Maeve estava acostumada a frequentar lugares luxuosos, mas a mansão de Edgard Caldwell estava em outro nível. Ela tentou não deixar transparecer que estava impressionada, o que foi fácil. Bastava ela lembrar do motivo pelo qual estava ali.
Sem dizer uma palavra, ela subiu os degraus que levavam à porta de entrada ao lado de Asher. Vestia um vestido preto de mangas longas e tecido espesso, o mais discreto de seu armário, mas ainda assim sentia-se exposta. Era como entrar no covil de uma fera.
Edgard Caldwell os esperava no grande hall de entrada com um copo de uísque na mão e o terno impecável. Atrás dele, uma mulher com cerca de 40 anos, lindíssima, mantinha os olhos baixos. Maeve soube quem ela era antes mesmo que trocassem qualquer palavra. O sorriso vazio, a rigidez da postura — ela era uma bruxa marcada. Não era preciso ver as marcas em seus pulsos, que estavam escondidas pelas mangas compridas da camisa de seda que ela usava.
— Vocês estão atrasados — comentou Edgard com voz grave.
Asher não respondeu. Apenas assentiu e estendeu a mão para Maeve, como se oferecesse apoio. Maeve recusou o gesto com o olhar. Se ele queria fingir que estavam de acordo, que fingisse sozinho.
Edgard conduziu-os para a sala de jantar como um anfitrião satisfeito com o próprio espetáculo. Lá dentro, políticos engravatados conversavam entre goles de vinho caro, e todos os olhares recaíram sobre eles quando entraram. Maeve sentiu o peso daqueles olhos. Avaliavam-na como um cavalo de raça. Uma Morwen. Uma relíquia mágica disfarçada de mulher.
— Senador Thorne — anunciou Edgard com entusiasmo. — Deixe-me apresentar oficialmente a jovem Maeve Morwen, a mais nova aquisição da família.
Thorne se levantou para cumprimentá-los. Tinha uma presença imponente. Os cabelos grisalhos tingidos e bem aparados, o rosto sem rugas devido a vários procedimentos estéticos, os dentes brancos que ofuscavam. Tudo nele parecia falso. Ele sorriu como quem já possuía o que via.
— Um prazer finalmente conhecê-la, senhorita Morwen. Ou devo dizer… Caldwell? Será que vai conseguir fazer Asher colocar um anel no seu dedo ou vai se contentar com as marcas nos pulsos, como sua mãe? — Thorne riu do próprio comentário e se virou para Asher. — Não que você precise colocar um anel no dedo dela para levá-la para cama, rapaz. É uma das vantagens de se possuir uma bruxa.
Maeve sentiu o rosto queimar de raiva e vergonha. Nunca fora tão humilhada. Nem mesmo Horace falava assim com Liliana.
— Maeve está aqui como minha convidada — retrucou Asher. — Não como uma propriedade.
Thorne riu. Um som seco, quase sem vida.
— Claro. O cavalheirismo moderno. Mas sejamos francos: não há razão para esconder o óbvio. Todos aqui sabem como as coisas funcionam.
Os murmúrios à mesa confirmaram.
Asher resistiu à tentação de dar um soco na cara do senador. Isso não iria ajudá-los em nada. Ignorando as palavras de Thorne, segurou o braço da jovem bruxa e a conduziu até os lugares deles.
Maeve se sentou entre Asher e um deputado texano com hálito de conhaque. Sentia-se enjoada. Na ponta da mesa, Edgard fez um brinde, levantando a taça com gosto.
— Ao futuro da família Caldwell. Ao meu filho, e à sua… parceira mágica. Que eles conquistem Washington, com ou sem feitiços.
As taças tilintaram. Maeve não brindou.
Quando Thorne começou a falar sobre a campanha, como se ela fosse apenas uma ferramenta estratégica, ela mal o ouvia. Seus olhos encontraram os da bruxa à sua frente — a mulher silenciosa de antes. Só podia ser Elena. Ela estava imóvel, uma boneca de porcelana vestida em seda escura, oca por dentro.
A raiva queimou como um incêndio dentro dela. O estômago se revirou. Ela apertou o copo de cristal entre os dedos.
— Espero que a senhorita Morwen seja mais útil do que a última que tive. Aquela era bonita, mas difícil de domar — Thorne disse para alguém.
Foi então que o copo se estilhaçou na mão de Maeve.
O corte foi fundo. O sangue escorreu pelo vidro e gotejou sobre a toalha de linho branco. Todos se calaram. Asher se levantou de imediato.
— Maeve… você está bem?
Ela não respondeu. Seus olhos estavam fixos nos dedos, vermelhos e trêmulos. O sangue parecia brilhar, espesso e denso, como se a própria magia de sua linhagem fervesse em cada gota.
— Você está sangrando — disse Asher, já se aproximando, puxando um guardanapo.
— Não toque em mim — ela sussurrou.
— Venha. Vamos sair daqui.
Asher não esperou resposta. Puxou Maeve pelo braço e a conduziu para fora da sala. Ela não resistiu. Estava zonza, tomada por náusea e por uma fúria silenciosa que não sabia como conter.
Já no jardim dos fundos, entre esculturas de mármore e uma fonte apagada, Maeve se afastou dele com os punhos cerrados.
— Você mentiu pra mim! Disse que não iria me usar! Disse que me deixaria viver em paz!
— Eu estou tentando. Você acha que eu queria estar naquela sala? Que gosto de ver você sendo tratada como mercadoria?
— Mas você permitiu. Você deixou que seu pai me exibisse.
— Eu só queria ganhar tempo, Maeve! Você não entende? Se eu não fizesse esse papel, ele venderia você. Para o Thorne. Ou pior.
— Talvez já seja pior — ela cuspiu as palavras. — Talvez você seja igual a ele.
Asher deu um passo para trás. A dor no rosto dele foi real. Mas Maeve não se importava.
Ela se virou para ir embora, mas as palavras de Asher a impediram:
— Eu juro… se eu pudesse tirar esse feitiço de você com minhas próprias mãos… eu faria qualquer coisa, Maeve.
Ela se virou lentamente. Queria tanto acreditar nele! Aproximou-se até que seus dedos roçassem os dele, sem pensar.
“…não aguento mais olhar para ela e saber que não posso libertá-la. Mas se eu perder o controle agora, se eu for contra o meu pai, Maeve é quem vai pagar. E eu não suportaria isso.”
Maeve afastou a mão como se tivesse sido queimada pelos pensamentos de Asher. Os olhos dela estavam marejados. Os dele, também.
— Eu não sei se posso confiar em você — ela disse.
— Eu entendo — respondeu Asher. — Mas me dê ao menos uma chance.
Sem saída, ela assentiu.