aqui para nos falar dos detalhes do programa, para que a gente possa planejar as matérias que vamos fazer, provavelmente diariamente, sobre ele. — acrescentou Ian.

— E o... Sr. Luiz? — ela aproveitou a oportunidade para perguntar.

— Bem se vê que você ficou fora do país por muitos anos... — falou Brad, rindo dela.

— E sem dar nenhuma importância ao que acontece por aqui! — completou Ryan, também rindo. — Luiz é o principal acionista e presidente da GHShow, Vitória. — o queixo dela caiu e André sorriu, satisfeito. Já que tinha que lidar com aquela garota que ele não desejaria ter reencontrado nem pintada em puro ouro, era bom demais que, pelo menos, ele estivesse por cima.

— Mas não é por isso que estou aqui. Afinal, meu papel de presidente já foi cumprido. Nós já assinamos o contrato. — ele observou.

— É verdade. Ele está aqui porque idealizou o programa e será também protagonista dele, e talvez somente ele possa responder certas perguntas que venham a surgir. — Will acrescentou.

Gomes estava cada vez mais surpresa e confusa, mas preferiu deixar que os homens fossem falando sobre o programa como tivessem planejado fazer, e só questionar alguma coisa quando fosse importante para o seu trabalho como editora. Não importava que o todo poderoso Sr. Luiz, dono da emissora, idealizador da atração e também protagonista, fosse aquele que ela conhecera como André Rosemont, aos treze anos.

— Você não gostaria de falar sobre o formato do reality para a Vitória, André? — João perguntou, mas, conhecendo bem o amigo, só de olhar para ele percebeu que seu humor não estava dos melhores e se decidiu por outra opção. — Ou talvez seja melhor eu mesmo apresentar o programa, já que eu domino aquela apresentação.

Levantou-se, iniciando a exibição de um arquivo de PowerPoint em uma grande TV, enquanto os demais o observavam e uma secretária surgia, apagando as luzes, e uma copeira servia café e água aos presentes.

— Bom, o programa tem como objetivo a escolha de uma futura esposa para um solteiro, que ficou cansado dessa sua incômoda condição... Mesmo eu tentando dissuadi-lo, devo dizer. — brincou, mas não deixou de perceber que André não achava graça em nada, o que o estava preocupando, sinceramente, mas ele nada poderia fazer agora. — Como todos já sabem, o solteiro é André Rosemont Luiz, e quatorze garotas formarão o restante do cast. As garotas serão escolhidas no primeiro episódio, em um cocktail, em que estarão cinquenta mulheres pré-selecionadas, com quem ele poderá conversar por algumas horas e tudo mais.

— O cocktail vai ser gravado quarta-feira que vem e haverá uma festa paralela, para toda a equipe envolvida no programa, alguns amigos e colaboradores, patrocinadores... e é claro que nós contamos com a presença de vocês. — afirmou Will.

— Sim... e a estreia do programa, mostrando a escolha das meninas, será na quinta. — continuou o diretor. — Depois de escolhidas, as meninas vão morar em uma mansão, por treze semanas, sendo filmadas vinte e quatro horas por dia. Às terças-feiras, nós passaremos imagens do dia-a-dia delas na casa, e de atividades, como jogos e encontros com André. Às quintas, exibiremos mais algumas imagens gravadas, e André escolherá, ao vivo, uma garota para deixar a casa, perdendo a chance de conquistar seu coração. — falou, em tom jocoso, de novo, simplesmente porque era seu jeito e ele não conseguia evitar.

Tanto André quanto Vitória estavam irritados, àquela altura, enquanto os demais sorriam com a probabilidade de sucesso do programa.

Ele estava mal humorado pela súbita presença de Vitória, que não somente iria participar daquela reunião, mas, sendo editora-chefe da publicação à qual ele havia prometido exclusividade de acesso aos bastidores do programa, provavelmente estaria presente na vida dele pelas próximas quatorze semanas.

A garota estava incomodada com o fato de que ia ter que dar cobertura jornalística a um programa que considerava de conteúdo extremamente machista, do tipo que exibe as mulheres como se fossem objetos para a diversão dos homens, enquanto um milionário brinca de ser paparicado e disputado por trás de uma falsa imagem de romantismo, construída, logo de cara, pelo título da atração: a chave para o coração.

