Capitulo 3

Vitória voltou a seu escritório na RIB Editora, no final da tarde, após a reunião com seus empregadores e os três homens da GHShow. Felizmente, todos os funcionários já haviam sido alertados sobre sua chegada por um dos motoristas da RIB que a trouxera de volta. Quando o elevador parou no andar em que a sala dela ficava, ela tirou seus óculos escuros de Michael Kors, dramaticamente, e andou, determinada como sempre, até o local de trabalho que era só dela.

Não importava se sua cabeça estava uma confusão dos diabos, naquele momento. Por fora, ela continuava com o mesmo semblante indecifrável e nada simpático. Os passos firmes e elegantes, e a pose de dona do mundo pela qual era conhecida na empresa desde que iniciara seu trabalho ali.

Seu assistente já segurava a porta aberta para que ela entrasse, o que ela fez sem prestar quase nenhuma atenção à presença dele, a não ser pelo fato de ter praticamente jogado sua Louis Vuitton nos braços do rapaz, ocupando, em seguida, sua larga e confortável cadeira de couro negro, atrás da imponente mesa de vidro com pés de aço escovado, sempre com as costas eretas e o olhar na altura da linha do horizonte.

— Maine, presta bastante atenção, para não correr o mínimo risco de errar, ok? — pediu, meio impaciente. — Preciso que me traga um chá gelado... de pêssego... bem gelado, mas sem as pedras de gelo... e adoçado previamente... não com aquela sobra de açúcar no final, certo? — ele acenou positivamente, apesar de ela não estar olhando para ele e sim para o computador, no qual começara a mexer. — Um sanduíche de ricota e peito de peru, no pão integral... sem salada. E dois comprimidos de analgésico... minha cabeça está a ponto de explodir! — terminou, massageando as têmporas.

— Ok. Chá bem gelado... de pêssego... sem pedras de gelo e adoçado, mas sem o açúcar no copo. Sanduíche de ricota com peito de peru no pão integral, sem salada. Dois comprimidos de analgésico. — repetiu e esperou por eventual correção. — E... é... é... B-Blaine, Srta. Gomes.—

— O quê? — perguntou, distraída.

— Meu... nome, Srta. Gomes. É Blaine... e não Maine. —

— Tanto faz. — disse, cansada, sem tirar os olhos do monitor. — É só isso, por enquanto. — acrescentou, alguns segundos depois.

Em alguns minutos, Blaine voltava com o lanche solicitado, bem como com o medicamento, colocando-os à mesa, na frente dela, que tomou os dois comprimidos de uma só vez com a ajuda de um bom gole de seu chá, e deu uma primeira mordida no sanduíche.

— Ainda aqui, Paine? — perguntou, após ter terminado de mastigar, revirando os olhos. Então o rapaz saiu, entendendo aquilo como um sinal de que, se ela precisasse de mais alguma coisa, chamaria por ele.

E foi exatamente o que ela fez, mais ou menos uns quarenta minutos depois.

— Pois não, Srta. Gomes. — ele se apresentou, o mais rápido que pode.

— Que demora! Pensei que tinha morrido em sua mesa. — ela era sempre exagerada, mas, naquele dia, ela estava especialmente exigente. — Me chame de Vitória e não se senhorita. — pediu.

Não foi um pedido feito com simpatia, no entanto, e sim secamente, porque o pedido não tinha nada a ver com vontade de tornar as coisas menos formais entre ela e seu subordinado. Ela só não gostava de ser relacionada, o tempo todo, a seu sobrenome, ao nome de sua poderosa família, uma vez que tinha chegado aonde estava por seus próprios méritos, sem recorrer a ela uma única vez para conseguir privilégios ou contatos.

— Diga ao Ted que não aprovei o layout que ele desenvolveu para a capa de amanhã... que ele vai ter que me apresentar outra opção. Pedi alegre, convidativa e emocionante, e ele me mandou algo triste e sem apelo. Cobre do segundo revisor uma especial atenção com a coluna da Andy, porque havia vários erros na revista de domingo. — exagerou, de novo, se referindo a dois erros de digitação que tanto a jornalista quanto os dois revisores haviam deixado escapar. — Confirme minha presença na festa da Ginnifer Badwin, hoje à noite. Quero um motorista para me deixar lá às dez e me buscar à meia noite. Peça à segunda assistente para buscar meu vestido no Ateliê de Dante Kammel... e avise a ele que ela está indo. Na Internet tem o site dele com os contatos... Kammel com K e dois emes. Aproveite para dizer a ele que preciso de um vestido para um cocktail na próxima quarta, que seja simplesmente uau... ele vai entender.

— Dante Kammel... K e dois emes... — ele anotava tudo.

— Preciso de Daniele, Sunshine, Lauren e Michael na sala de reunião em quinze minutos e...

— Eu sinto muito que não seja possível, Srta. Be-... quer dizer, Vitória... Os quatro estavam escalados para o primeiro turno de hoje e já foram embora.

