Vitória
Poucas horas antes de quase ser atropelada por um táxi, eu arrumar a bolsa. Dobrei as roupas que tinha e tentei enfiar tudo numa mochila. O zíper teimava em emperrar. Forcei, prendi o tecido no fecho, soltei um suspiro baixo e segurei o velho ursinho de pelúcia. Pensei em deixá-lo. Sério, pensei mesmo. Mas o meu bebê adorava aquele ursinho. Parte de mim também não seria capaz de largar o último brinquedo que meu pai me deu antes de me abandonar para construir outra família. Beijei de leve o focinho puído do brinquedo antes de deixá-lo junto ao Théo.
Esperei o momento exato. Quando Dona Mathilde saísse para a consulta médica, eu sairia sem ter que lidar com olhares inquisitivos, sem aquela compaixão que só me fazia sentir ainda menor do que já me sentia.
A maçaneta girou com um estalo seco, a porta se abriu antes de Paul aparecer.
O suor ainda escorria pela lateral de seu rosto, a camiseta cinza escura colada ao peito largo, o moletom pendendo displicente na cintura. Os cabelos