— Eu conversei, informalmente, com o Ryan e o Ian, Vitória... e nós estamos pensando em fazer uma cobertura diária, mostrando tudo que acontece na mansão ou mesmo nos encontros, já que serão vinte e quatro horas por dia de interação entre as garotas, sete dias por semana, e apenas duas horas de programa, no total. — disse Brad.

— Não vai haver pay-per-view? — Vitória questionou. Era uma pergunta natural, já que muitos reality shows costumam oferecer pay-per-view para quem quiser pagar por ele. — Tenho certeza de que muitas donas de casa, frustradas em seus casamentos infelizes, e menininhas bobas, que ainda acreditam no príncipe encantado, ficariam felizes em pagar para suspirar vinte e quatro horas por dia pelo Sr. Luiz. — o comentário, no entanto, não era natural, era debochado, sarcástico, e ela própria não acreditou que o havia deixado escapar, porque aquilo poderia deixá-la em maus lençóis, visto que seus empregadores pareciam bem envolvidos com o projeto.

— Uma pena, mas o príncipe encantado não vai estar vinte e quatro horas por dia na casa, Srta. Gomes. — André disse, encarando-a e usando o mesmo tom. Os outros cinco homens presentes se olhavam, sem entender.

— Oh, que pena! — ironizou. — Ainda assim, tenho certeza de que esse seletíssimo público se identificaria muito com as quatorze desesperadas, brigando... literalmente, é provável... pela chave do seu coração.

André engoliu seco para não responder e dizer a ela todas as coisas que passavam pela cabeça dele, naquele momento.

— Vitória, meu bem, você tem certeza de que está em condições de continuar participando dessa reunião? Você não parece bem! Nós podemos liberar você, conversar um pouco mais com os rapazes... e sempre podemos ter uma reunião entre nós, depois. — comentou Ian.

— Não... não é necessário. — respirou fundo. — Peço desculpas a todos pelo meu comportamento... e prometo ser cem por cento profissional e me dedicar ao máximo para que essa parceria dê certo. Eu só fiquei um pouco incomodada com esse programa, pois me parece um tanto machista ver mulheres disputando um homem... mas reconheço que isso é reflexo de nossa sociedade, que deverá fazer muito sucesso essa ideia de romantismo que vocês vão vender e... isso vai alavancar as vendas da TVZoom também, e é isso que importa. — tentou ser simpática, apesar de não ter aberto mão de ser sincera.

— Ótimo! — André disse mais para si do que para ela. Quanto mais profissional ela fosse, menos incômoda seria sua presença. Talvez ele até esquecesse que não a tinha conhecido naquela tarde, mas há quatorze anos, que pareciam ter sido séculos, por um lado, e apenas alguns meses, por outro, em razão dos pensamentos e lembranças contraditórios que ele tinha a respeito dela.

— Eu estava pensando, enquanto João nos mostrava a apresentação, que poderíamos ter, às sextas-feiras... ou aos sábados, talvez... uma entrevista com cada menina eliminada do programa sobre a experiência, sobre o Sr. Luiz. — Gomes sugeriu.

— Perfeito! — Ryan elogiou.

— E, na primeira semana, poderíamos ter uma grande entrevista com as quatorze, traçar um perfil delas... Falar de onde vieram, o que esperam de um futuro marido... coisas assim. Eu posso elaborar melhor e apresento o modelo completo a vocês, mais tarde. — todos concordaram com ela.

A reunião seguiu, normalmente, mesmo com Vitória pensando em como as próximas semanas seriam extremamente difíceis. Ela não era, de qualquer forma, uma mulher de fugir de desafios, então que viesse mais esse! Se conseguisse sobreviver a ele, sairia da experiência, com certeza, com ainda mais prestígio junto aos donos da RIB do que já tinha.

Somente isso deveria importar para aquela garota de sucesso, agora, mesmo diante da má notícia de olhos e sorriso lindos e inesquecíveis que ela tinha recebido, naquela tarde.

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