Asher observava enquanto Elena servia o drinque de seu pai, apesar de terem empregados para isso. Era inacreditável. Elena estava há quase vinte anos na família e tinha habilidades incríveis, mas Edgard Caldwell tinha prazer em usar o vínculo de submissão para obrigá-la a servi-lo.
Pensando bem, agora que Asher fora confrontado com o presente de formatura do pai, começara a questionar todo o relacionamento de Edgard e Elena. Os dois se comportavam como um casal, mas será que Elena se envolveria com o magnata se não estivesse presa ao contrato?
— Quer outro drinque? — ela perguntou, tirando Asher de seu devaneio.
— Não, obrigado, mãe. Um é o suficiente.
A bruxa assentiu com a cabeça e se retirou para checar quando o jantar seria servido, deixando os dois em suas poltronas na sala de estar.
— Ela não é sua mãe — Edgard bufou.
Não, a mãe de Asher morrera de câncer quando ele era pequeno, mas fora Elena quem o criara. Só ela lhe demonstrara algum amor naquela casa.
— Por que me chamou aqui? — questionou o pai, querendo evitar verdades difíceis.
— Um pai não pode querer ver o filho?
Asher levantou as sobrancelhas, cético.
— Se vai começar com a história de que preciso trabalhar com você, acho bom nem começar. Estou satisfeito no jornal.
— O que você ganha não paga nem suas cuecas — Edgard retrucou. — Mas não vou te oferecer um emprego. Não pra trabalhar para mim, pelo menos. Quero que você aceite uma vaga na campanha do senador Thorne. Como assessor de imprensa. É sua área, você não pode negar.
— Eu quero escrever. E prefiro queimar no inferno a ajudar a reeleger Thorne.
Edgard tentou manter o tom de voz calmo, mas trincou a mandíbula.
— Thorne é um excelente padrinho político. Você daria valor a isso se tivesse algum juízo na cabeça.
— Lá vem você. Já te disse que não quero seguir uma carreira política!
— Ótimo, então não precisa da bruxa. Vou vendê-la ao Thorne. Provavelmente é só por causa dela que ele te ofereceu um emprego mesmo.
— Pelo amor de Deus, ela não é uma coisa pra você sair vendendo, pai!
— Ela é exatamente isso, e custou muito caro para você desperdiçá-la. Onde ela está, por sinal? Sei que ela não está no seu apartamento. Onde você a enfiou?
— Você agora está me espionando por acaso?
— Eu estou falando sério, Asher! — Edgard se levantou da poltrona com os punhos fechados, a raiva tomando seu rosto. — Você tem uma semana para aceitar o emprego e arrastar aquela bruxa com você, ou vou vendê-la!
Edgard sabia que ameaçar cortar o dinheiro do filho não surtiria efeito, mas Asher tinha o coração mole e já tinha deixado claro que não suportava a ideia de Thorne colocar as mãos na menina.
— O jantar está… — a voz de Elena morreu ao entrar na sala e se deparar com a fúria no rosto dos dois homens.
— Não vou ficar, mãe, mas obrigado — Asher respondeu, os olhos ainda colados no pai.
O rapaz se levantou e parou apenas para abraçar Elena, saindo sem se despedir de Edgard.
— Você vem? — ela perguntou ao mestre.
— O que ele está aprontando? — Elena arregalou os olhos ao ser interrogada. — Anda! Você acabou de tocá-lo. Onde está a bruxa?
Elena assinara seu contrato há vinte anos e conhecia bem demais a dor de tentar resistir aos comandos do mestre. Mesmo assim, sua primeira reação sempre fora proteger Asher quando Edgard resolvia atacar o garoto. E, todas as vezes, ela perdia. A dor começou a tomar sua cabeça, como uma faca penetrando o crânio, e os pulsos queimaram. Era inútil.
— Em Boston. Ele a deixou livre.
— Livre? — Edgard riu. — É o que vamos ver.