Mundo ficciónIniciar sesiónCapítulo 5
Lauren Holland Os meses se passaram rápido demais, quase como se a vida tivesse apertado um botão de avanço sem me perguntar se eu estava preparada. Mesmo sozinha, ou melhor, acompanhada das melhores tias do mundo, Carolaine e Beatrice, nada foi fácil. Tinha dias que eu mal conseguia levantar da cama, outros em que o medo tomava conta antes mesmo de eu abrir os olhos. Mas… algo crescia dentro de mim a cada ultrassom, a cada consulta, a cada batidinha de coração que eu ouvia. Era um amor tão intenso, tão forte, tão arrebatador, que eu nunca tinha sentido nada parecido. E esse amor me manteve de pé quando tudo o resto parecia querer me derrubar. O pouco vínculo que eu ainda tinha com minha mãe acabou de vez. Ela deixou claro, sem dó, que se eu não tirasse os bebês, era para eu esquecer que tinha mãe. E, sinceramente, não doeu tanto quanto ela achou que doeria. Talvez porque, no fundo, eu sempre soube que ela nunca realmente exerceu esse papel. Completei oito meses. Um marco enorme para uma gravidez de gêmeos. E naquele dia, eu estava terminando o quarto deles, ou melhor, o canto deles dentro do meu quarto. Pequeno, simples, mas cheio de amor, de expectativas, de sonhos que eu jamais imaginei ter, pelo menos não assim... Dividir o apartamento com Beatrice sempre deixou tudo mais leve. Os custos, a convivência, o apoio… e agora, tudo o que sobrava de dinheiro era para eles. Meus dois milagres. Liz e Liam. Quando coloquei a guirlanda com o nome deles na parede, senti um orgulho estranho, um calor bom no peito… mas esse calor foi rapidamente substituído por outro. Uma sensação quente e súbita escorrendo pelas minhas pernas. Droga. Não agora. Não assim, eu não estou pronta. — Bea… BEA! — O que foi, mulher… Meu Deus! — ela arregalou os olhos para o chão. — Eu vou chamar um táxi! Bea saiu correndo enquanto eu pegava as malas já prontas. Mas antes mesmo de ficar de pé por completo, a dor veio. Uma dor forte demais, aguda demais, cortante demais. E quando olhei para baixo… sangue. Muito sangue. Meu estômago revirou. Minha visão escureceu nas bordas. Eu estudava enfermagem, eu trabalhava em um hospital, eu sabia. Tinha algo muito, muito errado. — Bea… sangue. Meu Deus… sangue! Meu coração começou a bater tão rápido que parecia que ia rasgar meu peito de dentro pra fora. Minha cabeça latejava, minhas mãos tremiam, e eu não conseguia controlar o pânico que me tomou por inteira. A dor aumentava e o sangue parecia cada vez mais vermelho, mais vivo, mais assustador. Beatrice olhou para mim, completamente pálida, e desistiu do táxi no mesmo segundo. Chamou uma ambulância com a voz trêmula, quase sem ar. Graças a Deus ela chegou rápido. A dor era demais. Dolorosa demais. Assustadora demais. O caminho até o hospital pareceu interminável. O som da sirene ecoava dentro da minha cabeça como se estivesse marcando a contagem regressiva para algo que eu não queria enfrentar. Assim que as portas duplas da sala de parto se abriram, tudo virou um borrão. Vozes. Luzes. Correria. Mãos me virando, me segurando, me pressionando. Depois… anestesia. Instantes de silêncio. Escuridão. E um choro distante. Nessa sequência exata. E então, tudo se apagou de vez. Não sei quanto tempo depois eu acordei. Só percebi que estava na UTI quando vi os fios, as máquinas, o bip contínuo ao meu lado. Mas nada daquilo importava. Nada, porque eu só queria ver meus bebês. Olhei ao redor até achar a campainha e apertei com força, o coração batendo forte na garganta. Uma enfermeira veio rapidamente. — Como está se sentindo? — ela perguntou, enquanto media minha pressão. — Eu tô bem. Onde estão meus filhos? Eu quero ver eles. Eles precisaram de incubadora? É por isso que não estão aqui? Ela me olhou. Mas não respondeu. Foi um olhar estranho, pesado, como se ela estivesse buscando coragem dentro de mim, ou talvez dentro dela, antes de falar. — Fala, pelo amor de Deus! — minha voz saiu mais alta do que eu pretendia. Ela respirou fundo. E isso me fez gelar. — Eu não posso…o médico quer falar com você primeiro. Eu vou chamar ele. Ela saiu rápido, quase correndo. Meu peito se apertou. Meu estômago virou. O ar parecia faltar dentro dos meus pulmões. O que podia ter acontecido para meus filhos não estarem comigo? Logo o doutor Brad entrou no quarto segurando uma ficha, olhando tão fixamente, que parecia não querer olhar pra mim. — Lauren, que bom que acordou. Está sentindo dor? Você ficou inconsciente por três dias. Três dias. TRÊS dias longe dos meus filhos, recém nascidos meus Deus. — Eu tô bem. Eu tô ótima. Eu só quero ver eles, por favor, Brad… Ele respirou fundo. E quando ele fechou os olhos por um segundo, eu soube. Eu soube, eu tive certeza que algo estava errado. — Lauren… eu preciso que você seja forte. Meu corpo inteiro gelou. Minhas mãos começaram a tremer. E qualquer força que eu achava que tinha sumiu. — Brad… fala. Pelo amor de Deus. — Os gêmeos nasceram prematuros, o que é comum em gestações gemelares, e você já sabe disso. A menina nasceu com 2.100kg, o menino com 2.300kg, mas… O “mas” dele cortou o ar. Meu coração parou. Minha respiração parou. Minha alma parou. — O menino teve uma parada cardiorrespiratória assim que nasceu… e… nós não conseguimos salvar ele. Meu mundo não só caiu. Ele se destruiu. Tudo que eu lutei durante meses. Todas as noites em que conversei com eles dentro da barriga. Todos os planos. Todas as forças que juntei para ser mãe de dois, e solo… Acabaram. Ali. Naquela frase. Naquele instante que dividiu minha vida. A dor foi tão grande que eu não consegui respirar. Não consegui chorar. Não consegui me mover. Eu só conseguia pensar: Como eu vou viver sem ele? E essa pergunta ficou ecoando dentro de mim como um grito que não tinha fim. Um grito que eu sabia… Que me vai me acompanhar para sempre.






