Asher a observava, sentada com as pernas encolhidas junto ao tronco. A luz que entrava pela janela do avião realçava o vermelho em seus cabelos. Mesmo do outro lado do corredor, ele conseguia ver as lágrimas silenciosas escorrendo pelo seu rosto.
Ele não desejava nada disso, mas não teve escolha. O pai conseguira o endereço da bruxa e lhe informara que estava enviando uma equipe de segurança a Boston para levá-la até o senador Thorne ou a quem quer que pagasse mais.
Asher tentara dizer a si mesmo que não tinha nenhuma responsabilidade com Maeve, que a garota não era problema seu. Deixar que o pai a vendesse acabaria com seus problemas, mas não conseguia suportar a ideia de que ela fosse entregue a alguém que a trataria como o pai tratava Elena, ou até pior.
Por isso, entrara no jatinho do pai e voara até Boston para convencer a bruxa a vir com ele, mas as coisas não saíram como havia planejado. Ela era teimosa e ele não sabia como fazê-la entender que aquele era o melhor caminho para os dois.
E ela não era a única a se sacrificar, pensou. Ele aceitara trabalhar na campanha do senador Thorne por causa dela. Mas é claro que ela não queria ouvir nada disso agora. Maeve mal o olhava, mas quando o fazia, era com ódio.
— Estamos quase chegando — ele levantou a voz para tentar chamar a atenção dela, mas a garota continuou olhando para as nuvens lá fora. — Não vamos ficar muito tempo em Austin. Aceitei trabalhar na campanha do senador Thorne e vamos para Washington. Mas antes, meu pai quer te conhecer melhor.
Maeve se virou para encará-lo.
— Parece que ele te venceu então. Adeus jornalismo.
— Por enquanto.
Pelo menos até ter certeza de que nenhum mal vai te acontecer.
— E você espera o que de mim? Que te ajude com a campanha? Vai me apresentar como sua escrava para os seus colegas de trabalho?
Asher podia sentir a raiva dela transbordando nas palavras como um veneno.
— Você sabe muito bem que não. A maior parte das pessoas nem sabe que a sua gente existe.
— A minha gente? — Maeve indagou, a raiva se mesclando à indignação.
— Pelo amor de Deus, Maeve! Eu estou tentando ajudar!
— Não preciso de ajuda da sua gente, obrigada!
Ela voltou a olhar para a janela e o silêncio tomou conta do avião.
— Vou te apresentar como minha assistente, se você quer saber — disse Asher depois de alguns minutos. — Vamos trancar sua faculdade com a justificativa de que você vai ter essa oportunidade de trabalhar na campanha do senador, e depois veremos.
Maeve o encarou com as sobrancelhas levantadas. Asher estava tentando estabelecer uma trégua, mas ela estava desconfiada demais depois de ter que deixar Boston.
— Então, não terei que ser sua namorada?
— Claro que não! De onde você tirou isso?
— Como você vai justificar me carregar pra cima e pra baixo com você?
— Já disse, você vai ser minha assistente. Vai ser bom para o seu currículo inclusive. Pode me agradecer quando isso acabar.
Asher se virou na poltrona e decidiu se concentrar nas nuvens também. Agora quem estava indignado era ele. Não queria ser igual ao pai e jamais submeteria Maeve ou qualquer mulher a um relacionamento por obrigação. Mas ela tinha razão. As pessoas iriam perguntar. Bem, que perguntassem! Que falassem o que quisessem! Eles iriam passar por isso até que ele encontrasse outra saída, uma que envolvesse Maeve livre e o pai longe do seu pé.
O piloto começou a diminuir a altitude do jatinho, se preparando para pousar em Austin. Em breve seria a hora de Asher e Maeve enfrentarem Edgard Caldwell, mas tudo indicava que os dois não fariam isso como aliados, mas como inimigos.