A TVZoom, ao contrário da maioria das revistas, que tinha publicação mensal, quinzenal ou semanal, era uma revista diária. Esta era uma das várias inovações que os RIB quiseram incorporar à publicação, o que tornava a tarefa dos editores ainda mais desafiadora, porque a redação da revista precisava operar vinte e quatro horas por dia, nos sete dias da semana, de todas as semanas do ano, sem parar em nenhum momento, como ocorre com os grandes jornais impressos.

Para que isso fosse possível, os jornalistas se revezavam em turnos de trabalho, apresentados no início de cada mês, fazendo inclusive alguns plantões noturnos, porque, enquanto a revista do dia seguinte estivesse sendo impressa e distribuída a livrarias, lojas de conveniência, cafés, mercados e aos assinantes, devia haver alguém já pensando em uma proposta de pauta para o dia subsequente.

— Por que será que é tão difícil achar certos profissionais dessa revista quando procuro por eles? Será que estou querendo muito? Eu sei que não... eles trabalham aqui, afinal. — Vitória bufou. — Paciência. Se não pode ser agora, quero uma reunião com eles, amanhã, assim que eu chegar... O que significa que você e o departamento de pessoal devem modificar as escalas de trabalho, se necessário, para que os quatro estejam aqui no turno na manhã novamente.

— Sem problemas. — Blaine garantiu.

— Eu vou pra casa, mon Cher. Devo receber por email a nova capa e qualquer detalhe que estiver faltando para a edição de amanhã, ok? E diga à menina... qual é mesmo o nome dela? — apontou para a parede, na direção em que, do lado de fora, ficava a mesa da segunda assistente.

— Rose... Rose Pepper. —

— Diga à Pimentinha para levar meu vestido com cuidado. — falou, se levantando e esticando a mão, para que ele lhe desse sua bolsa, que estava pendurada em um cabide de pé chiquérrimo, no canto da sala. — E diga a ela também para encomendar algumas roupas de trabalho ao Dante, por minha conta... e providenciar lentes de contato e um novo corte de cabelo também. Aquele visual é inaceitável!

Dito isso, ela andou pelos corredores da redação até o elevador, e pela portaria do luxuoso edifício até um dos carros da editora, que ficavam disponíveis com seus respectivos motoristas para os diretores e editores-chefes das revistas, com o mesmo ar de superioridade que ostentava ao chegar. Relaxou um pouco dentro do automóvel, mas só ficou completamente à vontade quando já estava em seu apartamento, com um short e uma camisetinha confortáveis, trabalhando, sentada no sofá, com seu laptop no colo e a gata persa Phoebe a seu lado.

Gastou mais ou menos uma hora e meia para fazer o esboço das entrevistas que tinha sugerido que fossem feitas com as garotas do cast do programa da GHShow, e enviar a todos os interessados, torcendo para que os homens aprovassem todas as suas sugestões. Os proprietários, e também diretores, da revista haviam deixado extremamente claro, depois da reunião com André, Will e João, o quanto contavam com a cobertura do reality show para colocar a TVZoom, de uma vez por todas, entre as publicações mais vendidas dos EUA, e Vitória, por sua vez, precisava do sucesso da revista e da satisfação dos RIB com o seu trabalho para se manter no topo da carreira.

Enviado o email, tomou um belíssimo banho de banheira, pensando em como a vida podia, de vez em quando, enfiar o pé no acelerador com tudo. Em poucos meses, depois de ter vivido por anos na Europa, tinha tomado conhecimento de que Adena estava com câncer, acompanhara a rápida evolução da doença, em telefonemas trocados com o pai diariamente, viajara aos Estados Unidos para ver a amada avó, mas acabara chegando a tempo apenas de participar do funeral, fora procurada por Ryan, que a apresentara a Brad e Ian, e chocara a garota, lhe oferecendo uma oportunidade única, voltara para seu país natal, e reencontrara André com nome e estilo de vida completamente mudados.

Afastando pensamentos negativos e focando nas mudanças boas que haviam ocorrido em sua vida, finalmente se arrumou e seguiu para a festa de aniversário que tinha naquela noite e que era, de certa forma, um evento de trabalho. Ser editora-chefe da revista era como ser, ao mesmo tempo, jornalista, administrador e relações públicas, porque manter bons contatos com as celebridades televisivas era parte essencial do negócio. Então, quando uma delas fazia questão de convidá-la, como Josh Mills fizera, a comparecer à festa surpresa que organizara para a namorada igualmente famosa, não aparecer não era uma opção.

Obrigação ou não, o fato é que Vitória acabou reconhecendo ter tido muita sorte ao ter sido convidada para um evento naquela noite. Passou as próximas horas dançando ao som de uma música altíssima, conversou com gente bonita e interessante, comeu muitíssimo bem, bebeu várias taças de Moët&Chandon, e teve certeza de que sua noite estava sendo muito melhor do que se tivesse ficado em casa, com a mente voltada, todo o tempo, para o passado ou sem se desligar do trabalho.

A festa foi ótima e ela até lamentou ter pedido para o motorista da empresa retornar tão rápido. Principalmente porque Josh e Ginnifer trabalhavam para uma das maiores concorrentes da GHShow, o que evitou que Vitória tivesse o desprazer de ver um fantasma pela segunda vez em um único dia.

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