Mundo ficciónIniciar sesiónCapítulo 4
Lauren Holland Busquei por alguma ideia, ou pelo menos um nome, na recepção do hotel, mas disseram que ele havia pago com cartão corporativo e não tinha registrado identificação nenhuma. A forma como falaram me soou falsa, ensaiada, mas… o que eu poderia fazer? Exigir? Forçar alguém a me dizer algo? Eu não tinha esse poder. Saí dali com um nó na garganta. Um nó quente, pesado, que parecia prender o ar nos meus pulmões. Eu queria sentir raiva dele por ter deixado aquele cheque, queria odiar a sensação de ser reduzida a algo que eu não era… mas não conseguia. A verdade, por mais que doesse admitir até pra mim mesma, é que eu queria encontrar ele novamente. Saber seu nome. Qualquer coisa. Uma pista. Um detalhe. Uma chance. Mas eu não tinha nada. Absolutamente nada. Era como se aquela noite tivesse sido um sonho, um sonho intenso, real demais, que agora se desfazia nas minhas mãos. Os dias que seguiram foram um caos silencioso. Algumas noites, eu sonhei com ele. Com sua voz baixa, com aquele olhar quente, com a forma como seus dedos tocaram minha pele como se me conhecessem há anos e não há horas. Isso só me fez repetir, como um mantra desesperado, que tinha sido apenas um sonho. Nada mais. Comecei a faculdade. Continuei no hospital. Me forcei a tratar aquela noite como algo que nunca existiu. Mas… não era simples assim. Naquela manhã específica, eu estava atrasada. Meu corpo parecia mais pesado que o normal, um peso estranho, desconfortável. Eu andava enjoada há dias, mas atribuía tudo à rotina puxada, faculdade, plantões, trabalho, correria. Nada mais. Entrei no hospital às pressas, quase correndo pelos corredores brancos. Hoje eu ficaria responsável pela limpeza da área neonatal. Meu lugar preferido. O espaço onde meu coração sempre batia mais forte. Onde o sonho que eu guardo em segredo, ser mãe, ter minha própria família, minha casa, ganhava cor. Corri pelos corredores, tentando não chamar atenção. Eu não podia perder esse emprego. De jeito nenhum. Na troca de roupa, vesti o uniforme depressa, prendi o cabelo, coloquei a touca, luvas, máscara… todo o ritual que me permitia entrar na UTI Neonatal sem colocar nenhum bebê em risco. Passei com o carrinho, apressada, mas quando cheguei na Neo… vi um homem de costas. Alto. Firme. Postura reta, elegante. Meu coração deu um salto imediato. O jeito como ele apoiava as mãos no balcão, a forma como seu corpo ocupava o espaço, a energia ao redor dele… Por um segundo, eu tive certeza absoluta. Era ele. Mas não podia ser. Afastei esse pensamento tão rápido quanto ele veio. Foco, Lauren. Faculdade. Bebês. Trabalho. Sua vida não tem espaço pra ilusões. E assim, respirei fundo e entrei na Neo. Cerca de dois meses se passaram. Dois meses de correria exaustiva, faculdade à noite, plantões longos, refeições apressadas. Eu mal tinha tempo de respirar. Foi então que tudo explodiu de vez. A tontura veio como um golpe. Forte. Seco. Avassalador. Senti minhas pernas falharem. Minha visão escureceu pelos cantos. Vi Bea se aproximando, preocupada, mas antes que conseguisse pedir ajuda… Tudo apagou. Quando meus sentidos começaram a voltar, eu ouvi vozes. Uma delas era a de Bea, acelerada, nervosa, quase brigando. A outra, masculina, calma e profissional. O doutor Brad. Pisquei algumas vezes, tentando focar. O teto do hospital parecia girar devagar, como se estivesse me testando. — Eu tô aqui… — murmurei, com a garganta seca. — O que houve? Beatrice virou pra mim tão rápido que quase me deu medo. — Me diz que você não sabia! Lauren, me diz que você não sabia disso e por isso não me contou! Porque se você sabia e não me avisou, eu juro que eu nunca mais olho na sua cara! Eu a encarei, confusa, tentando puxar a memória como quem tenta pegar fumaça com as mãos. — Sabia o quê? Que eu não como direito e passei mal? Sim, isso eu sei. Mas eu já tô bem, já vou voltar pro trabalho. Não quero ocupar leito… — Não. Nem pensa em levantar. — A voz firme do doutor Brad cortou o ar enquanto ele me segurava pelo ombro. Meu coração acelerou. — Meu Deus… o que foi? Por quê? Ele inspirou fundo antes de falar. — Lauren, você está grávida. E sua pressão estava muito baixa. Se não está se alimentando bem, a situação é ainda mais séria. O chão desapareceu. Minha respiração sumiu. Meu corpo congelou. Minha mente simplesmente… travou. Eu… o quê? — Não… não — balancei a cabeça, sentindo o pânico subir queimando. — Eu não posso estar grávida. É impossível. A última vez que… As lembranças da noite com ele golpearam minha mente. Eu podia jurar que usamos preservativo. Jurar. Mas então a imagem da banheira veio. Quente. Intensa. Descontrolada. Merda. — Não… não pode ser — sussurrei, a garganta fechando. — Não agora… Eu queria gritar. Gritar até arrancar esse pânico do peito. Eu não podia ter um filho. Como criar? Como sustentar? E ainda sem pai? Sem sequer um nome? Meu mundo inteiro girou. Eu fiquei imóvel, presa dentro do próprio corpo, vendo Bea e Brad me encararem como se esperassem que eu fosse explodir. — Lauren — Brad disse com calma — vamos fazer um ultrassom. Vai nos ajudar a entender melhor o que está acontecendo. Eu apenas assenti, porque não consegui formar palavras. Seguimos até outra sala. Minhas pernas tremiam. Minha mente corria descontrolada. Plano de saúde. Contrato de trabalho. Faculdade. Quem cuidaria do bebê enquanto eu estudasse ou trabalhasse? Como eu pagaria tudo? Onde eu moraria? O que eu faria? Meu peito parecia pequeno demais para a quantidade de medo que ele carregava. — Lauren! — Oi?! Beatrice me chamou, tirando-me dos pensamentos sufocantes. E então o som preencheu a sala. Tum-tum… tum-tum… tum-tum… O som do coração do meu bebê. Meu bebê. O ar saiu dos meus pulmões como um soluço. Uma lágrima escorreu quente pelo meu rosto. A realidade me atingiu como um impacto completo. Eu estava grávida. Totalmente, definitivamente grávida. E antes que eu pudesse processar, antes que meu coração se ajustasse, Brad mexeu o transdutor novamente. — Aqui… — ele disse, apontando na tela. Outro batimento. Outro espaço. Outro milagre. Dois. Eu senti a alma sair do corpo e voltar com violência. Gêmeos. — Lauren… — Bea sussurrou com a voz embargada — amiga… são dois. São dois bebês. O choro saiu de mim como um rompimento. Forte. Cru. Irparável. — O que eu vou fazer agora? — soluço. Meu mundo estava desmoronando...






